Conheça um pouco sobre a esquizofrenia

Joana, 26 anos, escutava vozes, falava com pessoas que não existiam e se tornava agressiva com seus familiares. Não quer falar com ninguém. Tem um filho de três anos, sob os cuidados da avó. Há um ano faz um tratamento psiquiátrico que a deixa sonolenta e a faz ganhar peso. Seu diagnóstico é de esquizofrenia, uma doença mental que se caracteriza classicamente por um agrupamento de sintomas, entre os quais alterações do pensamento e do humor, alucinações, delírios e perda do contato com a realidade.

De acordo com Hélio Elkis, professor associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, a doença afeta a habilidade de organizar as idéias, a capacidade de expressar emoções e a motivação para atividades normais do dia-a-dia. ?As reais causas da esquizofrenia ainda são desconhecidas, mas ela tem um forte apelo genético?, reconhece o médico, salientando que a possibilidade de familiares desenvolverem a doença é algo em torno de 10%, surgindo com mais freqüência no início da vida adulta, depois dos 20 anos de idade.

Mente brilhante

De acordo com o psiquiatra Itiro Shirakawa, autor do livro Esquizofrenia – Adesão ao tratamento, os casos mais graves são os que ocorrem ainda na adolescência. ?É uma doença que, se não for tratada a tempo, compromete para a vida toda?, afirma. O especialista explica que quanto mais cedo ocorrer o tratamento, melhor. ?Quanto mais tempo o paciente ficar em surto, e quanto mais surtos tiver, mais comprometida ficará a sua capacidade?, alerta. Hélio Elkis completa que os medicamentos servem para tentar restabelecer o equilíbrio no paciente.

José Alberto Del Porto, professor titular do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp, explica que o reconhecimento precoce da esquizofrenia é uma tarefa difícil porque nenhuma das alterações que a doença provoca é de sua exclusividade. ?Estas alterações são comuns a outras enfermidades e, também, a desvios de comportamento?, comenta.

Na história, há vários exemplos de nomes famosos que foram diagnosticados como esquizofrênicos, como o matemático John Forbes Nash, retratado no filme Uma Mente Brilhante, de 2001, que mostrou a inquietante realidade construída por quem perdeu a conexão com a realidade. Na obra, o ganhador do Prêmio Nobel de Matemática, portador da doença, descobriu que muita coisa que passava ao seu redor era fruto da sua imaginação.

Idéias suicidas

Uma das maiores dificuldades dos portadores de esquizofrenia é a aceitação da doença, primeiro pelo próprio doente e por sua família, depois pelo grupo de amigos e pela sociedade de uma forma geral. Edson, paciente de 23 anos, reclama: ?Se você fala que tem a doença ninguém te quer por perto, acham que você é louco?. Esse obstáculo pode acabar desencadeando a marginalidade do indivíduo, levando-o ao uso de drogas e álcool e até mesmo a idéias suicidas.

Por não ter uma causa definida, o diagnóstico da esquizofrenia é feito a partir de uma avaliação das manifestações da doença, não existindo nenhum tipo de exame que a confirme. Muitas vezes o médico solicita exames que servem apenas para excluir a incidência de outras doenças com manifestações semelhantes à esquizofrenia. Por isso, os especialistas recomendam que familiares e amigos devam estar atentos para atitudes e comportamentos alterados entre adolescentes. ?O diagnóstico precoce amplia a chance de o paciente levar uma vida mais próxima do normal?, reconhece Del Porto, salientando que o tratamento deve ser baseado no controle dos sintomas e na tentativa de reintegração do paciente ao convívio social.

Parâmetros para observar

* Dificuldade para dormir

* Isolamento social

* Períodos alternados de hiperatividade e inatividade

* Dificuldade de concentração

* Hostilidade, desconfiança e medos injustificáveis

* Reações exageradas

* Abandono da higiene pessoal

* Reações emocionais não habituais

* Sensibilidade excessiva a barulhos e luzes

* Afirmações irracionais

* Auto-mutilação

* Choro injustificado ou risos imotivados

* Abuso de álcool ou drogas

Sintomas desencontrados

Positivos

* Alucinações

* Delírios

* Paranóia

* Desorganização do pensamento

* Alterações do comportamento

Negativos

* Falta de emoções

* Dificuldade de concentração

* Falta de interesse em se relacionar

* Alterações da motricidade

* Indiferença

Vantagens sem fim

Novos medicamentos possibilitam maior controle da esquizofrenia e dos efeitos colaterais que trazem prejuízos à saúde do portador.

A ciência tem feito sua parte para tentar amenizar esse sofrimento dos portadores de esquizofrenia. Novos medicamentos estão permitindo um melhor controle dos sintomas da enfermidade, como alucinações e delírios, com a vantagem de causarem menos efeitos colaterais do que os antipsicóticos antigos, que podem gerar graves efeitos colaterais nos pacientes, principalmente a síndrome metabólica, que traz importantes repercussões clínicas quanto à saúde geral dos pacientes e à aderência ao tratamento de longo prazo. “A obesidade, por exemplo, leva os pacientes a desenvolverem outras conseqüências, como doenças cardiovasculares, hipertensão, AVC e diabetes”, esclarece o endocrinologista Saulo Cavalcanti, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Os remédios atuais, como o aripiprazol, da Bristol-Myers Squibb, além de atenuarem as manifestações negativas da doença, não causam tais transtornos. O remédio causa menos efeitos colaterais. O psiquiatra João Alberto Campos, que participou ativamente de um estudo internacional sobre esquizofrenia, do qual o Brasil teve um número significativo de pacientes avaliados, diz que os pacientes tratados com o novo medicamento demonstraram uma diminuição significativa no peso e nos níveis de triglicérides e colesterol total. “O aripiprazol consiste num ótimo recurso para se evitar os fatores de risco associados às doenças cardiovasculares”, garante.

Saulo Cavalcanti defende a integração do trabalho do psiquiatra com o endocrinologista para tentar amenizar os sintomas da síndrome metabólica entre os pacientes de transtornos mentais. “No consultório do psiquiatra não tem balança, mas deveria”, enfatiza. O paciente, conforme o endocrinologista, também sofre com o excesso de comida ofertada pela família, que considera, inadvertidamente, que “encher a barriga vai deixá-lo mais feliz.”

A inclusão do medicamento na lista de remédios de alto-custo, cuja última atualização ocorreu em 2002, também poderá trazer economia aos cofres públicos, pois, além das significativas vantagens terapêuticas proporcionaria, também, economia significativa ao orçamento do governo federal. Estudos preliminares estimam uma economia de R$ 20 milhões ao ano, só com a incorporação dos novos produtos à lista de alto-custo.

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