De olho no trabalho noturno

O ritmo da sociedade contemporânea está modificando alguns hábitos das pessoas, principalmente trabalhadores e estudantes. Entre os profissionais, a busca por melhores salários faz com que muitos deles optem pelo trabalho noturno. Entre os jovens, o excesso de horas em frente à tela do computador, sobretudo à noite. Pode passar despercebido, mas essa mudança de hábitos pode gerar um alto custo social para o país. Isso porque um estudo realizado pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, demonstra que uma importante parcela dos trabalhadores e usuários de computador noturnos corre o dobro de risco de sofrer doenças da visão ou mesmo de cegueira.

Só para se ter uma idéia da gravidade do problema, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no mundo, os problemas da visão respondem pela exclusão de 43 milhões de pessoas do mercado de trabalho. O estudo acompanhou, nos últimos doze meses, 617 trabalhadores noturnos. Desse total, 247 pacientes, ou seja, 40%, se queixaram de visão embaçada, ardência, olho seco e dificuldade de focar.

Queiroz Neto afirma que o embaçamento da visão, ardência e o olho seco são decorrentes do maior contato com agentes externos, como poluição, vento e ar refrigerado, fatores que influenciam na produção lacrimal, essencial para a lubrificação do olho. Só que esses distúrbios também podem estar relacionados à má iluminação, estresse e, para quem usa o computador, ao fato de piscarmos 20 vezes menos quanto em frente ao monitor. A recomendação do médico é para que, quem trabalha ou estuda em tais circunstâncias, passe por uma avaliação oftalmológica para evitar futuras complicações.

Cuidados essenciais

O estudo demonstrou que metade dos pacientes avaliados apresenta hipertensão, glicemia, sobrepeso e colesterol alto, distúrbios que dobram a chance de o trabalhador noturno sofrer de doenças da visão, como retinopatia diabética, catarata e degeneração macular. De acordo com Queiroz Neto, isso acontece por causa da exposição irregular do trabalhador noturno à luz e ao escuro que sincronizam a secreção de hormônios responsáveis por nossas funções biológicas no período de um dia.

Quem trabalha à noite, ressalta, pode ter uma redução significativa da produção de melatonina, que só é secretada à noite e se estivermos em ambiente escuro. Por ser um hormônio antioxidante, duas vezes mais potente que a vitamina E, a substância protege os olhos das doenças decorrentes do envelhecimento. Além disso, o aumento de peso e a elevação dos níveis de colesterol dobram o risco de surgimento de degeneração macular e catarata, maiores causas de cegueira no mundo.

De acordo com o especialista, a dificuldade de foco é conseqüência da maior produção de cortisol, um hormônio produzido pela glândula supra-renal, que enfraquece a musculatura ciliar responsável pela capacidade do cristalino focar e desfocar. ?Quanto mais avançada a idade, maior é o desconforto?, garante Queiroz Neto. Isso porque, explica o médico, a perda de flexibilidade dessa musculatura pode causar a presbiopia ou vista cansada após os 40 anos.

O especialista ressalta que é possível trabalhar à noite e se manter saudável desde que o trabalhador tome alguns cuidados, como descansar a vista olhando para o infinito por 5 a 10 minutos  a cada hora de trabalho em frente ao computador, procurar piscar voluntariamente e praticar exercícios específicos recomendados por especialistas.

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Alguns cuidados ajudam a preservar a saúde

As principais recomendações para preservar a saúde e a boa visão de trabalhadores noturnos são:

* Escurecer ao máximo o quarto antes de dormir para estimular a produção de melatonina, que reduz o cortisol e adrenalina.

* Incluir na alimentação laticínios, nozes, gergelim e tofu, que contêm triptofano, precursor da melatonina.

* Praticar exercícios físicos diariamente.

* Evitar alimentos ricos em cafeína, que elevam o estresse, e alimentos gordurosos, especialmente à noite.

* Aumentar o consumo de frutas cítricas ricas em vitamina C.

* Passar por exame de vista e de sangue anualmente, já que muitas doenças só apresentam sintomas em estágios avançados que dificultam a completa recuperação.

OLHO: Problemas de visão respondem pela exclusão de 43 milhões de pessoas do mercado de trabalho no mundo.

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