Num abrir e fechar de olhos o seu coração pode parar. Mesmo quem segue à risca os conselhos dos especialistas pode, a qualquer instante, sentir uma forte dor no peito e passar por uma situação emergencial e correr risco de morte. Todos os anos mais de 10 milhões de pessoas, em todo o mundo, morrem devido a doenças cardiovasculares. No Brasil, esta é a principal causa de morte e de incapacidade. Mais de 80% dos episódios que ocorrem em indivíduos com mais de 35 anos são originados por doença das coronárias.
Mesmo assim, muitas pessoas não seguem o tratamento proposto pelo médico, apesar de apresentarem fatores de risco para as doenças cardíacas ou desconhecer o nível da sua pressão arterial. De acordo com o cardiologista Antônio Augusto Arruda Silveira Júnior, diretor clínico do Instituto Lyon de Reabilitação, no Brasil são registrados 500 mil infartos agudos do miocárdio por ano, ou seja, um a cada dois minutos. ?Somente 10% deste total, no entanto, têm tratamento adequado nos primeiros momentos após a sua ocorrência?, adverte o médico. Conforme dados da Federação Mundial de Cardiologia, tais números podem revelar um dado ainda mais preocupante: o de que as pessoas não estão se tratando corretamente para evitar a doença cardíaca.
O cardiologista alerta que, apesar de muitas pessoas programarem check-ups anuais, o problema é que testes de rotina como o eletrocardiograma e o teste ergométrico realizados nessas consultas são, em muitos casos, interpretados de forma equivocada.
Risco não descartado
O fato de esses exames não detectarem alterações das funções cardíacas, de acordo com Silveira Júnior, não é indicativo de que o paciente não corre risco de apresentar uma doença cardíaca. Conforme o médico, o eletrocardiograma e o teste ergométrico servirão para interpretar ausência de doença coronariana no exato momento do exame. ?Isto não quer dizer que nos próximos 30 ou 40 dias esta pessoa não seja vítima de um infarto?, observa.
Mesmo que os exames revelem algum sofrimento cardíaco e o histórico do paciente obrigue o médico a prescrever mudança de hábitos de vida, tratamento medicamentoso, entre outras condutas clínicas, a aderência a esses procedimentos só é respeitada durante um período muito curto de tempo. ?Enquanto o paciente está sob o efeito do susto do diagnóstico?, admite Silveira Júnior.
Como regra geral, grande parte da população, mesmo apresentando todos os fatores de risco para as doenças cardíacas e, contrariando todas as recomendações médicas, não seguem o tratamento proposto. Assim, quem fumava não larga o cigarro; quem é sedentário continua sem fazer exercício; quem se alimenta mal continua ingerindo comida gordurosa e pouco saudável. O médico conclui que o máximo que os pacientes se permitem a fazer é comprar remédios para controlar a pressão arterial acreditando que, ao controlar tal fator de risco, estão livres de todos os outros que às predispõem à doença cardíaca.
Obstrução à vista
Os problemas cardíacos começam quando as artérias coronárias que nutrem o músculo cardíaco ficam obstruídas, como conseqüência do depósito de gorduras e outras substâncias que se vão acumulando no seu interior, dando origem à formação de placas de aterosclerose. As artérias vão ficando mais estreitas, levando a uma diminuição do fornecimento de oxigênio e de nutrientes ao músculo cardíaco. À medida que a idade avança, o risco para a formação destas placas vai aumentando.
"As artérias como todos os órgãos sofrem um processo normal de envelhecimento, acumulando as tais gorduras e proporcionando um rápido desenvolvimento da doença", explica o cardiologista Hélder Pereira. A forma mais grave ocorre quando uma dessas artérias sofre uma lesão, obstruindo completamente a artéria coronária e provocando uma situação que conduz ao ataque cardíaco (infarto do miocárdio).
Condições amplamente conhecidas, como alterações no estilo de vida, tabagismo, colesterol elevado, hipertensão arterial, diabetes e obesidade são alguns dos fatores que comprometem a saúde do coração e podem dar origem à doença coronária, mesmo entre as pessoas mais jovens.
As armas para o coração bater forte
Reduzir o colesterol
O colesterol pode ser controlado por meio de uma alimentação à base de alimentos baixos em gorduras e de exercício físico regular.
Abandonar o cigarro
O tabaco ajuda a obstruir os vasos sanguíneos e a nicotina obriga o coração a bater mais rapidamente, às vezes de forma irregular.
Controlar a pressão arterial
Os primeiros passos para controlar a tensão arterial alta são a dieta, o exercício e a perda de peso. Os medicamentos, quando indicados pelo médico, podem evitar graves problemas cardiovasculares.
Controlar o diabetes
Pacientes diabéticos, devem duplicar os cuidados.
Vigiar o peso
Optar por refeições pequenas e várias vezes ao dia, menos gorduras e produtos com baixo nível de açúcar.
Controlar o estresse
Evitar situações que possam irritar e diminuir o consumo de estimulantes, como o café ou o tabaco.
Manter uma alimentação saudável
Dê preferência às frutas, saladas e legumes, lacticínios magros, peixe e azeite. Exclua carnes gordas, gorduras saturadas e comidas com muito sal ou açúcar.
Praticar exercício físico
Uma vida física ativa combate as doenças cardiovasculares, além de proporcionar uma sensação de bem-estar.
Mulheres em perigo
Há uma procura crescente de mulheres por tratamentos preventivos para as doenças cardiovasculares |
Recente pesquisa realizada no Hospital do Coração, em São Paulo, constatou um aumento significativo do número de mulheres em busca de tratamentos preventivos às doenças cardiovasculares. Embora este setor seja mais freqüentado pelo público masculino, observa-se uma tendência de aumento entre as mulheres que estão preocupadas com o fator prevenção. O estudo comprovou que as mulheres já são responsáveis por 30% dos exames cardíacos no universo de atendimento geral.
Apesar de todo avanço no conhecimento fisiopatológico, terapêutico e tecnológico, as doenças cardiovasculares têm sido a principal causa de morte no Brasil e no mundo, sendo responsáveis por um terço de todas elas. Nas mulheres, o risco torna-se mais acentuado quando elas chegam a uma idade mais avançada. Porém, com a participação cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho, que ocasiona maior nível de estresse, além do tabagismo, sedentarismo e alimentação inadequada, tais eventos vêm ocorrendo cada vez mais cedo.
Segundo o cardiologista César Jardim, responsável pelo estudo, todo esforço deve ser feito no sentido de identificar e controlar os fatores de risco – que são os mesmos entre homens e mulheres. Entre elas, os que causam maior impacto são a hipertensão arterial e o diabetes.
Hipertensão e diabetes
A hipertensão – que tem uma taxa de incidência de 30% na população brasileira e evolui progressivamente com a idade, chegando a 65% após os 60 anos – também aumenta em quatro vezes os riscos de doenças arteriais coronárias quando comparado às mulheres com pressão arterial normal. O tabagismo, outro fator de risco importante, aumenta em média três vezes esse risco (com 30% de risco de óbitos). Dados de um estudo norte-americano também fazem uma associação direta entre a obesidade e a incidência de 70% dos casos de doenças arteriais coronárias.
?A prevalência de diabetes no Brasil e no mundo é de aproximadamente 7,6% e tem igual incidência em homens e mulheres, porém a incidência das doenças do coração é de 3 a 7 vezes maior em mulheres diabéticas do que em não-diabéticas?, alerta César Jardim. Com efeito, as mulheres nunca estiveram tão expostas ao infarto, doença tradicionalmente masculina.
Conforme a Sociedade Brasileira de Cardiologia, grande parte das mulheres desconhece sua taxa de colesterol e não faz a menor idéia de que está correndo risco de sofrer um ataque cardíaco. As recomendações que assustam os homens parece que, agora, encontram eco entre elas, afinal tal preocupação precisa ser imediatamente difundida, pois, há quase duas décadas, a taxa anual de mortalidade por doenças cardíacas no Brasil é maior em mulheres do que em homens.
Mamães também correm risco
Coração de mãe também precisa estar preparado para emoções fortes e um estado de alerta praticamente permanente.
A responsabilidade sobre os filhos, somada à dupla ou, às vezes, tripla rotina de trabalho, exige atenção especial. Segundo o cardiologista Everton Dombeck, do Hospital Cardiológico Costantini, é comum que as preocupações de mãe colaborem com o aparecimento de problemas cardíacos nas mulheres.
Os motivos mais freqüentes passam pelo estresse, preocupações com a violência, falta de perspectiva futura ou de oportunidades para os filhos e, principalmente, a drogadição e o alcoolismo por parte dos filhos. "Muitas mães chegam ao consultório com um quadro de somatização de todos esses problemas e responsabilidades, que acabam sendo o principal motivo para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares", diz o médico.
A dica é que não esqueçam de cuidar de si, mantendo uma rotina de exercícios físicos, alimentação saudável, exames preventivos, tanto ginecológicos quanto cardíacos, além de dizer não ao tabagismo e ao alcoolismo.
Fatores de risco
* Jornada de trabalho excessiva
* Alta competitividade no mercado de trabalho
* Fortes tensões emocionais
* Alimentação inadequada
* Sedentarismo
* Consumo de tabaco
* Hereditariedade de doenças cardiovasculares
* Alto índice de colesterol e triglicérides
* Pressão alta
* Obesidade
* Diabetes