Crianças não devem abdicar do leite

O leite de vaca possui nutrientes considerados essenciais à saúde de crianças que já deixaram de ser amamentadas no peito de suas mães. Entretanto, é grande o número de meninos e meninas que possuem intolerância ao leite ou alergia à proteína presente no alimento.

Segundo o médico gastroenterologista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, Mário César Vieira, em todo o mundo 5% das crianças com até um ano de idade possuem alergia à proteína do leite. Já a quantidade exata de crianças com intolerância ao produto não é conhecida, mas o problema também é considerado comum: “A intolerância é causada por falta de digestão adequada por uma ausência da produção de enzimas, e gera distensões abdominais e diarréia”, explica Mário. “A alergia, gerada pela ausência de mecanismos imunológicos, além de causar distensões e diarréia também pode ser caracterizada por vômitos persistentes, lesões de pele e manifestações respiratórias, como bronquite.”

Nos dois casos, a criança deve deixar de tomar o leite de vaca. Quem tem alergia também não pode se alimentar de derivados do produto, como por exemplo queijos, requeijão e manteiga. Entretanto, na maioria dos casos a alergia melhora até que a pessoa complete três anos de vida. Já a intolerância pode se estender à idade adulta, fazendo com que os pacientes convivam com o problema para o resto da vida.

“Apesar de ter que se abster do leite de vaca, o organismo das crianças necessita do alimento. Uma criança que não se alimenta com os nutrientes do produto pode, em curto prazo, ficar desnutrida, ser vítima de infecções de repetição, anemia e deficiências nutricionais variadas. Em médio e longo prazos, o resultado é o mau rendimento escolar e o déficit de crescimento.”

O gastroenterologista afirma que é um equívoco achar que os leites de cabra e soja podem tratar a alergia. Para a intolerância, o leite de cabra também não é indicado, mas o de soja pode vir a funcionar. Mas a melhor alternativa costuma ser a compra de leites em pó preparados com fórmulas alimentares especializadas.

Caso

O único problema desses produtos é o preço, geralmente bastante elevado, entre R$ 90 e R$ 120. “Nas fórmulas especializadas, a proteína do leite sofre um processo de digestão industrial. E existem crianças que só aceitam fórmulas de aminoácidos, que custam cerca de R$ 300”, conta Mário. “Em Curitiba, a Prefeitura fornece gratuitamente algumas fórmulas. Mas, se o gasto não for com o leite especializado, futuramente se terá que gastar com internamentos e medicamentos, pois o organismo da criança ficará bastante debilitado.”

Algumas crianças que mamam no peito também apresentam alergia ao leite que é tomado por suas mães e repassados a elas através do leite materno. É o caso de Leonardo de Miche Barcos, atualmente com nove meses de vida. Sua mãe, a administradora Andreia de Miche Barcos, percebeu os primeiros sintomas de alergia no filho quando ele tinha três meses e meio de vida.

“A primeira coisa que percebi foram estrias de sangue nas fezes do meu filho. Depois, ele começou a ter diarréia sanguinolenta e perda de peso”, lembra. “Levei Leonardo no gastroenterologista e, depois de uma série de exames, descobri que ele tinha alergia à proteína do leite que eu, por beber leite de vaca, passava pra ele.”

Assim que o problema foi diagnosticado, Andreia teve que se submeter a uma dieta livre de leite e derivados. Leonardo, mesmo ainda mamando no peito, também teve que ter a alimentação complementada com fórmulas especiais, que consome até hoje. A mãe as recebe gratuitamente do gastroenterologista, que por sua vez as consegue junto à Prefeitura. “O leite que meu filho precisa custa R$ 300, e uma lata dura apenas três ou quatro dias. Ainda bem que recebo gratuitamente, e que há chances de que, daqui a alguns meses, a alergia do meu filho possa desaparecer”, finaliza.

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