Desequilíbrio emocional atinge 6,8 milhões de jovens

O equilíbrio emocional dos adolescentes não recebe a atenção devida da sociedade. A afirmação é da psiquiatra infantil Bacy Fleitlich Bilyk, especialista da Universidade de São Paulo (USP) que lançou juntamente com outros médicos o livro A Saúde Mental do Jovem Brasileiro. “Essa é uma área esquecida do adolescente do Brasil”, diz.

Um estudo coordenado por ela estima que existam 6,8 milhões de pessoas nessa faixa etária no Brasil com problemas de saúde mental. Entre os transtornos mais comuns, nas meninas, estão mau humor, depressão e ansiedade. Nos garotos, destacam-se os desvios comportamentais, hiperatividade e atitudes desafiadoras.

Além dos problemas com drogas, Bacy observa que os adolescentes têm quatro grupos diferentes de dificuldades: emocionais, de concentração, comportamentais e de integração social. A última está quase sempre relacionada com as outras categorias, pois o adolescente se desloca do grupo de convivência quando está passando por empecilhos. “Isso gera conseqüências graves no futuro. Se os problemas são detectados cedo e tratados o mais rápido possível, evita-se contratempos escolares e de exclusão social, que podem levar à violência e ao crime”, comenta. Para ela, os problemas com os adolescentes são normais, desde que sejam momentâneos.

Ela classifica que a saúde mental não é tratada de forma adequada pela política pública de saúde. “Não é uma questão dos pais, mas um problema que atinge todos de forma geral. A saúde física recebe uma cobertura maior e imediata por ser evidente. Já a parte emocional só tem resposta quando a situação está mais séria, como quando o aluno repete de ano”, conta a psiquiatra.

Bacy revela que há dois tipos de prevenção. Na primária, quando o problema ainda não aconteceu, é importante investir em palestras e conversas sobre drogas, por exemplo, nas escolas, organizações não governamentais (ONGs) ou em postos de saúde. Na prevenção secundária, realizada quando o problema já existe, é necessária a formação de médicos e professores que tenham a possibilidade de identificar o que acontece com os adolescentes. “Nas principais capitais, não há estrutura para atender aos jovens com dificuldades”, avalia a psiquiatra.

Depressão

A psicóloga Cristiane Sinhoca Rasera, de Curitiba, explica que a depressão em adolescentes acontece por vários motivos. Entre eles os padrões de aparência aplicados na sociedade, separação dos pais, morte de familiares, início dos relacionamentos amorosos, desempenho escolar, aumento da cobrança de responsabilidades e a rotina estressante. “O estilo de vida atual é um dos fatores. Não que a depressão não acontecesse em épocas passadas, mas hoje em dia a freqüência está muito alta”, relata. Os sintomas de quem está com depressão são dores de cabeça, dificuldade de concentração, cansaço, excesso ou perda do sono e de apetite, e diminuição da auto-estima.

“Os pais precisam estar atentos ao comportamento dos filhos: se estão muito isolados, se perderam o interesse por atividades que gostavam ou choram sem motivo”, recomenda Cristiane. Para ela, a atenção deve ser redobrada, porque a depressão pode levar o adolescente às drogas ou ao suicídio. “As duas partes devem manter um canal de diálogo aberto. Os pais devem analisar o contexto em que vive o adolescente. Assim, identificam o problema em seu estágio inicial e conseguem resolvê-lo logo.” Em casos mais graves e avançados, os jovens podem ser encaminhados para psicólogos ou psiquiatras.

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