Doença mental tem a dupla face de caracteres objetivos e subjetivos, ou seja, aquilo que o paciente apresenta de palpável, inegável e “visível” como um delírio de grandeza (“Sou o Presidente da República”) ou um pensamento automático (“Meu marido não me telefonou. Isto significa que ele não me quer mais.”), e o intrínseco da pessoa, peculiar do indivíduo, não detectável (a não ser por um processo de conhecimento) e complexo.
Transtornos psiquiátricos, como a depressão, apresentam difícil alteração física detectável. Alguns exames sofisticados mostram que, por exemplo, em 18% dos pacientes depressivos que foram vítimas de abuso, comparados com a população de controle, há redução do volume de uma área no cérebro, o hipocampo (“Transtorno do humor e Subjetividade – A Contribuição da Psicanálise”, Sergio Costa de Almeida, Centro de Medicina Psicossomática, Santa Casa de Misericórdia, RJ, Psiquiatria Hoje, ABP, Ano XXX – número 3 – 2008). No líquor (líquido da “espinha”) de pacientes deprimidos pode ocorrer elevação das taxas do Fator de Liberação da Corticotrofina (CRF) talvez pelo alto estresse destas pessoas. Mas isto pode ocorrer em pessoas com bulimia, transtorno do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fobia social, etc. também.
Estudos com Ressonância Magnética Computadorizada e PET (tomografia por emissão de pósitrons) revelam anormalidades nos bipolares tipo 1 a hiperintensidades anormais na regiões subcorticais, periventriculares, gânglios da base e tálamo. Ocorre também redução do volume do hipocampo, do núcleo caudado e áreas generalizadas de atrofia em bipolares graves pelos altos níveis de cortisol no sangue. Cortisol é um dos hormônios do estresse.
Em pessoas deprimidas há diminuição do metabolismo cerebral anterior mais pronunciado no hemisfério esquerdo (o da razão, pensamento, cognição). Quando a pessoa passa para uma fase de euforia, essa alteração passa para o lado direito (o da emoção, fantasia, afetividade). O fluxo sanguíneo no cérebro é menor em pacientes deprimidos, daí a importância dos exercícios físicos pois melhoram a circulação.
Geneticamente ainda não foram encontradas evidências de genes (gens) alterados em pessoas com enfermidades mentais. Sabe-se que existe uma predisposição ou susceptibilidade herdada geneticamente, ou seja, uma pessoa pode nascer com tendência para esta ou aquela doença emocional, mas não nasce com ela já instalada. O que a ciência pode afirmar hoje é que algumas pessoas nascem com uma maior vulnerabilidade do que outras para certos transtornos mentais.
Pesquisas científicas têm revelado que pacientes com transtornos do humor (depressão, doença bipolar), apresentam esta vulnerabilidade genética que unida à experiência de eventos estressores precoces (geralmente na infância e adolescência), criariam neles, no futuro, uma sensibilidade neurobiológica, ou seja, seriam mais fáceis de terem alterações na bioquímica do cérebro, gerando as doenças mentais.
O mais importante, entretanto, é procurar compreender a pessoa que tem a doença. Há uma gama de características naquele indivíduo que são só dele, uma série de coisas que o faz ser diferente de todos os outros.
Do ponto de vista psicológico, e no caso da depressão, estudos têm verificado, por exemplo, que pacientes deprimidos podem estar conscientes de alguma perda que tenham sofrido e podem apontar até quem perderam, mas podem não saber o que perderam neste processo. Podem não saber como é que o que foi perdido relaciona-se com a sua noção de self ou de eu ou da pessoa que é. A queixa objetiva é, por exemplo, “Morreu a pessoa que eu amava. E por isso estou triste!”, enquanto que a subjetiva pode ser algo assim: “Agora eu não sei mais quem sou eu.”
Autores diferentes relatam dinâmicas mentais parecidas, mas algo diferentes umas das outras para explicar a depressão do ponto de vista do comportamento. A idéia mais simples ,é que a pessoa deprimida entra num tipo de colapso por causa de uma frustração por ter perdido algo muito desejado. Outra é sobre a chamada “distimia”, um tipo de tristeza crônica, que poderia ser uma forma de masoquismo, ou seja, a pessoa ferindo a si mesma o tempo todo, cortando as possibilidades de satisfação na vida.
Uma teoria muito provável de estar perto da verdade para deprimidos é que muitos deles parecem ter construído suas vidas pessoais basicamente em função de uma outra pessoa. E quando esta outra pessoa não corresponde às expectativas da pessoa, ou quando desaparece (morre, muda para longe, trai, rompe o relacionamento, etc.) ela entra no processo depressivo, com apatia, desvalor pessoal, desinteresse geral, etc.
Um cientista afirma que o deprimido, através de seu sofrimento, nutre um desejo secreto de vingança em relação a um objeto muito importante em sua história. É como se ele dissesse: “Eu sofro, mas esta outra pessoa que me frustrou, ao me ver sofrer, também irá sofrer.” Pune-se para punir outro indivíduo.
Em depressões vemos a presença de baixa auto-estima, agressão voltada contra si, frases típicas como “Sou um peso para os outros”, “Minha vida não tem mais sentido”, “Acho melhor morrer”, etc., geralmente em função da perda já mencionada acima que atinge a sua estrutura de personalidade.
Quando a pessoa sai da fase depressiva e entra numa crise de euforia (chamada de “mania) na doença bipolar, autores sugerem que isto pode ser devido ao fato de que durante a depressão elas teriam estocado tanta energia não usada que, de repente, é liberada e, assim, a pessoa fica acelerada, inquieta, com insônia, nega a doença, se sente onipotente, apresenta comportamentos de risco, irritabilidade se a impedem de fazer algo, fuga de idéias, etc.