Cegueira é um problema sério e irreversível

Que cegueira e pobreza andam junto, o Brasil já sabe. Um estudo feito pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostra bem esta triste realidade: 90% das pessoas atingidas pela cegueira no país são de baixa renda.

Do total de 1,1 milhão de cegos vivendo no Brasil, a maioria pertence à população mais pobre do país.

Segundo a pesquisa da entidade, por falta de informação e de acesso à medicina e à tecnologia, a região brasileira que apresenta o maior número de pessoas com catarata é a Nordeste. Já o glaucoma é encontrado nos estados que têm maior população negra, como a Bahia. O maior problema da associação de falta de recursos e pobreza é a desinformação.

“As pessoas não sabem que existem doenças que causam cegueira irreversível que podem ser tratadas, antes que a cegueira esteja instalada”, diz o oftalmologista Eduardo de Lucca. As duas principais causas de cegueira evitável ou curável na América Latina, em geral, e no Brasil, em particular, são: a catarata e a falta de óculos.

Soluções para idosos

Números do Departamento de Alta e Média Complexidade da Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde revelam que dentre as principais causas de cegueira que acometem os idosos, está a catarata, responsável por cerca de 47% dos casos no Brasil.

No País, são realizadas, em média, entre 450 e 480 mil operações por ano, enquanto seriam necessárias 580 mil cirurgias. Esses números representam um grande desafio social para o Brasil.

Serão necessárias políticas sociais adequadas aos idosos, com soluções que não os excluam dos sistemas de saúde.

Prevenir o aparecimento e o agravamento dos problemas visuais é de fundamental importância na velhice. “Muitas das fraturas de cabeça do fêmur em pessoas idosas costumam estar associadas ao fato delas não estarem enxergando bem ao andar nas ruas, ao subir ou descer calçadas e escadas”, atesta o oftalmologista Virgilio Centurion.

Há 25 anos, a catarata era tida como algo inerente ao envelhecimento. Idosos teriam que conviver com ela de alguma maneira.

Um procedimento conhecido por facectomia intracapsular era a técnica cirúrgica mais empregada no mundo para a remoção da catarata.

A cirurgia exigia pelo menos sete dias de internação hospitalar. O pós-operatório se completava após um mês da cirurgia, com a prescrição de óculos especiais que provocavam a distorção das imagens e muito medo no paciente na hora de se locomover, pois não garantiam uma percepção real de tempo e espaço.

Qualidade de vida

Hoje, para tratar a catarata, o oftalmologista precisa fazer um minucioso estudo sobre a vida do paciente, pois a terapêutica é completamente personalizada.

“Evoluímos ao ponto de a cirurgia de catarata, que antes se restringia a devolver a uma visão ‘possível’ aos pacientes, se tornar um procedimento que tenta libertá-los também do uso de óculos após a cirurgia”, ressalta o especialista. Diante de tamanhos avanços e de tantas facilidades terapêuticas, é muito difícil aceitar passivamente que um idoso ainda fique cego por falta de acesso ao tratamento apropriado da catarata.

Já os erros refrativos (miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia) que podem ser corrigidos pelo uso de óculos ou lentes, raramente evoluem para a cegueira, porém se não tratados afetam a qualidade de vida com a redução da saúde ocular, a diminuição do rendimento profissional ou escolar, além da atuação social da pessoa.

Estimativas do CBO indicam que no país a miopia atinge de 11 a 36% da população, a hipermetropia 34% e a presbiopia (conhecida por vista cansada) aproximadamente 26% das pessoas.

Acesso igualitário

Amanhã, 8 de outubro, será comemorado o Dia Mundial da Visão, que, em 2009, tem como tema Gênero e saúde dos olhos: acesso igual à visão.

Instituída em 2000, a data é uma das ações do Programa 2020: o direito à visão, que tem como objetivo primordial eliminar a cegueira por causas evitáveis do mundo até o ano de 2020.

A iniciativa é coordenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB), e conta com o apoio de entidades internacionais, instituições de atenção oftalmológica, organizações não governamentais e corporações em todo o mundo.

Desvantagens econômicas

O número de pessoas cegas no mundo vai dobrar os próximos vinte anos, apesar da disponibilidade de intervenções altamente custo-efetivas. Se a vontade política e os recursos adequados podem ser direcionados para reverter essa tendência, o alvo se torna eminentemente possível.

A campanha está sendo desenvolvida priorizando três estratégias centrais do controle da doença: o desenvolvimento dos recursos humanos, o desenvolvimento da infra-estrutura e a incorporação dos princípios da atenção primária da saúde.

A continuidade bem sucedida do programa iria reduzir não somente o sofrimento individual, mas, também, irá fornecer benefícios sociais e econômicos significativos.

A falha visual carrega profundas desvantagens econômicas para as pessoas, junto com as suas famílias e sociedades. Vários estudos recentes têm quantificados esses impactos.

Eles vão desde o estudo sobre o impacto da cegueira evitável sobre a produtividade econômica global até um outro sobre as implicações econômicas da cirurgia de catarata nas pessoas. Todos esses estudos demonstraram a magnitude da recompensa econômica e social dos investimentos na cegueira evitável.

Com 90% das pessoas cegas morando nos países em desenvolvimento, não surpreende que tais investimentos façam uma contribuição significativa para a realização das Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Neste documento, são examinadas as contribuições e resumidas as descobertas em uma seleção de estudos que quantificam esses benefícios. A cada cinco segundos uma pessoa fica cega no mundo e a cada minuto uma criança fica cega.
“É um problema muito sério e irreversível que necessita da atenção de toda a sociedade”, completa o oftalmologista Éber Dal Molin.

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