Ao comemorar o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, os médicos esperam que os pais levem seus filhos no primeiro ano de vida para um exame auditivo, quando 100% dos casos podem ser corrigidos.
O ideal seria tornar o uso do aparelho de surdez tão comum quanto o uso dos óculos de grau.
A Campanha Nacional da Audição volta suas atenções para a surdez infantil, um problema que atinge de 3 a 5 crianças em cada 1.000 nascidas no país. Esse quadro se agrava quando o recém-nascido apresenta complicações neonatais e precisa de internação em UTI – destas 5% apresentam algum déficit auditivo. Apesar dos índices preocupantes, a solução, no entender dos especialistas, está cada vez mais simples e acessível, seja por meio de exames preventivos ou ainda da avançada tecnologia dos aparelhos de amplificação sonora. De acordo com a Sociedade Brasileira de Otologia, as maiores dificuldades, porém, ainda são a desinformação e o preconceito.
Com essa dura realidade, comemora-se em 10 de novembro o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez. O objetivo da data é para orientar a população sobre a importância da realização de testes, como o do pezinho e da orelhinha em recém-nascidos, e desmistificar o uso de aparelhos auditivos nas crianças com idade pré-escolar. "É fundamental que os exames preventivos sejam realizados nos primeiros 6 meses de vida, pois cerca de 50 a 75% das deficiências auditivas são passíveis de ser diagnosticadas no berçário por meio da triagem auditiva", afirma o médico Luís Carlos Alves de Sousa, coordenador da Campanha Nacional da Audição. Nessa fase é possível resgatar a audição em quase 100% dos casos, observa.
Efeito devastador na infância
Segundo pesquisas realizadas pelo próprio otorrinolaringologista, o tempo médio para detecção do problema ainda está muito longe do ideal. A média de idade de identificação das deficiências auditivas nos Estados Unidos, por exemplo, está em torno dos dois anos e meio, ou seja, muito longe do período crítico para o desenvolvimento da fala e linguagem. "Em nosso caso, a realidade é ainda mais grave, pois a descoberta só chega por volta dos quatro anos de idade", alerta o médico. Indicadores apontam que apenas 7% daquelas que chegam ao consultório com suspeita de surdez foram diagnosticadas dentro do primeiro ano de vida.
Uma das maiores preocupações dos médicos está dentro das salas de aula. Cerca de 10 a 15% das crianças em idade escolar são portadoras de deficiência auditiva leve, ou seja, apresentam até 30% de diminuição auditiva. Aproximadamente 2% desses casos exigiriam o uso de aparelhos auditivos. Segundo especialistas, o preconceito ainda é a maior barreira. "A deficiência auditiva durante a infância tem um efeito devastador, pois sempre resulta em déficits emocionais, sociais e comunicativos da criança, por isso, o aparelho deve ser tão comum quanto o uso de óculos", insiste o coordenador.
Teste na maternidade
A surdez infantil pode ter as mais diversas causas, sendo algumas delas hereditárias, outras adquiridas. "No que diz respeito às causas adquiridas, existem diversos fatores que podem ser responsáveis pelo problema", explica o otorrinolaringologista Antônio Larroude. Durante a gravidez o fator mais conhecido talvez seja o vírus da rubéola, mas muitas infecções a vírus, quando ocorrem no primeiro trimestre da gravidez, também podem provocar lesões do ouvido interno.
Durante a infância, a causa mais freqüente de surdez são as infecções do ouvido médio (otites). Atualmente, o rastreio não envolve custos elevados, podendo ser feito na própria maternidade, por meio de um exame chamado pesquisa de otoemissões acústicas. No caso de alguma suspeita deve-se efetuar outros exames para melhor investigar a situação.
Depois de diagnosticada uma surdez, a mesma deverá ser corrigida o mais rapidamente possível, seja por meio de tratamento médico/cirúrgico ou da adaptação de próteses auditivas. "É preciso compreender que uma criança que tenha problemas auditivos contínuos até os três ou quatro anos de idade apresentará problemas de desenvolvimento da linguagem, irá necessitar de apoio de terapia da fala e poderá vir a ter dificuldades no seu aprendizado", orienta Antônio Larroude.
Números que valem
– Estima-se que no Brasil 0,5% das crianças nasçam surdas.
– 2% das crianças em idade escolar são portadoras de deficiências auditivas que exigiriam o uso de aparelhos de amplificação sonora.
– 10 a 15% das crianças em idade escolar são portadoras de deficiência auditiva leve.
– 2,5 a 5% dos recém-nascidos do grupo de risco são portadores de deficiência auditiva, moderada ou severa.
– Em torno de 60% das deficiências auditivas são passíveis de ser diagnosticadas no berçário através da triagem auditiva.