Claridade é inimiga da enxaqueca

A exposição prolongada ao barulho e a luz intensos, em especial a luz do sol foi relatado como desencadeador de crises de enxaqueca em 30% a 40% dos casos, segundo estudo coordenado pelo neurologista Elcio Juliato Piovesan, da Sociedade Brasileira de Cefaleia.

Pacientes com enxaqueca apresentam uma maior suscetibilidade a estímulos externos.

No período entre as crises ou durante, esse perfil de paciente é mais suscetível a luminosidade.

De acordo com o especialista, isso acontece porque os pacientes com enxaqueca apresentam um estado de sensibilidade maior.

“A luz é um estímulo externo que acentua esta hipersensibilidade que o paciente apresenta e a região do cérebro que é mais sensível a estas alterações é o lobo occipital – responsável por processar os estímulos visuais”, explica Piovesan. Algumas doenças no olho que levam a cegueira, principalmente o glaucoma agudo, estão associadas a dores na cabeça ou no próprio olho, mas as características clínicas dessas dores diferem de enxaqueca.

Assim, as cefaleias causadas por erros de refração visual (problemas de visão) causam cefaleias secundárias que são diferentes das primárias, como é o caso da enxaqueca.

Ainda, segundo o neurologista, o que pode acontecer é que um paciente com enxaqueca que apresente um problema visual pode ser mais difícil controlar as crises do distúrbio. “Frequentemente quando corrigimos os erros visuais o paciente melhora a própria enxaqueca”, reconhece o especialista.

Deficientes visuais

Existem algumas formas de prevenir a fotofobia (aversão a luz). Medicamentos que aumentam a resistência do lobo occipital devem ser as medidas mais adequadas e, em casos agudos, a limitação a exposição a luz auxiliam no tratamento.

O estudo investigou a relação da enxaqueca e o estimulo visual luminoso em pessoas com ausência total e com ausência parcial de visão. O que pode ser observado é que a prevalência da doença não foi influenciada pela perda total ou parcial da visão.

Em média, os pacientes entrevistados têm quase 28 horas de enxaqueca por mês e 96% delas são moderadas ou severas. Uma das causas de agravamento da dor é a fonofobia -sensibilidade ou aversão ao barulho.

Retratada por uma alta taxa de pacientes cegos. Para 96,6% deles o barulho agrava a crise de enxaqueca. No entanto, pacientes não completamente cegos indicam a fotofobia – a aversão à luz – como causa de agravamento dos sintomas e da dor.

Em pessoas com deficiência visual a região do córtex occipital, responsável por absorver o estímulo visual, perde essa função, mas não fica inativa. Essa área passa a colaborar com a recepção de estímulos táteis e auditivos, por exemplo.

Para Piovesan, o estudo demonstra que o cérebro é um sistema extremamente dinâmico e que as várias formas de sensibilidade interagem entre si para que o paciente consiga manter o máximo de contato com o meio externo.

Tratamento tardio

Quando uma pessoa perde a visão, essa região do cérebro passa a exercer outras funções para deixar o órgão mais sensível a outras formas de sensibilidade, como é o caso do tato, do olfato e da audição.

Para o médico, o estudo demonstrou a razão porque pacientes que apresentam enxaqueca têm quadros mais graves de dores de cabeça aos mais diferentes tipos de estímulos: visuais, auditivos, odores e tato.

Por sua vez, o comportamento de um paciente cego durante uma crise é diferente do encontrado em pacientes com visão subnormal ou normal. Segundo a pesquisa, pacientes com deficiência visual apresentam maior intensidade de dor durante a crise, no entanto, as causas ainda não foram descobertas.

Muitas pessoas levam meses até se render à evidência de que deveriam procurar ajuda especializada para tratar de enxaqueca crônica. Além de tomar os remédios prescritos por um médico para o tratamento agudo (somente nas crises) e preventivo (entre as crises, para induzir o controle da doença) é necessário observar se essas crises estão associadas a algum ,fator determinante, como alimentação, ingestão de bebidas ou aromas.

Criança também sofre

Durante muito tempo, se pensou que a queixa de dor de cabeça era exclusiva dos adultos. De fato, acreditava-se que as crianças não sofriam de dores de cabeça e essa “certeza” durou por décadas.

No entanto, de acordo com estudos epidemiológicos internacionais, estima-se que 5% das crianças sofram dessa patologia. Na adolescência, os números aproximam-se dos da idade adulta, chegando a 18%.

De acordo com os neurologistas, as circunstâncias que podem levar ao surgimento da doença são as predisposições genéticas, viroses, meningite, traumatismos e alterações oculares, entre outras disfunções.

Conforme os especialistas, as cefaléias primárias, em que a criança tem um episódio que começa e termina, não passando habitualmente para o dia seguinte, sem ter um caráter progressivo, são as menos preocupantes. A recomendação é de que, se a reclamação se tornar rotineira, o melhor é passar por uma avaliação clínica que fundamente uma investigação mais detalhada.

As fases da enxaqueca

Fase premonitória – na fase premonitória são sintomas que antecedem as dores de cabeça entre 6 e 48 horas antes do início da cefaléia. Os sintomas mais presentes são fotofobia e osmofobia.

Fase de aura – é uma manifestação clínica em que o paciente apresenta alterações visuais que antecedem a dor de cabeça do paciente em até 60 minutos. A aura visual tem uma duração de 5 minutos até 60 minutos.

Fase de cefaléia – A dor de cabeça da enxaqueca tem duração de 4 a 72 horas nos adultos e de 2 a 48 horas na faixa etária que vai até 14 anos. A cefaléia é pulsátil, com náuseas e vômitos, foto e fonofobia. Os sintomas se agravam quando se anda, corre ou pratica atividade física.

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