É raro o dia em que os meios de comunicação, particularmente da TV, não comentam fatos e acontecimentos relacionados com a assistência médica. Ora é a falta de vaga para internamentos, especialmente nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva); ou atendimento apressado, devido à grande afluência de pacientes. Recentemente, durante vários dias, era o assunto mais batido: falta de vagas nas UTIs e mesmo falta de UTIs, precariedade no atendimento aos doentes de risco, em estado grave.
É evidente que as instalações nas UTIs, oferecem meios de socorro adequados aos pacientes com patologias graves e complicadas, e propiciam aos médicos e aos demais profissionais da saúde, recursos verdadeiramente heróicos para o tratamento.
Lamentavelmente, porém, a insuficiência de recursos, de diversas ordens, face às limitações financeiras do País, não permite que todas as regiões sejam contempladas com todos os meios necessários a uma completa assistência.
Eis a razão primeira da falta de UTIs, até mesmo em cidades de bom padrão social. A par da deficiência de recursos financeiros, as UTIs só podem funcionar com eficácia, se contarem com profissionais competente e adequadamente preparados.
Por maior que seja a formação profissional do médico, portanto, altamente competente, a sua ação é limitada. Jamais poderá, sozinho, arcar com o funcionamento de uma UTI.
A própria denominação Unidade de Terapia Intensiva, traduz assistência assídua, permanente. Daí a imperiosa necessidade de equipe preparada e treinada para agir com eficiência, em tempo hábil. A eficácia de uma UTI, além de equipes de profissionais da medicina e da enfermagem, competentes, dedicados e vigilantes, depende de equipamentos precisos, em condições de suprir as deficiências humanas. Mas esses equipamentos que asseguram o funcionamento regular dos diversos órgãos dos pacientes, só têm valor se manobrados por profissionais (médicos e enfermeiros) capazes.
Apenas uma referência de ordem prática noticiada constantemente pelos meios de comunicação: “Respiração assistida”. Essa expressão traduz uma série de medidas que envolvem a tecnologia dos equipamentos e a eficiente atuação dos profissionais médicos e de enfermagem, para que o paciente grave possa respirar e continuar vivo.
E quando não se dispõe de UTI?
Em nosso País a disponibilidade de UTIs vem de meados do século XX. A partir de então e mesmo por alguns anos depois de iniciadas, somente os centros mais desenvolvidos podiam contar com o apoio das UTIs.
Quando não se dispunha de tantos recursos tecnológicos, a recuperação dos pacientes dependia da ação competente, da dedicação e da capacidade criativa dos médicos, auxiliado por colegas e por profissionais de enfermagem.
Há que ressaltar a grande diferença entre a época em que não havia recursos e o momento presente.
Sabedores da existência de meios capazes para a superação de complicações, os pacientes, ou seus familiares, clamam pela utilização desses meios. Daí as constantes denúncias e manifestações.
É indispensável manter o paciente, ou seus responsáveis, a par das dificuldades, seja de instalações, seja de equipamentos. Quando faltam recursos, devem ser redobradas as atenções como compensação. Não espere, porém contar o médico sempre com a compreensão e o reconhecimento, por mais extenuante que seja o atendimento e dedicação empenhados.
Contudo, quando acontece a incompreensão e o não -reconhecimento, resta ao médico o conforto do dever cumprido, pelo empenho de todo o seu conhecimento dispensado ao paciente mediante tratamento digno, sob todos os aspectos, a começar pelo respeito como semelhante ser humano.
O médico deve ter sempre presente que à Medicina compete promover o bem-estar do ser humano. Por isso, o doente deve ser o centro das atenções médicas.
Numa entrevista relativamente recente à revista Veja, edição de 12/2/03, o médico americano Geoffrey Kurland, tece expressivo comentário sobre o drama que vivenciou, acometido que fora vítima de leucemia. Sua primeira impressão foi de que “acostumado a tratar de crianças com doenças terminais, sentiu o seu mundo desabar”.
Embora admitindo que sempre foi um bom profissional, confessa que “muita coisa mudou”. E afirma: “Hoje tento reduzir o tempo que as pessoas ficam na sala de espera. Senti na pele o que é ficar aguardando para ser atendido”.
De fato, quem procura atendimento médico, vai com a convicção de que o seu problema, o seu sofrimento, é o maior do mundo. Com expressiva freqüência, no entanto, é caso banal. Por isso, seja o caso do paciente deveras importante, ou insignificante, o desempenho do médico deve se encaminhar sempre para a tranqüilização e o bem-estar do paciente.
Ary de Christan é membro fundador da Academia Paranaense de Medicina.