Dentro de duas semanas, de acordo com representantes do laboratório Sanofi-aventis, chega às farmácias brasileiras, o sonho de consumo das pessoas que estão com a circunferência abdominal acima das medidas preconizadas pelos médicos. Só que a ?pílula antibarriga?, como está sendo chamada não é um remédio para todos e sua indicação para fins estéticos não é recomendada. O rimonabanto, cujo nome comercial é Acomplia, só será vendido com a apresentação de uma receita controlada. O custo da caixa com 28 comprimidos será acima de R$ 200,00 (duzentos reais).
Para Marcos Tambascia, endocrinologista e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o rimonabanto deve ser indicado de forma associada à dieta e aos exercícios físicos para o tratamento de pacientes obesos, com índice de massa corpórea (IMC) maior ou igual a 30 kg/m2. ?Pessoas com sobrepeso – IMC maior do que 27 kg/m2 portadores de fatores de risco associados, como diabetes tipo 2 e dislipidemia também são candidatos ao tratamento?, reconhece, salientando que o remédio deve ser indicado para o paciente ?correto?.
Bom para o coração
Foto: Stefan Pathay |
Alfredo Halpen, endocrinologista: A pílula deverá ser indicada somente para as pessoas que tiverem o perfil indicado. |
De acordo com as pesquisas, a pílula antibarriga ajuda a melhorar sintomas de diabetes, níveis de colesterol e de triglicérides aumentados. O endocrinologista e chefe do grupo de obesidade e síndrome metabólica do Hospital das Clínicas de São Paulo, Alfredo Halpern lembra que qualquer método de sucesso utilizado para perda de peso – dieta, atividade física e alguns medicamentos – consegue equilibrar esses índices. ?Só que o uso do rimonabanto acelera a perda de gordura abdominal?, afirma. O especialista lembra que a obesidade não tem cura, só controle, por isso, o medicamento deve ser usado para sempre. ?Se parar, volta a engordar?, emenda.
Os médicos não se cansam de avisar que o excesso na circunferência abdominal pode trazer mais propensão às doenças cardíacas. Nos últimos anos, tem ficado mais claro que a distribuição de gordura é muito importante ao se considerar as conseqüências da obesidade. Álvaro Avezum, cardiologista e diretor da divisão de pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo, comenta que o resultado de um estudo realizado pela Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, indicou que o remédio, prescrito para redução do nível de gorduras na barriga, ajudou a desacelerar a formação de placas de ateroma, assim como seu acúmulo nas artérias coronarianas. ?O estudo também apontou que a taxa de colesterol HDL (bom colesterol) aumentou e, em contrapartida, a taxa de triglicérides diminuiu?, realçou.
Reações adversas
Marcos Tambascia, endocrinologista: O ribonabanto tem algumas contra-indicações expressas, não podendo ser usado por pacientes que usam antidepressivos. |
Avezum lembrou que todo tipo de remédio possui efeitos colaterais, podendo provocar reações adversas. O rimonabanto é contra-indicado para pacientes que fazem usos de antidepressivos ou que, ao longo da vida, passaram por episódios depressivos. De acordo com Jaderson Lima, diretor médico-científico do laboratório, dentre as queixas apresentadas pelos mais de 500 mil pacientes já em tratamento (o Acomplia já é comercializado em mais de 30 países, desde 2006) estão náuseas, tonturas e alguns tipos de alterações do humor, principalmente a ansiedade. ?Todos os eventos adversos relatados foram transitórios e de intensidade leve?, garante o diretor.
Os representantes da Sanofi-aventis fizeram questão de ressaltar que o laboratório não faz venda pela internet. ?O produto só pode ser vendido sob prescrição médica, quem promover outra forma de comercialização pode estar trazendo riscos ao paciente?, denuncia Alfredo Halpern. Outra advertência dos médicos é de que o remédio não é um moderador de apetite, atuando por meio do bloqueio seletivo de receptores encontrados no cérebro, tecido adiposo, músculo-esquelético, fígado, sistema gastrintestinal e pâncreas.*
Contra a síndrome metabólica
Um amplo programa de estudos clínicos, realizado com mais de 6 mil pacientes, mostrou que o rimonabanto atua nos controle dos fatores de risco cardiometabólico, tais como:
>> Redução da circunferência abdominal
>> Diminuição dos índices de triglicerídios
>> Aumento do HDL, o bom colesterol
>> Redução dos níveis de hemoglobina glicada, marcador da medida de açúcar no sangue
>> Redução do peso corporal
Na canabbis, a origem
A origem do rimonabanto foi baseada em uma hipótese simples: se um receptor no cérebro, os canabinóides, substâncias ativas da maconha, era responsável por estimular a sensação de fome, bloquear a sua ação não poderia reduzir o apetite e abrir caminho para o desenvolvimento de um novo composto?
Depois de quase 10 anos, as pesquisas revelaram que esses receptores não se encontravam somente no cérebro, mas também estavam presentes nos músculos, fígado, tecido adiposo, e trato gastrintestinal.
Os cientistas conseguiram identificar um composto específico capaz de bloquear o receptor e intensificaram suas pesquisas no sentido de decifrar o seu modo de funcionamento, buscando compreender melhor o sistema endocanabinóide (SEC).
Assim, o rimonabanto se tornou o primeiro bloqueador dos receptores seletivos do SEC. Nos próximos anos, o laboratório pretende ampliar a indicação do remédio, tornando-o uma alternativa de tratamento para os fatores de risco da síndrome metabólica, independentemente da sua prescrição atual.