Dança circular acalma a mente

“Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar!” Lembra desse hit da infância? Se isso lhe parece nostalgia demais é porque, provavelmente você nunca ouviu falar de dança circular. Mas, não se preocupe, vamos te mostrar mais sobre essa modalidade que vem ganhando adeptos cada vez que os benefícios para o corpo e alma vão ficando mais nítidos.

Um monte de gente desconhecida de mãos dadas e em círculo dançando músicas de roda. Isso pode contrastar com o cenário frio e individual das cidades de hoje, mas é justamente por aqui que a dança circular tem tido espaço para se difundir. “Essa modalidade gera acolhimento e novas amizades. A roda é muito inclusiva e acolhedora, as pessoas podem estar precisando disso hoje “, acredita Arlenice Juliana, sócio diretora do SemeiaDança, grupo que ministra cursos e palestras sobre danças circulares. 
Túnel do tempo

Mas por que a dança é tão agregadora? A dança foi a primeira forma de expressão criativa do ser humano e expressava uma conexão com o sagrado e com o mundo que estava em sua volta, e a roda foi a forma que os povos antigos adotaram para desenvolvimento da vida em grupo e social.

Apesar de acompanharem a história da humanidade, as danças circulares se tornaram mundialmente conhecidas na década de 60, quando o bailarino alemão Bernhard Wosien (1908-1986), ao entrar em contato com a dança em visita às tribos do interior do leste europeu, adotou os passos e repassou adiante com o objetivo pedagógico. No Brasil, a atividade vem se propagando desde os anos 1980. “Essas danças refletiam a necessidade de comunhão, celebração e união entre as pessoas e, por isso, Bernhard viu o quanto elas eram transformadoras e acabou divulgando e adaptando os movimentos de forma que todos pudessem fazer parte do grupo”, explica a psicóloga e adepta da dança circular, Gabriela Bessa Barreto.

Assim, o primeiro ponto que chama atenção certamente é que a dança circular permite entrar em contato com culturas antigas e distantes de nosso tempo. “É um resgate da dança, dos movimentos e das músicas de outros povos e do nosso povo também, já que hoje temos bastantes passos lúdicos de ciranda e de outras danças folclóricas, típicas da cultura brasileira”, acrescenta Gabriela. 

É só começar

Achou interessante? É só procurar um grupo e, literalmente entrar na roda. Cabe ao focalizador – pessoa que ministra os cursos- ajudar com os detalhes. Do resto, a própria roda se encarrega. “Não precisa de nenhum tipo de conhecimento de dança para participar. A gente até brinca que na roda ninguém erra, só varia os passos. O movimento feito em roda é quase auto-explicativo e muito fácil de se aprender”, explica Arlenice Juliani.

As danças são feitas, geralmente, com as mãos dadas para que se crie um fluxo de energia entre as pessoas que vai sustentar todo o ambiente no qual a dança é feita. As músicas utilizadas e as coreografias variam de acordo com a região de origem. “Cada dança traz uma história de um povo e por isso, dizemos que com a dança circular você viaja pelo mundo e para o passado”, explica Arlenice.

Conexão com o sagrado

O que há de especial na dança circular? Bem, primeiro é preciso notar que qualquer dança tem a clara função de estimular a sensação de bem-estar. Os movimentos fazem bem para o corpo e para a alma. Mas, o objetivo maior desse tipo de dança é a integração. “Quando você dá a mão para alguém que nunca viu está se abrindo para o outro e formando um círculo energético que provoca melhoras no relacionamento social. A dança circular estimula o autoconhecimento e, por ser feita em roda, o conhecimento em relação ao outro. Além disso, ela contribui para aprimorar as nossas noções de espaço e consciência corporal”, explica a psicóloga Gabriela Bessa.

Para Ozeneide Machado, coordenadora do primeiro curso de pós-graduação em dança circular, promovido pela Unipaz, a dança circular é mais do que um movimento artístico ou atlético. “Não existem erros e acertos na dança circular. A pessoa se sente integrada, participante de algo maior que ela mesma e mantém sua atenção no aqui e no agora, garantido o equilíbrio interno e o bem-estar. Sem contar o benefício da parte lúdica de relembrar os movimentos de infância.”

Com a interação, as danças circulares também provocam a rápida reflexão sobre o trabalho em equipe, compreensão sobre conflitos, ajuda a despertar a criatividade, a integração dos hemisférios cerebrais, estimula a coordenação, a flexibilidade e ainda, ativa uma espécie de meditação dinâmica, “Como tudo o que fazemos com o físico se reflete no psicológico, as danças circulares deixam as pessoas mais alegres e entusiasmadas, trazem leveza, serenidade e bem-estar ao corpo e ao espírito”, completa Arlenice Juliani.

Terapias circulares

A eficiência desse tipo de dança já está mais do que provada por aí, já que está cada vez mais recorrente o trabalho em hospitais, presídios, escolas e empresas.

“O trabalho em hospitais tem crescido muito, como forma de ajudar na reabilitação e integração de pessoas que sofrem dos mais variados males. Pacientes com depressão, por exemplo, não saem os mesmos de quando entraram para uma roda de dança circular. É um tipo de terapia que envolve a área verbal, a integração, o autoconhecimento e traz um pouco de arte, por isso é muito eficiente”, acredita a psicóloga Gabriela Bessa, que usou a dança circular como parte do tratamento de alguns pacientes.

Educação e diversão
Nas escolas, a dança circular também pode ajudar na formação do aluno. “Além de mostrar a força do grupo e estimular a quebra de preconceitos e abertura para o outro, as atividades com dança circular ensinam mais sobre as matérias. Aprender sobre a história, geografia e culinária dos povos gregos, por exemplo, pode ficar mais divertido e estimulante com as danças circulares.”

Já tem até balada com que envolve variações de danças circulares. O som de ritmos típicos dos povos do leste europeu e dos ciganos foi mixado com música eletrônica e rock para que os apreciadores da noite tirassem benefícios da atividade. É um momento para relaxar mesmo em meio ao agito.

“Essas adaptações são bem-vindas, quanto mais gente dançar mais feliz vai ser o mundo. Mas o meu conselho é para que essas pessoas que tiveram essa experiência com adaptações, venham conhecer mais sobre as danças circulares”, convida Arlenice Juliani, que realiza, com o grupo SemeiaDança encontros em parques de São Paulo todos os domingo.

 

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