A principal causa de transplantes de córnea é o ceratocone, uma doença hereditária que provoca uma deformidade da córnea, fazendo-a assumir uma forma de cone – por isso o nome – fato que causa dificuldade de foco e comprometimento da capacidade de visão. Conforme dados das secretarias de saúde estaduais, a enfermidade atinge quase 50% dos pacientes da fila de espera para transplante de córnea pelo SUS. Segundo Roberto Albertazzi, um dos maiores estudiosos do ceratocone na América Latina, algumas pesquisas chegam a relatar de dois a seis portadores da doença a cada mil habitantes.

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O médico curitibano Leon Grupenmacher explica que a doença começa a dar seus primeiros sinais no final da adolescência ou início da fase adulta, prejudicando sobremaneira a capacidade produtiva dos pacientes. ?Fundamentalmente, a percepção das imagens fica distorcida?, observa. Conforme o especialista, as causas do distúrbio ainda não são conhecidas, mas uma das teorias mais difundidas leva para a existência de componentes genéticos. Por isso, a pessoa que tiver histórico de ceratocone na família deve se submeter aos exames periódicos para identificar a doença no seu início, quando o tratamento se torna mais eficaz.

Muitos pacientes não percebem que têm o problema, pois seus sintomas se confundem com os da miopia e do astigmatismo no olho. Em muitos casos, a doença pode evoluir rapidamente, podendo afetar gravemente e limitar as pessoas perante as tarefas normais do dia-a-dia. Em outros casos, o ceratocone pode levar anos para se desenvolver.

Fila do transplante

Existem poucas alternativas para se evitar o transplante de córnea ou, pelo menos, retardá-lo, nesses casos. Uma técnica que vem trazendo importantes resultados é a correção por meio do implante de um anel intra-corneano de 5 milímetros de diâmetro. Grupenmacher defende que essa técnica deva ser mais divulgada, já que traz inúmeros benefícios ao paciente, entre eles, a cirurgia se tornar menos invasiva e, por isso, menos traumática. Além disso, o procedimento cirúrgico é realizado com anestesia local (colírio anestésico), dura aproximadamente 15 minutos e pode ser feito em clínicas especializadas, já que não necessita internamento hospitalar.

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?Os resultados obtidos com o implante do anel intra-corneano garantem ao paciente a volta às suas atividades normais em 30 dias, em média?, garante o oftalmologista. Até bem pouco tempo, quando ocorria o agravamento do quadro, a única solução era o transplante de córnea. Nesse tipo de cirurgia, o paciente leva cerca de um ano e meio para a total reabilitação social e profissional, sem contar que, hoje, a lista de espera para o recebimento de uma córnea é de, no mínimo, um ano. Para completar, existe, ainda, o risco de rejeição, que pode ocorrer a qualquer momento após a cirurgia.

Uma pesquisa com dois mil pacientes que receberam o anel mostrou que 92% deles evitaram o transplante de córnea. Em apenas 8% dos casos o implante do anel não conseguiu conter a evolução do ceratocone. Em alguns casos, conforme Grupenmacher, quando o grau do ceratocone é muito elevado, o anel recupera parte da visão e outro percentual pode ser corrigido com o uso de óculos ou lente de contato. ?Sem o implante o uso de lentes não teria como reverter o problema causado pela doença?, completa. 

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