Crianças portadoras de TDAH sofrem com códigos disciplinares

Ele era uma criança que não parava no lugar e não se concentrava em nada. Diziam que ele era hiperativo. Como poderia ser hiperativa uma criança que ao jogar videogame ou assistir a um jogo de futebol passava horas sem piscar os olhos? Mal educado. “Capeta”.

Disperso. Louco. Eram os “apelidos” que comumente ouvia. Ele sofria com isso, porém, sempre se considerou igual aos outros, pois tinha os mesmos hábitos e costumes dos seus amigos, mesmo sempre fazendo as coisas sem pensar. Tinha carisma e inteligência.

Adolescente, tinha muitos amigos, saía, se divertia e gostava de jogar futebol, algo em que definitivamente se concentrava. Na sala de aula, parecia que sua liderança se tornava negativa, não tinha forças para estudar. Não prestava atenção, atrapalhava a turma, desconcentrava os professores.

Foi campeão dentro de campo, e derrotado fora dele. Já estava se tornando um adulto, quando foi diagnosticado com “um tal” déficit de atenção. Aquele garoto-problema tomou a medicação a contragosto. Foi levando a vida. Uma nova escola.

Formou-se como um dos melhores alunos da turma. Hoje cursa faculdade. Tem namorada. Ele ainda tem muito o que viver, com seu jeito hiperativo, desatento, mas agora controlado, sem deixar de ser ele mesmo. Ele? Sou eu…Beto.

Frustração no dia a dia

O principal sintoma é a dificuldade em manter o foco da atenção e/ou manter-se quieto, condição que pode se manifestar de diversas formas.

Esse depoimento, prestado à Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA) mostra que o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é responsável pela enorme frustração experimentada por seus portadores no dia a dia.

Crianças, adolescentes e adultos diagnosticados com o transtorno são frequentemente rotulados de problemáticos, desmotivados, malcriados, indisciplinados, irresponsáveis ou, até mesmo, pouco inteligentes. A maioria daquilo que se lê ou se ouve sobre o assunto tem uma conotação negativa.

Os médicos relatam que após iniciar o tratamento, a maioria das crianças apresenta melhora significativa no comportamento e na capacidade de aprendizado.

Em pouco tempo já prestam mais atenção à aula, conseguem se concentrar melhor e já não relutam tanto em realizar tarefas monótonas e repetitivas. Com melhoria da atenção, o rendimento escolar e as notas apresentam mudanças surpreendentes.

Aquele aluno desleixado, preguiçoso e pouco esforçado, de uma hora para outra, encontra espaço para desenvolver seu potencial. “Contornando as deficiências impostas pelo TDAH, a criança pode ter um rendimento compatível ao de qualquer um”, reconhece a psicóloga Lola Ribeiro.

Sob controle

O TDAH é uma doença neurobiológica que se manifesta por meio de persistente desatenção e/ou hiperatividade mais frequente e grave do que tipicamente observado em pessoas comuns. 

O diagnóstico é feito exclusivamente por um médico especialista em entrevista, observação e aplicação de questionário com 18 pontos padrão. Os prejuízos causados pelos sintomas precisam estar presentes em dois ou mais ambientes (social, afetivo, familiar, escolar e/ou profissional) para que se confirme o diagnóstico.

O distúrbio não tem cura, mas pode ser controlado com uso de medicação diária e psicoterapia, em alguns casos. Segundo a ABDA cerca de 3% a 5% das crianças sofrem do distúrbio.

Nos Estados Unidos, cerca de 4,4 milhões de crianças com ,idades entre 4 a 17 anos foram diagnosticadas com o transtorno em algum momento de suas vidas. No mundo, estima-se que 5% das crianças possuem o transtorno que, apesar de causar diversos problemas, ainda é pouco conhecido da população de modo geral e quando não tratado, pode prejudicar a criança na convivência social. Tais comportamentos podem implicar em perdas no aprendizado.

Medicação de ação duradoura

Um estudo checou os impactos sobre a taxa de sintomas e satisfação global do tratamento realizado com dimesilato de lisdexanfetamina na avaliação dos pais de crianças com TDAH.

Os dados foram coletadas exclusivamente com cuidadores e não levaram em consideração resultados clínicos individuais nem substituiram a avaliação do médico.

A substância é um estimulante de ação duradoura – 13 horas – indicado para o tratamento do TDAH em crianças de 6 a 12 anos de idade. Depois de quatro semanas, o estudo confirmou que o impacto do tratamentoreduz de forma significante os sintomas dessa condição em atividades cotidianas dos pacientes no ambiente escolar, em interações familiares, na realização do dever de casa, além de interações sociais.

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