A gotinha age de forma eficaz no combate à transmissão do vírus selvagem.

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Há mais de 15 anos não se registra um caso de poliomielite (paralisia infantil) no País. O dado reflete a seriedade que o Brasil tem demonstrado no combate à doença. Mesmo assim, não dá para relaxar. A pólio ainda existe em sete países e seu vírus pode retornar ao Brasil por meio de viajantes. Por isso, todos os anos o Ministério da Saúde promove em duas etapas a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite. A primeira etapa será hoje. Todas as crianças menores de 5 anos precisam tomar a gotinha em um dos 117 mil postos de vacinação espalhados pelo País.

“A meta do Ministério da Saúde é vacinar, em 2004, mais de 17 milhões de crianças menores de 5 anos, em parceria com estados e municípios”, afirma o diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Expedito Luna. Para isso, o governo investiu R$ 23,1 milhões somente na primeira etapa da campanha. Desse total, R$ 11 milhões representam o custo da compra das doses da vacina. Outros R$ 6,2 milhões foram destinados ao repasse, fundo a fundo, para estados e municípios se prepararem para a mobilização. Foram gastos ainda R$ 6 milhões para a produção de cartazes, fôlderes, outdoors, busdoors e para a divulgação da campanha no rádio e na televisão.

Expedito explica que, com a realização das campanhas, o Ministério da Saúde conseguiu eliminar a transmissão da pólio. “Pretendemos ir além da meta mínima necessária para manter a doença erradicada, o que corresponde a 95% de cobertura, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nosso objetivo é vacinar todas as crianças menores de 5 anos”, ressalta o diretor. Um resultado importante produzido pela campanha é que, nos dias seguintes, milhões de crianças vacinadas expelem no meio ambiente os vírus vacinais, que servem para combater a doença, formando uma verdadeira cadeia de resistência contra o vírus selvagem da pólio.

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Todas as crianças menores de 5 anos devem ser vacinadas, mesmo as que estiverem com tosse, gripe, rinite ou diarréia. “É preciso ressaltar que não existe tratamento para a poliomielite. Somente a prevenção, com a vacina, garante a imunização contra a doença”, alerta Expedito.

A vacina é segura e não tem contra-indicações. Expedito destaca que, no caso de crianças que sofrem de doenças graves, recomenda-se que os pais consultem profissionais nos postos e centros de saúde da sua cidade, pois existe a possibilidade de um procedimento diferenciado. Nesses casos, pode ser necessário que a criança receba uma dose injetada, com um vírus inativado.

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Quatrocentos e quarenta mil pessoas, entre servidores da Saúde e voluntários, participam da campanha. Para o transporte das equipes de vacinação, as autoridades irão disponibilizar 39 mil automóveis, 2,5 mil embarcações e cinco aeronaves. “Essa é a maior mobilização do mundo para vacinação em massa de crianças”, destaca Expedito. O esforço das autoridades de Saúde é para facilitar, de todas as formas, o comparecimento das crianças aos postos de vacinação, em todo o País, no dia 5 de junho”, acrescenta.

Vírus selvagem provoca doença

A poliomielite é uma doença provocada por um vírus chamado poliovírus. A transmissão do vírus selvagem, causador da doença, acontece pelas fezes, normalmente em locais de condições sanitárias e de higiene precárias. A multiplicação ocorre no organismo da pessoa que teve contato com essas fezes.

O vírus da pólio se desenvolve na garganta ou intestinos e dissemina-se pela corrente sangüínea. A partir daí, contamina o sistema nervoso, onde sua multiplicação pode provocar a destruição de células (neurônios motores). Com isso, o portador desenvolve a paralisia flácida, que é a perda temporária ou permanente dos movimentos, em geral dos membros inferiores.

A prevenção da poliomielite começa pouco depois do nascimento de uma criança. O bebê precisa tomar as primeiras doses da vacina aos 2, 4 e 6 meses de idade, com um reforço aos 15 meses. Mesmo tendo tomado as doses regulares, o Ministério da Saúde recomenda a vacinação de todos os menores de 5 anos durante as campanhas. Esse procedimento equivale a um reforço na imunização contra o vírus da poliomielite.

“Por segurança, as campanhas só acabarão quando a doença for erradicada em todos os países”, afirma Expedito Luna. Há registros de casos de pólio no Afeganistão, Egito, Índia, Níger, Nigéria, Paquistão e Somália. Além dessas áreas, a OMS considera como regiões em que ainda é alto o risco de reintrodução da poliomielite Angola, Bangladesh, República Democrática do Congo, Etiópia, Nepal e Sudão.

A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde estabeleceu como estratégias para prevenção da pólio a vigilância dos casos de paralisia flácida aguda, uma boa cobertura nas vacinações fora das campanhas e os dias nacionais de vacinação, em junho e agosto. Até a década de 70, antes das Campanhas Nacionais de Vacinação contra a Poliomielite, registravam-se cerca de três mil casos da doença por ano no Brasil.

PR quer vacinar pouco mais de 900 mil crianças

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) também lança hoje a campanha de combate à poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, em todo o Paraná. O objetivo é vacinar 95% das crianças com menos de cinco anos. Entretanto, a meta da Secretaria da Saúde é vacinar 100% da população nessa faixa etária, o que equivale a 900.191 crianças.

O processo ocorrerá em duas etapas, a primeira hoje e a segunda no dia 21 de agosto. Para esta primeira etapa, foram disponibilizadas 1,5 milhão de doses de vacina Sabin, distribuídas entre os 9,2 mil postos de saúde do Estado. Cerca de 15,2 mil pessoas estarão trabalhando nesta etapa da campanha das 8h às 17h.

“É sempre importante ressaltar a importância de se levar a carteira de vacinação, já que este é o instrumento de controle e para atualização de doses de outras vacinas que possam estar em atraso”, alerta Mirian Woiski, chefe do Departamento de Doenças Imunopreveníveis da Secretaria da Saúde.

A campanha é um compromisso com a população de se erradicar essa doença, que não apresenta um caso no País desde 1989 e, no Paraná, desde 1986. Dessa maneira, é fundamental não permitir a formação de grupos suscetíveis (indivíduos sem proteção) em todo o território nacional. “As vacinas contra a poliomielite estão disponíveis fora de época de campanha de vacinação nas unidades de saúde”, lembrou Mirian.

Oportunidade para atualizar cartão no campo

Durante a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite, os postos de saúde vão aproveitar para atualizar o cartão de vacina da população rural. Serão oferecidas, por exemplo, as vacinas tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), DT (difteria e tétano), febre amarela e hepatite B. A idéia do Ministério da Saúde é reforçar a vacinação em locais de difícil acesso, onde as coberturas vacinais são menores.

Em relação à vacinação contra a pólio, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) estabelece que os estados devem atingir a cobertura mínima de 95% em pelo menos 80% dos municípios. O objetivo é garantir a homogeneidade da vacinação e evitar o reaparecimento da doença. “A estratégia brasileira não só mantém o País livre da poliomielite, como também integra uma rede mundial para a manutenção da erradicação dessa doença”, diz o diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Expedito Luna.

Em 2004, a estratégia contra a poliomielite no Brasil completa 24 anos de existência. Em 1994, o continente americano recebeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) o reconhecimento pela erradicação da transmissão autóctone (originária do próprio território) da doença. Os países do Pacífico Ocidental receberam o reconhecimento em 2000 e a Europa, em 2002.