A cleptomania é um tipo de transtorno mental muito mais recorrente do que a população imagina. Apesar de ser tratado frequentemente em filmes e novelas, é na vida real que o distúrbio vem à tona, causando diversos contratempos na vida das pessoas. A doença se caracteriza pela dificuldade em resistir a impulsos de furtar determinados objetos, mesmo que eles não tenham importância nem valor. Não existem dados que quantifiquem o problema, mas estima-se que 5% dos furtos em lojas e supermercados de devem aos cleptomaníacos.
Artista de sucesso internacional, Winona Ryder, há alguns atrás, esteve nas manchetes não pelo seu desempenhos em filmes, mas por tentar furtar objetos de uma loja de departamentos, sendo flagrada pelas câmeras do circuito interno de segurança. É nesse ponto que a doença ?pega?, pois é caracterizada por uma compulsão desenfreada para o roubo, mesmo em pessoas de condição econômica acima da média, como a atriz. ?O transtorno acomete pessoas de todas as classes sociais?, frisa a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes inquietas, que trata do tema.
Motivações
De acordo com a médica, as pessoas que sofrem do distúrbio perdem o controle, se sentem cada vez mais carentes e são capazes de furtar objetos nos mais diversos locais ou ocasiões. Desde um vidro de esmalte até artigos mais caros, como jóias e roupas de grife. Ana Beatriz destaca que o cleptomaníaco não furta para acumular bens ou ficar rico. Invariavelmente, ele tem plena consciência do que está fazendo, sabe que não é correto e, na maioria das vezes, se sente culpado e com remorso.
A cleptomania costuma ser mais comum entre as mulheres, afetando, na sua maioria, pessoas adultas, mais resistentes em procurar auxílio médico. Os adolescentes são os que mais procuram ajuda, afirma Fábio Augusto Caló, psicólogo e terapeuta comportamental. ?Começamos a aventar a hipótese diagnóstica de cleptomania quando o pai ou algum familiar afirma que ele não precisa disso, que tem condições de comprar?, observa o terapeuta.
A psicóloga Maria da Graça Padilha diz que, tal como ocorre em outras compulsões, como o uso abusivo de álcool e drogas ou no jogo patológico, a pessoa passa por certa tensão antes de praticar o furto e, depois, é tomada por uma sensação de prazer e satisfação. ?Existem muitas motivações que levam a pessoa ao furto e elas variam conforme cada caso?, explica. Ela cita como importante fator o significado que a falta do objeto desejado reflete nas suas questões afetivas. Para ela, conforme o caso, o roubo tem apenas um valor simbólico no processo de resgate da estima ausente.
Afeto e compreensão
Desde muito cedo os pais devem ficar atentos aos sinais emitidos por seus filhos. A melhor maneira de prevenir que uma criança se desvie para a cleptomania é lhe dando todo o afeto que necessita. Conforme Maria da Graça, nesse ponto, o que vale é a qualidade do afeto, não a quantidade. Os pais devem ficar atentos aos atos de seus filhos. Quando aparecerem com algum objeto que não lhes pertence (lápis, borracha ou brinquedo) as crianças devem ser orientadas a devolvê-lo, com os pais explicando a gravidade de tal ato.
De acordo com Ana Beatriz, o desaparecimento definitivo da cleptomania é muito difícil. Por isso, ao menor sinal os pais devem procuram um profissional capacitado para tentar impedir sua evolução. Há várias formas de psicoterapia eficazes no tratamento de cleptomaníacos. Uma indicação seria a psicoterapia comportamental, que tem por objetivo modificar os pensamentos e comportamentos do paciente. O uso de medicamentos ajuda no tratamento, mas o profissional deve buscar o desenvolvimento do autocontrole da pessoa, promovendo um diálogo aberto com o paciente, sem jamais culpá-lo pelo seu ato. É importante fazê-lo compreender o que a doença causa para si mesmo e para a sociedade, envolvendo muitas vezes a família e os amigos.
A origem da palavra
Cleptomania: do grego klépto e manía, pelo latim cleptare e mania, em ambas as línguas com os respectivos significados de furtar, roubar, dissimular e mania. É o hábito patológico de subtrair objetos – não confundir com o furto provocado por necessidade, nem com a atividade do pequeno bandido, que comercializa os artigos tomados. A pessoa cleptomaníaca não resiste ao impulso compulsivo de furtar todo tipo de coisas que não são necessárias, nem cobiçadas por seu valor, e não sabe explicar essa perda de controle.
Como identificar a doença
>> Fracasso recorrente em resistir aos impulsos de furtar objetos que não são necessários para o uso pessoal ou por seu valor monetário
>> Sentimento aumentado de tensão imediatamente antes da realização do furto
>> Prazer, satisfação ou alívio no momento de cometer o furto
>> O furto não é cometido para expressar raiva ou vingança, nem ocorre em resposta a um delírio ou alucinação
>> O furto não é melhor explicado por um transtorno de conduta, um episódio maníaco ou um transtorno da personalidade anti-social