É sempre difícil falar do que representa ser médico. Sabemos que pelo seu conhecimento, dedicação e talento, ele se transforma em uma importante esperança para restituir a saúde dos pacientes. Escolher apenas um dia para reverenciar o trabalho médico é muito pouco, afinal, para esse profissional, todo dia é dia de salvar vidas ou de amenizar o sofrimento das pessoas. A seguir, prestamos uma homenagem a esses profissionais da medicina – obstetras, pediatras, cardiologistas, oncologistas ou clínicos gerais, não importa a especialidade ? mostrando o seu lado humanitário, seus anseios, suas preocupações. César, Raquele, Ricardo e Ruth, com certeza, representam uma categoria que tem no aspecto social da sua profissão a melhor recompensa, onde podem demonstrar a paixão que têm pela vida humana.
Há quanto tempo exerce a medicina e o que ela lhe proporcionou neste período?
Ruth Graf, MD e PhD em Cirurgia Plástica: Me formei em 1976, pela UFPR, e iniciei as minhas atividades na especialidade em 1982. Nesses quase 30 anos a medicina me proporcionou um sem-número de alegrias e algumas tristezas também. As boas se referem a maravilhosa família que constitui e aos meus pacientes, lhes proporcionando um bem-estar físico e psicológico que muitas vezes muda de forma espetacular a sua vida. As poucas tristezas se devem às falsas expectativas que alguns pacientes têm em relação à cirurgia plástica.
César Alfredo Pusch Kubiak, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica ? Regional Paraná: Sou médico há 30 anos. Sempre atuei em todos os segmentos (consultório, hospitais e UTI). Durante todo esse período tive o privilégio de atender três a quatro gerações de pacientes, convivendo no seio de várias famílias, não só como médico, mas como amigo e conselheiro nos momentos difíceis.
Raquele Rotta Burkiewicz, corregedora do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRMPR): Sou médica formada em 1971. Me especializei em ginecologia e obstetrícia. Fiz uma ótima escolha em buscar na medicina a minha realização profissional. A profissão me trouxe muita alegria e felicidade. Agora, atuando no CRMPR consigo ter uma visão global de todas as características da função médica. Vejo ainda que os médicos podem evoluir sempre, melhorando sua atuação tanto no aspecto pessoal quanto profissional e social.
Por que escolheu essa especialidade?
Ruth Graf: Descobri a minha aptidão para a especialidade de cirurgia plástica ainda como estudante de medicina, em plantões de pronto-socorro de hospitais de Curitiba. Apesar estar envolvida anteriormente com a cirurgia vascular, foi nesses plantões que compreendi a extensão da especialidade que abracei, a cirurgia plástica.
César Kubiak: A minha especialidade foi escolhida porque tive a sorte de ter um grande professor de clínica (Lysandro Santos Lima) que foi um bom modelo e um bom exemplo para ser seguido como paradigma da boa medicina – humanística e resolutiva.
Raquele Burkiewicz: Desde o tempo de estudante, o trato com a mulher e a reprodução se apresenta como alguma coisa especial para mim. A mulher é um ser especial em suas particularidades. Na sua força, nos aspectos psicológicos, no corpo e suas funções. É um conjunto de harmonia que precisava ser desvendado. O ato de conceber, gerar e parir é sempre um mistério, não importa quanto se estuda isso. Além de ser emocionante, cada nascimento é uma situação completamente inusitada.
Como consegue conciliar a vida pessoal com a vida profissional?
Ruth Graf: Este é um desafio de todo profissional médico. Para a mulher, essa questão se torna ainda mais difícil, principalmente, em função da maternidade. Para crescer profissionalmente e, ao mesmo tempo, criar três filhos foi fundamental a participação do meu marido, também médico, que dividiu comigo todas as tarefas desde que nos conhecemos. Desta forma, nos ajudamos mutuamente e a conciliação da vida pessoal/profissional ficou mais fácil de ser enfrentada.
César Kubiak: Conciliar a vida profissional com a familiar é muito difícil e exige sacrifícios que são compensados sobejamente pela oportunidade de ser útil ao próximo. Como médico, deixamos de participar ao longo dos anos de muitos momentos sociais e familiares importantes, colocando a medicina sempre em primeiro lugar.
Raquele Burkiewicz: Por ser uma especialidade que apresenta emergências, por muitas vezes tive que optar pelo trabalho e deixar o lazer ou a vida em família para depois. Conciliar vida pessoal com trabalho sendo obstetra é complicado. Meu marido foi pai e mãe muitas vezes. Isso facilitou muito. Penso que ser uma mulher obstetra sem um bom companheiro para lhe auxiliar é difícil, ou, pelos menos, ela precisa de uma boa equipe de trabalho domiciliar.
Como avalia o papel do médico atualmente?
Ruth Graf: Os conhecimentos científicos praticamente dobram em alguns anos. Dessa forma, a permanente atualização é um desafio. Por outro lado, o mais importante na medicina é a relação médico-paciente, que não depende de qualquer avanço científico, mas sim da simples condição de o médico ouvir o seu paciente, estabelecer com ele uma relação de confiança.
César Kubiak: Vivemos angustiados com as incertezas do saber, do ter e do poder. Convivemos com o estresse, má remuneração, jornadas desumanas de trabalho e, via de regra, somos mal compreendidos pela população, que não separa o ofício do médico das dificuldades estruturais da assistência médica do país, invariavelmente, sucateadas e mal dimensionadas, além de estarem sempre sujeitas à contaminação pela corrupção que grassa no país.
Raquele Burkiewicz: O médico passa por uma fase difícil. De algum tempo para cá, em função da descoberta do exercício da cidadania pelas pessoas, as cobranças ao médico têm sido muito maiores. Ao mesmo tempo, é obrigado a trabalhar sem as mínimas condições, tendo que atender um número muito grande de pacientes, sem tempo para uma boa anamnese e exame clínico. O médico é sempre o mais cobrado por estar na linha final de atendimento. Está cara a cara com o paciente e este descarrega no profissional toda sua carga emocional.
Qual é o maior desafio na sua área de atuação?
Ruth Graf: O maior desafio da minha especialidade é a permanente atualização nas diversas áreas que evoluem de forma muito rápida. Nesse caso, precisamos estar sempre muito abertos para discutir novas técnicas cirúrgicas, que proporcionem ao paciente o menor desconforto possível, com os melhores resultados.
César Kubiak: O maior desafio é a atualização permanente, por meio de congressos, jornadas, encontros científicos, que permitem intercâmbio de experiências, vivências e saber.
Raquele Burkiewicz: Fazer sempre bem feito. Obstetrícia é uma especialidade de risco, trabalhamos sempre no "fio da navalha". A qualquer momento, a rotina de um trabalho de parto pode mudar e o que todos esperam que seja um mundo de felicidade pode acabar se transformando em tristeza. Muitos acham que, pelo avanço da tecnologia, não devesse mais existir morte, mesmo que natural. Acredito que o mais difícil para o médico é realmente a explicação de uma morte, até porque ela nem sempre pode ser explicada.
Qual sua maior recompensa na profissão?
Ruth Graf: Ver meus pacientes satisfeitos com as minhas cirurgias. A cirurgia plástica é capaz de operar verdadeiros milagres, muitas vezes com procedimentos simples. Independente da parte científica, da publicação de trabalhos e capítulos de livros é a satisfação de nossos pacientes, tanto no hospital público quanto na clínica privada, que nos dá maior satisfação.
César Kubiak: As recompensas são muitas, vale que se dedique a vida (frase do professor Lysandro), pois é um privilégio e um dom superior, se dedicar às dores do próximo, como forma de se aproximar da face do Criador e poder ter no alívio do sofrimento o reconhecimento da sua vocação e as bênçãos de quem se cuida.
Raquele Burkiewicz: Não existe nada mais gratificante para o médico do que a certeza do dever bem cumprido. Para o obstetra, nada é mais gratificante do que ver mãe e filho saudáveis, mais ainda quando a sua interferência fez com que tudo terminasse bem. Recompensa é olhar para trás e ver que a gente ajudou o mundo a ser um pouco melhor.
O que faz nos momentos de lazer?
Ruth Graf: Todo profissional precisa ter seu tempo para relaxar. Caso contrário, se torna um enfermo como nossos pacientes estressados. Nos meus momentos de lazer, pratico esportes (ciclismo e natação) e exercito a jardinagem. O importante é cada um descobrir em qual atividade recreativa se sente mais confortável para relaxar.
César Kubiak: Nos momentos de lazer, quando posso, sou adepto da pescaria, que me deixa relaxado e permite momentos de introspecção profunda e revigorante. Quando não, estudo, o que me permite saciar a ambição intelectual, pois o médico, por interagir com outras pessoas, com focos diferentes, necessita de cultura e referências para melhor desempenhar o seu papel.
Raquele Burkiewicz: Os momentos de lazer são diversificados. Praia quando há mais tempo, leitura, passeios, viagens. O que o tempo e o trabalho permitirem.