Quem já teve algum sintoma de depressão diz que a pessoa portadora do distúrbio parece carregar todas as culpas do mundo. Para os especialistas este é apenas um dos sintomas da doença. Segundo a psiquiatra Maria Amélia Ferreira Tavares, a depressão se caracteriza por uma série de sintomas associados, como tristeza, angústia, sofrimento e ansiedade, entre outros. ?Para ser definido como uma doença, esses sentimentos devem estar associados e ter uma duração, em média, de seis meses?, frisa.
O mais comum é o paciente perder o prazer de realizar atividades cotidianas e se sentir angustiado, melancólico e sem energia para nada?, observa a especialista. Eles se sentem apáticos, sem motivação, e os pensamentos quase sempre são negativistas. Muitas vezes, chegam a pensar em suicídio, embora, na maioria das vezes, não de forma concreta. É o caso da auxiliar de enfermagem Vera Figueira Nunes. Ela começou a ficar deprimida quando perdeu um irmão num acidente de carro. A enfermeira não saía mais de casa e ficava depressiva, com sentimentos de culpa.
Os médicos explicam que esses sentimentos costumam variar de pessoa para pessoa e podem sofrer variações ao longo do tempo. ?Não se deve confundir depressão com tristeza ou ?baixo astral?, situações que vem e vão no cotidiano de qualquer pessoa?, comenta Maria Amélia.
Flutuações hormonais
A depressão pode atingir qualquer tipo de pessoa indiscriminadamente. No entanto, a predominância maior é nas mulheres. Já os homens são os que menos procuram ajuda médica. Segundo a médica, o medo ou o preconceito são os fatores que ainda determinam esse comportamento. O psiquiatra Ricardo Moreno reconhece, também, que o sexo feminino passa por vários processos hormonais durante a vida: o início dos ciclos menstruais, a gravidez, o parto e, por último, a menopausa. ?Tudo isso implica alterações na produção dos hormônios e torna a mulher mais vulnerável?, explica. Tanto é assim que no período da gravidez, do parto e pré-menopausa, a depressão ocorre com maior freqüência. De acordo com o especialista, após a menopausa, a relação da incidência entre homem e mulher tende a igualar-se, pois nessa fase cessam as flutuações hormonais.
O transtorno depressivo pode acontecer uma única vez ou se repetir várias vezes, alternando diversos graus de intensidade. Conforme a psiquiatra, se for leve ou moderada, a pessoa ainda consegue realizar suas atividades com esforço, algo impossível quando o distúrbio se torna mais grave. ?Quando esses episódios persistem por diversos anos, a depressão é identificada como crônica?, define. A gravidade é mais acentuada quando a pessoa que sofre de depressão acha que não está doente, se recusando a colaborar nos tratamentos, para os quais são indicados medicamentos antidepressivos para equilibrar os neurotransmissores.
Sofrimento e isolamento
Normalmente o deprimido percebe que seus sentimentos diferem de uma tristeza sentida anteriormente e reage às situações estressantes com um sofrimento desproporcional a esse acontecimento. ?Quem sente tristeza normal busca a companhia de outras pessoas, mas o deprimido, ao contrário, prefere se isolar?, comenta a psiquiatra, salientando que as depressões de longa duração trazem um maior comprometimento social, entre eles, as conseqüências socioeconômicas como a perda do emprego ou o abandono dos estudos.
Foi o caso do empresário Araújo, que não quer revelar seu nome. Recém-formado, mesmo com a expectativa de uma carreira promissora, levou mais de dez anos para retomar as suas atividades profissionais, com prejuízos irreparáveis. Quando chega nesta fase do transtorno, o depressivo pode apresentar problemas no relacionamento conjugal e familiar. ?Também é nesse momento que surge a idéia fixa de suicídio, que devem ser levadas a sério, pois o paciente pode se deixar levar ao ato extremo?, observa Ricardo Moreno. O paciente também não reage a tratamentos clínicos, começa a fumar e a beber em demasia, tem propensão à obesidade e, muitas vezes, perde a libido completamente.
Sintomas que ajudam a identificar a doença
* Irritabilidade, ansiedade, angústia, esquecimento
* Desânimo, cansaço mental, dificuldade de concentração
* Diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer
* Desinteresse e falta de motivação, baixa auto-estima, apatia, indecisão
* Sentimentos de medo, insegurança, vazio, desesperança e desespero
* Pessimismo, idéias freqüentes e desproporcionais de culpa
* Interpretação distorcida e negativa da realidade
* Dores e outros sintomas físicos freqüentes e não justificados