Genebra – A comunidade internacional celebra, amanhã, o dia de combate à hanseníase, uma doença já registrada até na Bíblia e nas civilizações antigas e que nos últimos 20 anos sofreu uma redução como poucas experimentaram. Desde 1985, 12 milhões de pessoas foram curadas da hanseníase no mundo. Mas segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil, Índia e outros quatro países ainda representam 90% dos 755 mil casos registrados no mundo.
Segundo a Novartis, empresa que fornece de forma gratuíta os remédios para o tratamento da doença no Brasil, a incidência da hanseníase no País é a segunda maior do mundo. Esse número é superado apenas pela Índia, com 367 mil casos, mas uma população bem superior à brasileira.
Apenas em 1998, 44 mil novos casos foram registrados no País, 58% acima das taxas de 1988. Nesse mesmo período, o mundo havia conseguido progressos significativos e, segundo a OMS, 108 países eliminaram a doença.
Os sintomas da hanseníase podem levar até 20 anos para aparecer e, embora seja curável e não seja classificada como uma doença altamente contagiosa, a hanseníase pode deixar graves conseqüências se não for tratada em seus estágios iniciais. Desde a década de 80, a OMS recomenda o tratamento a partir de três remédios: dapsone, rifampicin e o clofazimine. Apenas uma dose da terapia seria suficiente para impedir a transmissão da doença e, em doze meses, uma pessoa está curada.
Para Penny Grewal, representante da Fundação Novartis para o Desenvolvimento Sustentável, o problema não é o custo do medicamento, mas o acesso da população a um sistema de saúde que esteja preparado para tratar da doença. "Há uma coincidência entre as regiões mais pobres e a incidência da hanseníase no Brasil", afirmou a especialista, que acredita que a atual estratégia adotada pelo governo pode finalmente reduzir o número de pacientes no País. "Temos confiança", disse a representante, que garante que a Novartis irá continuar doando os medicamentos até que o Brasil chegue à eliminação da doença.
A OMS sugere que os países que queiram eliminar a doença devem contar com um forte compromisso político e precisam garantir o tratamento e o diagnóstico em seus sistemas de saúde. "A OMS estima que ao detectar de forma precoce o problema e garantindo o acesso aos remédios, entre três e quatro milhões de pacientes conseguiram evitar se tornar pessoas incapacitadas", afirma a agência de saúde da ONU. Outro obstáculo no tratamento precoce é o estigma da doença. "O Brasil é um dos únicos países onde a doença não pode ser chamada de lepra", afirma Penny Grewal. "A imagem da lepra precisa ser mudada nos níveis local, nacional e mundial", afirma a OMS.
Doença atinge 29,7 mil brasileiros
Brasília – Apesar do esforço do governo em combater a hanseníase, a doença ainda atinge 29,7 mil brasileiros, dos quais 4 mil têm até 15 anos de idade. Isso significa que existe 1,6 casos a cada 10 mil habitantes. O número foi divulgado ontem pelo Ministério da Saúde durante o lançamento da segunda edição das "Cartas de Eliminação da Hanseníase", um documento que mostra a situação nacional do mal, estado por estado. O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, considera a quantidade de doentes ainda muito elevada. No entanto, o número está próximo da meta traçada pelo Brasil diante da OMS em 1991, de reduzir as vítimas da hanseníase a menos de um caso por grupo de 10 mil habitantes. Segundo Barbosa, essa meta será atingida em dezembro deste ano. "Mas não ficaremos só na meta, pretendemos ir além. O Brasil tem condições de reduzir as ocorrências da doença nos municípios a menos de um caso por 10 mil habitantes até 2010", acredita. De acordo com os dados divulgados, a situação mais alarmante está na região Norte.