Comedores seletivos devem ser monitorados

“Minha filha tem 1 ano e 3 meses. Ela sempre comeu e mamou pouco, mas depois que completou 1 aninho piorou. Já fiz de tudo, levei na nutricionista e agora ela está sob tratamento homeopático, mas a médica disse que só vai melhorar quando eu deixar de ficar ansiosa… estou tentando e já melhorei muito, mas acho impossível uma mãe não se preocupar com essa situação.”

Nos primeiros anos de vida dos filhos é comum escutar dos pais a reclamação de que os pequenos não se alimentam bem. São aquelas crianças, geralmente, com idade entre um e cinco anos, que começam a apresentar menor interesse pela comida e frequentes oscilações na preferência e aceitação dos alimentos.

Apelidadas nos Estados Unidos por picky eaters (termo que pode ser traduzido por “comedores seletivos”), essas crianças têm um comportamento alimentar que pode variar de excluir determinados grupos de alimentos – verduras, legumes ou peixe, por exemplo – a pular refeições, além de, invariavelmente, comer pouco.

De acordo com especialistas, em torno de 50% das crianças podem ser identificadas pelos pais por “comedores seletivos”. Entretanto, para os responsáveis por nutrir esses pequenos, não é simples lidar com esse problema. Cabe à nutricionista ou ao médico – na maioria das vezes, o primeiro a ser procurado é o pediatra – ajudar a identificar tal comportamento.

Campo de batalha

Entre as recomendações dos especialistas está observar se a criança aceita somente um modo de apresentação e preparo dos alimentos ou se ela gasta muito tempo para se alimentar (as crianças que não comem bem levam, em média, 23 minutos para completar a refeição, enquanto o tempo gasto pelas outras crianças é de, no máximo, 19 minutos).

Diversos motivos impulsionam as crianças a assumir essa postura diante da comida. Entre as influências comuns nessa fase da vida, estão a desaceleração do crescimento, que acontece a partir de um ano de idade, e que tem como conseqüência a diminuição do apetite; a capacidade gástrica limitada, isto é, crianças pequenas têm estômagos pequenos, e a troca da dentição.

Por outro lado, fatores externos também podem determinar um comportamento repulsivo aos alimentos – os hábitos da própria família, por exemplo, têm enorme peso nas decisões da criança.

Além disso, o momento da refeição acaba sendo usado como uma maneira de chamar atenção, de mostrar capacidade de decidir por si e, até mesmo, negociar com os pais.

“A refeição é um campo de batalha natural para a criança, a primeira oportunidade de experimentar independência”, analisa o nutrólogo e pediatra Mauro Fisberg.

Reforço nutricional

Se o grau de dificuldade alimentar da criança chega a interferir substancialmente em sua socialização e desenvolvimento, é necessária uma intervenção especializada.

Por outro lado, a criança com essas características não desenvolve doenças orgânicas e, sim, carências nutricionais. No entender do médico, tudo depende da percepção dos pais.

“Reações negativas como chorar, cuspir e até vomitar diante de novos alimentos, lapsos de atenção e concentração, variações de peso e apatia são sinais de que os pais precisam estar alertas”, reconhece Fisberg.

Para solucionar o problema, pode ser necessária a indicação de um tratamento que deve incluir orientações nutricionais, comportamentais e psicológicas, não só para a criança, mas, também, para os pais e irmãos.

“As divergências na hora da comida causam ruídos de comunicação entre pais e filhos, podendo até interferir no relacionamento do casal”, pondera o pediatra. Seguir algumas dicas e apostar em complementos ou suplementos alimentares específicos para a idade pode melhorar o aporte nutricional dos pequenos e acalmar os â,nimos à mesa.

Hábitos que ajudam

* Evitar distração durante a refeição
* Adotar atitude neutra diante de rejeições
* Criar refeições que incentivem o apetite
* Oferecer alimentos adequados a cada idade
* Limitar a duração das refeições
* Oferecer menor quantidade de “comidas favoritas”
* Oferecer frutas, legumes e verduras em todas as refeições
* Limitar o consumo de líquidos durante a refeição
* Tolerar, com moderação, a bagunça com a comida, apropriada para a idade
* Respeitar períodos de pouco apetite e preferências alimentares

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