Rio de Janeiro – Já há mais chance de cura para pacientes com o linfoma não-Hodgkin, uma forma agressiva de câncer que ataca as células do sistema linfático e pode se espalhar por quase todo o organismo, incluindo fígado, medula óssea e baço. A doença pode levar à morte. Combinada com a quimioterapia tradicional, a aplicação da droga rituximab aumenta a sobrevida e causa menos efeitos colaterais que o tratamento quimioterápico isolado.
Os últimos avanços na pesquisa da doença serão apresentados hoje, no Rio de Janeiro, no “I Interchange Meeting – Linfoma Não-Hodgkin: Em Curso a Revolução do Tratamento”, que reunirá trezentos profissionais da medicina.
Aproximadamente 1,5 milhão de pessoas sofrem do linfoma não-Hodgkin em todo o mundo. Nos EUA, foram registrados 54 mil casos no ano passado. Não há uma estatística completa no Brasil. No Inca, um dos maiores hospitais do País, foram diagnosticados 500 casos em 2002. Na Universidade Federal do Ceará, foram tratados mais 482 pacientes no último ano. “Esses foram os que conseguiram diagnosticar e chegar no hospital universitário. Mas muitas pessoas não têm acesso ao diagnóstico no interior, onde é comum o linfonodo ser identificado como hérnia”, cita a oncohematologista Paola Tôrres Costa, professora do Departamento de Medicina Clínica da UFCE.
A incidência do linfoma não-Hodgkin, que representa 75% dos casos de linfoma, cresceu muito nos últimos 20 anos. Nos EUA, representa 5% de todos os casos de câncer. Dos pacientes com o linfoma não-Hodgkin, 62% são do tipo agressivo (quando o nódulo cresce rapidamente) e 38%, indolente (que evolui lentamente).
Tratamento
Embora seja conhecida há dez anos, somente há cinco a droga rituximab passou a ser vendida nos países desenvolvidos. “São anticorpos criados sinteticamente para ir atrás das células cancerígenas. É como um míssil guiado para atingir o alvo”, resume o médico Steven Treon, professor de Medicina da Universidade de Harvard. “Essa substância introduziu uma grande diferença no tratamento da doença, proporcionando resultados semelhantes ao da quimioterapia, porém com menos efeitos colaterais”, destaca o médico Michele Ghielmini, do Instituto de Oncologia da Suiça.
Pelos estudos realizados, 50% dos casos agressivos e 10% dos indolentes alcançam a cura, informa Ghielmini. “Mas a porcentagem dos pacientes não curados, mas vivos dez anos após o diagnóstico, é muito maior”, ressalta o médico Bertrand Coiffier, professor do Departamento de Hematologia do Hospital Civil de Lyon e da Universidade Claude Bernard.
O tratamento com o rituximab custa caro: R$ 4,3 mil o frasco com 500 mg. No Brasil, o medicamento MabThera está disponível comercialmente desde setembro de 98, importado dos EUA pela Roche. Para o SUS, o tratamento disponível é a quimioterapia. “Queremos fazer ainda neste ano o Fórum Brasileiro para Discussão do Linfoma, com objetivo de sensibilizar o Ministério da Saúde para que esse medicamento chegue pelo menos a um grupo de pacientes da rede pública”, informa a pesquisadora Paola Tôrres.
Atinge de crianças a idosos
Olavo Pesch
Metade das pessoas acometidas pelo linfoma não-Hodgkin tem 60 anos de idade ou mais. Da outra metade, entre 5% e 10% são crianças. A probabilidade de apresentar a doença é maior em homens do que em mulheres. Esse tipo de linfoma é mais freqüente em pessoas com deficiências genéticas de imunidade, doenças auto-imunes ou HIV/aids, e entre os que usam medicamentos imunosupressores após transplante de órgãos. Suas causas não são totalmente conhecidas, mas os sintomas são variados. O mais freqüente é a presença de linfonodos dolorosos no pescoço, axila ou virilha, mas também se caracteriza por: febre, sudorese noturna, fadiga constante e perda de peso, entre outros. Nem sempre a ocorrência desses sintomas significa a presença da doença, por isso a recomendação é procurar um médico para fazer o diagnóstico. O tratamento com o Mabthera varia de quatro a oito doses.