Depressão pós-parto ou puerperal, é uma alteração emocional na mulher que acabou de ter um filho que a prejudica no cuidado do bebê e dela mesmo pela falta de energia, apatia, tristeza forte, angústia, desesperança, sensação de inutilidade, etc. Influências hormonais participam deste sofrimento assim como causas psicológicas. Veremos algumas possíveis causas psicológicas disto. Alguns dados da história foram mudados para impedir a identificação da pessoa, mas a essência do sofrimento emocional é baseada numa história real.
Jovem mulher, 30 anos de idade, casada, de origem hispana, mudou-se para os Estados Unidos onde teve o terceiro filho. Por ter depressão pós-parto teve dúvidas se o uso de medicação anti-depresssiva afetaria o bebê pela amamentação. Sentia desânimo, sem energia para realizar as tarefas de casa, ondas de tristeza, crises de chôro sem causa aparente. Também queixava-se de dificuldade de expressar afeto pelos filhos, agindo mais racionalmente, de maneira fria, embora goste das crianças.
Anos atrás teve depressão pela primeira vez. Tentou reagir sozinha, diziam que poderia ser anemia, fez muita força para tentar realizar as tarefas de casa e cuidar dos filhos, mas ficou muito limitada no dia a dia. Após uma crise mais forte de tristeza e desesperança, foi levada a um médico que prescreveu fluoxetina, um anti-depressivo. Usou-a por um tempo, melhorou alguma coisa, mas não muito. Ainda voltavam as crises de chôro vez ou outra. Ao engravidar a terceira vez o médico recomendou parar com a fluoxetina porque poderia afetar o feto. Levou a gravidez até o final com sacrifício, sentindo-me mal e desanimada.
Ela veio de uma família com pai alcoólico e mãe um tanto dependente. Durante sua infância quando o pai chegava em casa alcoolizado e agressivo, ela protegia os irmãos e ficava assustada num canto da casa. Nunca dizia para a mãe como se sentia, pelo contrário, a ouvia desabafar pelo sofrimento com o marido alcoólico. Ou seja, esta mulher havia adotado um papel de salvadora da família desde pequena, se tornando precocemente “adulta”, pois sempre abandonava sua posição de filha para consolar a mãe assustada e cuidar dos irmãos.
Que fez ela com a necessidade que sentia de proteção, colo, aconchego, ânimo, quando havia brigas e agressões físicas em casa em função do pai alcoólico? Guardava tudo dentro de si, ía para um canto e ficava ali quieta. Nunca pediu colo para a mãe, nunca desabafou com ela sobre seus medos do pai agressivo. Nem sua mãe oferecia este colo, muito menos o pai doente pelo beber excessivo e descontrolado.
Na vida atual estas crises de choro, a tristeza, o desânimo, parecem consequências de todos aqueles anos de sofrimento na família de origem e porque ainda não encontrou uma forma de desabafar seus medos e angústias. É como se aquela criança do passado estivesse voltando e pedindo colo e se sentindo incapaz de ser adulta e, por exemplo, levar uma gravidez até o fim e cuidar do bebê. Ela mantém a tendência de guardar tudo dentro de si e acabou casando com um bom marido, não alcoólico, mas fechado que não “dá colo” quando ela precisa desabafar.
Que mensagens parece haver nesta história? Ao esperar um bebê e ter que lidar com ele após nascer, pode mexer no lado criança dela, o que reacende a dor emocional que sentia quando era menina desamparada afetivamente, gerando tristeza, angústia, desânimo, tudo o que ela sentia quando criança e que não pôde manifestar naquela época. Outras mensagens podem ser: “Como cuidar de meu filho se não aprendi o que é ser mãe com minha mãe?” “Como dar colo se sinto falta de colo?”, “Me sinto uma criança desamparada, como posso ser mãe?” Não são frases ditas pela pessoa, mas pode-se imaginar existirem em seu inconsciente.
Caminhos de solução, além de cuidados físicos, podem ser: (1) Deixar o chôro vir em alguns momentos e expressá-lo, mas não em todos os momentos, para não afundá-la na depressão. (2) Usar o pensamento racional para controlar alguns episódios de vontade de chorar dizendo para si mesma que o pior passou, que agora é adulta e pode cuidar de si, que pode encontrar no marido (após ser orientado) e em alguma amiga o colo que precisa. (3) Não usar medicamento para depressão por causa da amamentação. (4) Expressar afeto pelos filhos mesmo que em vários momentos não sinta o sentimento por eles, pois isto virá naturalmente mais adiante. (5) Perdoar o pai que tinha a doença do alcoolismo e a mãe que não soube dar o colo que ela queria e precisava. (6) Perdoar a si mesma por não ter conseguido reagir positivamente para se proteger no passado contra os sofrimentos, engolindo-os sempre. (7) Aprender a expressar no tempo e modo certos seus sentimentos agradáveis e desagradáveis de maneira equilibrada, ao invés de reprimi-los sempre.