O que uma pessoa leiga pode identificar como uma dor de estômago, uma falta de ar, um desconforto nos braços ou um distúrbio de menor gravidade pode ser diagnosticado como uma doença grave, principalmente uma doença cardíaca. Todos esses sintomas, muitas vezes, confundidos com um mal-estar provocado por um alimento que não caiu bem ou por excesso de esforço podem, na verdade, mascarar sinais do início de um infarto do coração. Diagnosticá-los precocemente é fundamental para se estabelecer os primeiros cuidados e tentar reverter algum quadro clínico. Uma das mais recentes alternativas de diagnóstico é uma modalidade de ecocardiografia que identifica, com precisão, o fluxo sanguíneo pelos vasos.
Para a cardiologista do Hospital Pilar, Lise de Oliveira Bocchino, devem procurar atendimento médico de urgência pessoas tenham algum tipo de dor intermitente ou algum desconforto não explicável, e que apresentem histórico de risco para o infarto do coração. ?Fazem parte do grupo de risco: sedentários, obesos, pessoas com índices altos de colesterol, pressão arterial alterada ou aquelas com taxas elevadas de glicose?, salienta, completando que, se o paciente fizer uso do cigarro, os riscos podem ser duplicados.
As dores que podem identificar o início de um infarto são chamadas de dores irradiadas ou equivalentes. De acordo com a médica, embora pouco relacionados às doenças cardíacas, esses sintomas estão presentes em cerca de 80% dos quadros que evoluem para o infarto. E eles ocorrem como resultado da pouca oxigenação que chega até o músculo cardíaco, por deficiência de irrigação, mecanismo que acaba desencadeando outras conseqüências. ?São dores de difícil caracterização, mas que têm como diferencial o fato de, em curto espaço de tempo, alternarem de intensidade?, comenta Lise Bocchino.
Mudar o hábito de vida
A prevenção ainda é a melhor maneira de combater o risco de sofrer um infarto. O problema é que a prevenção requer mudança de hábito de vida. Isso inclui ter uma dieta saudável, reduzir o consumo de sal, açúcar e gordura, evitar álcool em excesso e fumo, e fazer atividade física regularmente. As mudanças são encaradas como um sacrifício muito grande para quem (pelo menos inicialmente) não está sentindo nada. "Por isso, a maioria das pessoas só procura ajuda quando alguma doença já está instalada e em processo avançado?, reconhece a cardiologista. Foi o que aconteceu com o bancário José Roberto de Andrade, 50 anos, que só procurou o médico quando não suportava mais as dores no peito, há cinco anos. "Eu era fumante, estava acima do peso ideal e comia muito e de tudo", declara João, que hoje tenta controlar, com remédios, as taxas de triglicerídeos e colesterol. "Tomo onze comprimidos por dia", acrescenta. Assim como o bancário, a costureira Elisabeth Alves dos Santos, de 63 anos, demorou para buscar ajuda médica. ?Sempre sentia dores no braço e achava que era por ficar muito tempo costurando?, lembra. Hoje, Elisabeth é obrigada a manter uma dieta regulada e precisa tomar remédio para afastar o risco de infarto.
Uma das alternativas mais eficientes para se medir o risco que sintomas como as dores irradiadas representam ao paciente é a ecocardiografia de esforço. O exame, que pode ser associado a outros, utilizados na cardiologia, é uma forma de ultra-som não invasivo e que não usa radiação, tornando-se, por isso, mais acessível. O resultado do exame permitirá estabelecer qual o tipo de tratamento que deve ser aplicado, para que ele não precise ? dependendo de seu quadro clínico – ser submetido a uma cirurgia invasiva sem necessidade.