A utilização prolongada de cocaína danifica os circuitos cerebrais que ajudam a produzir a sensação de prazer, o que poderá explicar as altas taxas de depressão dos viciados nesta droga.

Segundo um estudo norte-americano, não é evidente se a cocaína mata as células cerebrais ou se apenas as enfraquece, ou até se o efeito é reversível, explicou o autor Karley Little, acrescentando que os resultados do trabalho são assim mesmo preocupantes para os viciados em cocaína.

– Pessoalmente não gostaria de perder entre 10% e 20% dos meus neurônios centrais ligados ao prazer, ou tê-los danificados ou funcionando mal – disse Little, do Centro Médico da Universidade de Michigan.

O cientista estudou amostras de cérebro recolhidas durante autópsias realizadas em usuários regulares de cocaína.

Os resultados do seu trabalho são publicados na edição de janeiro do American Journal of Psychiatry.

Little disse que a pesquisa não revelou se os danos cerebrais resultam de muitos anos de consumo ou se são consequência de um uso recente de cocaína antes da morte.

Stephen Kish, diretor do laboratório para o estudo do cérebro humano do Centro para Dependência e Saúde Mental de Toronto, disse que pesquisadores ?sempre consideraram a cocaína como uma droga perigosa? devido ao seu potencial para criar dependência e pelos danos causados ao coração.

– Temos agora de juntar à lista dos riscos o efeito prejudicial da cocaína no cérebro, algo que não esperávamos – disse Kish.

A pesquisa fornece uma ?peça do quebra-cabeça? para explicar porque os usuários de cocaína têm maior risco de sofrer de depressão, disse Deborah Mash, neurocirurgiã da Faculdade de Medicina da Universidade de Miami.

O estudo também explica se a cocaína causa depressão ou se as pessoas recorrem à droga porque estão deprimidas.

Em ambos os casos, disse Mash, o estudo sugere que as alterações cerebrais poderão ?detonar o estopim? para a depressão num usuário de cocaína que tenha predisposição para que tal aconteça.

O estudo indica ainda que as alterações cerebrais poderão causar a depressão vulgarmente registrada na ausência de cocaína, disse Mash.

Durante os trabalhos, Little e os seus colegas estudaram amostras cerebrais recolhidas de 35 usuários de cocaína e outros 35 não usuários em condições de idade e sexo semelhantes.

Os cientistas mediram os níveis de proteína VMAT2, encontrada nas células cerebrais que comunicam umas com as outras pela dopamina.

Os neurônios de dopamina formam circuitos que desempenham um papel crítico para que o cérebro seja capaz de sentir prazer.

– O estudo permitiu descobrir que nos usuários de cocaína os níveis de VMAT2 são mais baixos que a média, o que poderá sugerir que os neurônios de dopamina foram danificados ou mortos, um efeito não observado em estudos animais, ou que produzem menos VMAT, sugerindo que produziriam também menos dopamina, disse Little.

continua após a publicidade

continua após a publicidade