Desentupimento de artérias ficou menos traumático

Segundo dados da Academia Brasileira de Neurologia, o AVC representa a primeira causa de morte entre os brasileiros. Foram mais de 90 mil óbitos em 2004, superando inclusive o infarto agudo do miocárdio, que vitimou perto de 65 mil pessoas. A cada ano, das 15 milhões de pessoas que sofrem um AVC no mundo, cinco milhões morrem e outras cinco milhões ficam com seqüelas irreversíveis.

Mais de 60% dos casos de AVC são conseqüência do entupimento das artérias carótidas (dois vasos grossos localizados no pescoço que levam o sangue do coração para o cérebro e toda a cabeça) por placas de gordura. O tratamento mais comum para a desobstrução das carótidas ainda é o procedimento cirúrgico, que dura, em média, 3 a 4 horas.

No recente congresso da Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica, que aconteceu em Curitiba, Paulo César Evaristo de Souza, chefe do setor de neurorradiologia intervencionista do Hospital Vita Batel e médico do Hospital de Clínicas da UFPR, apresentou um procedimento menos agressivo, que dura aproximadamente 30 minutos e oferece menor risco de entupimento ou rompimento das artérias durante e após o procedimento, conhecido por TPC (técnica de proteção cerebral).

Menos complicações

O neurorradiologista explica que, no procedimento, o paciente recebe apenas uma anestesia local na virilha, onde é introduzido um cateter (tubo do diâmetro de um fio de náilon), com um balão na extremidade. Quando o cateter chega, por meio de orientação de imagens digitais, na artéria afetada, o balão é inflado, dilatando o ponto estreitado, levando a um aumento do fluxo sangüíneo.

Em 2004, mais de 90 mil brasileiros morreram em decorrência de acidentes vasculares cerebrais.

Com a artéria dilatada e o sangue fluindo normalmente, o cateter posiciona e libera um stent (espécie de prótese metálica que funciona como um anel interno, utilizado para que a artéria não volte a se estreitar). Depois, o balão é desinflado e o cateter é retirado do organismo, sem necessidade de corte algum. ?Isso faz com que o paciente fique menos tempo hospitalizado, resultando em redução de despesas e menor risco de complicações?, explica Paulo César Souza.

A TPC pode ser realizada em lesões de difícil acesso e em pacientes de alto risco cirúrgico que, há dez anos, não tinham nenhuma outra solução para o problema. A técnica permite uma monitorização neurológica contínua e uma rápida detecção de complicações, que podem ser imediatamente reparadas. ?Isso tudo com o paciente acordado?, completa o médico.

Aneurisma cerebral: uma corrida contra o tempo

Outra grande causa do AVC é o aneurisma cerebral ? uma doença que afeta cerca de 6% da população mundial, não tem sintomas, nem formas de prevenção. De acordo com o chefe de neurorradiologia intervencionista do Hospital Vita Curitiba, Gelson Koppe, a principal forma de prevenção ainda é o diagnóstico precoce. ?A maior causa do aneurisma é genética, portanto, quem possui casos na família deve fazer um acompanhamento diagnóstico?, adverte.

O aneurisma cerebral se forma por uma fragilidade nas paredes de uma artéria. A região fica dilatada e cria uma espécie de bolha. Ao passar por ali, o sangue faz uma pressão sobre a parede que está frágil. Com isso, aumenta o risco de que a parede da artéria se rompa e provoque um sangramento dentro do crânio. ?Esse sangramento ocorre em 80% dos casos. Desse total, cerca de um terço dos pacientes acaba morrendo?, alerta Koppe.

Dor de cabeça forte e repentina, enjôos, vômitos, perda de consciência, formigamento e desmaios são alguns dos sinais mais freqüentes do rompimento de um aneurisma. Devido à gravidade da hemorragia cerebral provocada pela ruptura do aneurisma, o tratamento deve ser realizado imediatamente. ?Os casos de maior sucesso são os que conseguimos atender em até três horas após o rompimento da artéria?, afirma o neurorradiologista.

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