Cuidado com a síndrome pós-férias

Ano após ano o número de dias que as pessoas passam em férias parece diminuir.

Muitas vezes, o período garantido por lei para que o trabalhador descanse depois de um ano inteiro de labuta – dependendo dos entendimentos com os patrões – é dividido em várias semanas ao ano.

Dessa maneira, o empregado não sente os desconfortos ocasionados no organismo por ocasião da volta das férias.

Tudo perfeitamente normal e plenamente aceitável, garantem os especialistas.

Sem a rigidez dos horários a cumprir, da agenda recheada de compromissos, mas, principalmente do estresse do dia-a-dia, cada vez mais rotineiro nas grandes cidades, é natural que a mudança no ritmo biológico das pessoas afete o organismo, provocando cansaço ao se retornar ao ritmo anterior. Ainda mais quando se tem o término do horário de verão.

Não existem dados estatísticos, mas não é difícil perceber que um número expressivo de pessoas na volta de um período prolongado de descanso sofra algum tipo de distúrbio.

Para muitos, a primeira semana é marcada por atrasos e indisposições. O médico Leslie Marc D’haese, especialista em doenças ocupacionais, reconhece que, nos primeiros dez dias do pós-férias, é natural um certo grau de sonolência, fadiga, problemas digestivos, falta de apetite, alterações de humor e tensão muscular.

“Quanto mais longa as férias, maior a dificuldade de se readaptar à rotina anterior”, avalia. Cada pessoa responde de uma forma a essa readaptação, mas, em geral, todos sentem uma alteração no funcionamento do corpo.

Feliz no trabalho

De acordo com D’haese, alguns desconfortos são aceitáveis, pois cada pessoa possui o seu próprio relógio biológico. Assim, no período de férias, sem a pressão de cumprir compromissos ou horários, o organismo tende a reorganizar suas funções, adaptando-se a um novo ciclo, bem mais relaxado.

“O retorno, por sua vez, exige um reajuste progressivo dessa condição”, explica. Com a mudança de ritmo imposta pelas férias, o organismo realinha suas funções de sono e de secreção de hormônios, proporcionando a sensação de relaxamento e bem-estar. “Ao voltar ao batente, o corpo sente a mudança e responde acentuando diversos tipos de desconfortos”, diz o cronobiologista Luiz Menna-Barreto.

Já os psicólogos tendem a considerar o período de férias uma fase propícia para recarregar as baterias, para a pessoa pesar os prós e os contras da sua rotina e, quem sabe, tomar medidas que proporcionem importantes melhorias na sua vida. “No entanto, nem todas conseguem isso”, reconhece o especialista.

Segundo a médica Suzete Grassi Garbers, especialista em medicina do trabalho, o impacto da volta pode se tornar positivo ou negativo. “Depende do modo com que cada pessoa encara a sua realidade”, observa.

No seu entender, se a pessoa se encontra feliz no seu ambiente de trabalho, maiores são as chances de retornar satisfeito, de bem com a vida. “Senão, nem doze meses de férias vão surtir o efeito desejado”, completa.

Readaptação

O nível de satisfação e prazer que a pessoa tem no trabalho, em casa ou na escola pesa bastante sobre o impacto da volta às atividades do dia-a-dia. Ser surpreendido com novidades também costuma influenciar, deixando a pessoa ansiosa nos primeiros dias, diz a psicóloga Mariângela Savóia.

Isso vale para a mãe que começa o ano com os filhos em uma nova escola, para o profissional que inicia o ano atuando em um novo setor da empresa, para quem mudou de emprego e até para os estudantes que mudaram de turma. “Esse impacto se torna mais forte depois das férias, pois se soma às mudanças nos hábitos e a expectativa criada pela virada de ano”, completa a terapeuta.

Suzete Garbers lembra que em dias “normais” o tempo é marcado pela hora de despertar, de iniciar suas atividades, de almoçar e de dormir, preocupação esquecida nos momentos de lazer.

“Por isso, o corpo pode reclamar da mudança”, ressalta. Para Leslie D’haese, o problema, logicamente, não está nas férias, mas na forma ,como cada um encara o seu período de descanso.

Por isso, ele orienta que, antes de recorrer aos remédios ou a qualquer tipo de terapia, a pessoa utilize fórmulas simples para combatê-la, como dormir uma hora mais cedo, iniciar ou reativar a prática de atividades físicas e preferir uma alimentação mais leve.

Após passadas algumas semanas, se a pessoa permanecer com os sintomas da síndrome, a orientação dos especialistas é para que o auxílio médico seja procurado.

Preparando o retorno

Ao voltar das férias, alguns especialistas, aconselham partir logo para a ação e encarar com otimismo e entusiasmo mais um período de trabalho. Isso pode fazer com que nos primeiros dois dias a mudança do repouso para o trabalho traga algum desconforto. Tem gente que precisa voltar alguns dias antes da data prevista das férias para se organizar e se preparar para o regresso.

Normalmente, existe uma pilha de contas a pagar, também é hora de ir ao supermercado reabastecer a dispensa, ou seja, coisas que ajudam a recolocar as coisas no seu devido lugar.

É bom, também, tentar liquidar pendências financeiras, pois, naturalmente, as dividas deixam as pessoas angustiadas e infelizes, situação que potencializa as dificuldades da volta ao trabalho.

Para sofrer menos na volta

* Procure não retornar das férias às vésperas do trabalho ou das aulas
* Tente adaptar seu organismo ao novo padrão, tentando dormir uma hora mais cedo
* Evitar longas jornadas de trabalho
* Se sentir falta de apetite no horário tradicional do almoço, faça um lanche mais leve, mas não deixe de se alimentar
* Tente encontrar novas motivações no seu trabalho
* Mesmo que tenha poucas horas de lazer, aproveite. Leia, vá ao cinema, pedale ou saia com os amigos