Crises estomacais exigem investigação da causa pelo médico

Má digestão, azia, mal-estar, dor de estômago são sintomas cuja solução não deve ser abandonada ao acaso. O procedimento correto é procurar um especialista, para se afastar as possibilidades de diagnósticos mais complexos. A orientação é do dr. Schlioma Zaterka, médico gastroenterologista, professor convidado da disciplina de Gastroenterologia na Unicamp. Durante esse processo de investigação das causas, a administração de um paliativo eficiente e seguro como os antiácidos pode ser a alternativa menos arriscada.

“Muitas vezes os transtornos gástricos estão relacionados à ação da Helicobater pylori, uma bactéria cuja contaminação acontece por vias feco-oral e oro-oral, em geral na infância, com manifestações posteriores”, explica o dr. Zaterka, que também preside o núcleo brasileiro para estudo da bactéria. Também por essa razão, ele insiste na importância de acompanhamento médico das intercorrências gástricas.

Não estamos falando de casos isolados ou problemas raros: a Helicobater pylori atinge cerca de 50% da população mundial, um índice que sobe para 70% no Brasil e em outros países com carência sanitária. Seu portador pode passar a vida inteira sem saber que ela existe – e por isso se tornar um potencial transmissor da bactéria. Mas, em 100% dos casos há o desenvolvimento de uma gastrite – 80% das vezes assintomática. Sem tratamento, aproximadamente dois em cada dez portadores desenvolverão úlcera. Em 1% a 2% dos casos, a bactéria pode causar câncer gástrico. É mais raro, mas outro pequeno universo desses pacientes acabará vítima de um maltoma, um linfoma de evolução lenta e às vezes traiçoeiro.

Segundo o estudioso do assunto, a ação da H. pylori não pode ser desprezada: “Dos casos de câncer gástrico, 80% estão ligados à ocorrência da bactéria – um percentual que sobe para 90% quando se analisa os casos de úlcera duodenal”, revela Zaterka.
Possibilidades de diagnóstico como esse – a princípio não cogitado por quem tem uma crise de azia e má digestão, entretanto bastante prevalente – incentivam os médicos a recomendarem medicamentos seguros como paliativos antes dos resultados dos exames. Uma das opções pode estar nos antiácidos à base de hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio e dimeticona, que oferecem a vantagem da neutralização duradoura da excessiva acidez estomacal e seus desagradáveis sintomas.
Ao adotar os antiácidos “leitosos” o paciente com crises de azia e má digestão pode ser beneficiado ainda por um tratamento eficiente para uma eventual úlcera. “Em doses baixas e bem administradas, os antiácidos à base de hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio são tão eficientes para a cicatrização das úlceras gástricas e duodenais quanto os medicamentos mais usados para este objetivo, os bloqueadores de receptores de histamina. Entretanto, o tratamento com a primeira categoria custa apenas 1/3 do desembolsado com a categoria mais utilizada”, compara o especialista.

Mesmo quando a investigação da presença da bactéria Helicobater pylori já está mais avançada, às vezes os antiácidos à base de hidróxido de alumínio ou de magnésio também devem ser adotados. Os pacientes medicados com bloqueadores de receptores da histamina e inibidores da bomba de próton precisam suspender o uso destes remédios na fase de pré-diagnóstico, pois eles oferecem risco de resultado falso negativo nos exames de verificação do problema. Alguns pacientes, entretanto, continuam sentindo parte dos sintomas. Nesses casos, o uso de antiácidos “leitosos” é recomendado como paliativo, por não interferir no resultado do exame.

Uma vez diagnosticada a bactéria, a erradicação dura uma a duas semanas e o controle do resultado deve ser feito de quatro a oito semanas após o término do tratamento. O sucesso do tratamento deve ser confirmado com outro exame no mínimo quatro semanas após o início da terapia. Novamente, em caso de continuidade da manifestação dos sintomas, a utilização dos antiácidos à base de hidróxido de alumínio ou hidróxido de magnésio podem ser utilizados pois não interferem na investigação clínica. Segundo dr. Zaterka, este procedimento, já previsto em consensos internacionais, deve ser um dos confirmados no próximo consenso da área, que deve ser divulgado em outubro deste ano, durante o Congresso Brasileiro de Gastroenterologia.

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