Roupas escuras, dias nublados, temperaturas baixas. Preguiça na hora de pular da cama, dificuldade de começar uma tarefa ou desejo incessante por ?lanchinhos?? Não é para menos que o inverno traz uma incidência maior de depressão. Para se ter uma idéia, com o início dos dias frios, o número de casos do distúrbio chega a aumentar em até 20% em relação à média normal. Os especialistas batizaram o surto que ocorre nesta época do ano de depressão sazonal, um problema que afeta mais as mulheres do que os homens. Apesar de ter seu maior pico no inverno, ela pode ocorrer em outras épocas do ano, desde que o clima propicie o seu aparecimento.

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De acordo com o psiquiatra Joaquim Monte, os sintomas são os mesmos da depressão clássica: aumento do sono, mau-humor, desânimo, intensa fadiga, perda de energia, alteração no apetite e irritabilidade. No entanto, o especialista explica que o transtorno só acomete pessoas que já se sentem um tanto deprimidas, só se potencializando em virtude, principalmente, das condições climáticas. Ou seja, o inverno não é um ?gatilho? para o início da doença.

Segundo o coordenador do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher da Universidade de São Paulo, Joel Rennó Júnior, a explicação para o problema está principalmente nas funções biológicas do organismo. ?A diminuição de horas diárias à exposição solar pode levar a mudanças neuroquímicas. A intensidade da luz é importante para a secreção, por exemplo, da serotonina, um neurotransmissor que regula o humor, o apetite e o sono?, conta.

Atividade física

A depressão sazonal ocorre em pessoas de todos os níveis. Ela não discrimina sexo, raça nem ocupação. A estimativa é de que existam aproximadamente 4 mulheres para cada homem acometido pelo distúrbio. A maior incidência se dá entre os 20 e os 40 anos, mas ela pode ocorrer em todas as idades, inclusive em crianças. Joaquim Monte observa que num extremo existem aqueles que apresentam poucas ou nenhuma alteração e que num grupo intermediário existem aquelas pessoas que apresentam pequenas alterações com as quais é fácil conviver no dia-a-dia. ?Somente aquelas pessoas que apresentam mudanças significativas no comportamento é que devem procurar auxílio médico nesse período?, ressalta.

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A psicanalista Dulce Barros explica que, em alguns casos, a depressão sazonal mais exacerbada pode se transformar em depressão crônica e durar meses, anos e, em alguns casos, a vida toda. ?Por isso, o acompanhamento de um profissional é fator determinante na recuperação do paciente?, adverte. Monte constata que, na maioria dos casos, a chegada da primavera ameniza o sofrimento, mas nem sempre isso é regra.

Um dos tratamentos mais conhecidos para a depressão sazonal é a fototerapia, um método que expõe o paciente a uma luz especial ultrabrilhante. A potência varia de acordo com os sintomas, e a aplicação deve ser feita com aparelhos específicos sem emissão de radiação ultravioleta.  Joaquim Monte recomenda para que ninguém relaxe em suas atividades físicas no inverno, uma maneira de se combater o transtorno. ?Não mude sua rotina. Se está frio, agasalhe-se e vá em frente?, incentiva. Outra recomendação do especialista é de que as pessoas não busquem na comida uma forma de conseguir mais energia nesse período. Segundo ele, pode se tornar um ciclo vicioso: mais frio, mais agasalho, mais comida, mais tristeza, mais depressão.

ALTERAÇÕES PROVOCADAS PELA DEPRESSÃO SAZONAL

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Hábitos: Dormir por mais horas, se sentir sempre cansado e com dificuldades de acordar pela manhã.

Alimentação: Aumento do apetite; busca incessante por ?comidinhas? que trazem como efeito o aumento de peso.

Motivação: Dificuldade de concentração; fadiga; isolamento social; diminuição do impulso sexual; e falta de energia para as tarefas de rotina.

Humor: Irritabilidade ou apatia; baixa auto-estima; tristeza; e, em casos extremos, idéias suicidas.

Saúde: Distúrbios do sono; nas mulheres, maior intensidade da tensão pré-menstrual, irritação freqüente.