Com certeza, a maioria das pessoas conhece alguém com este problema: quando a pessoa fala, repete palavras, pedaços das palavras (sílabas), pedaços de frases, fala mais rápido ou, então, mais devagar do que o normal, às vezes pisca os olhos, vira a cabeça para frente ou para trás, faz força para falar, prende o ar. Enfim, parece ser difícil para aquela pessoa falar. Quando não conhecemos realmente a causa do problema, temos o costume de seguir conselhos, tentar resolvê-lo com “simpatias” ou receitas caseiras da avó, tia ou outras pessoas. Isso pode, até, ajudar, mas também pode atrapalhar muito.
Vocês já notaram que quando alguém gagueja, sempre existe alguém que diz: respire antes de falar, fale mais devagar, pense antes de falar ou, então, “faça a simpatia do copo d’água” que passa rapidinho. Quando fazemos isso, estamos pedindo para a pessoa mudar a sua maneira de falar.
Apesar da boa intenção, sem saber, estamos fazendo mal a essa pessoa. Por quê?
Assim como vocês já viram alguém gaguejar, já viram que essa mesma pessoa em alguns momentos (quando canta, quando está mais calma, entre pessoas amigas) quase não gagueja e, às vezes, não gagueja mais. Esse simples exemplo nos mostra que a gagueira não é um problema de fala. Pois, se assim fosse, a pessoa gaguejaria em todos os momentos e situações de sua vida.
Se não é problema de fala, o que é, então? Vocês já ouviram falar de pessoas que, por serem muito nervosas, sofrem de úlcera ou então de dores de cabeça freqüentemente? Pois é, os problemas no estômago e na cabeça acontecem por um problema originado fora do corpo da pessoa: o nervosismo. Com a gagueira podemos dizer que acontece algo parecido. O problema aparece na fala, mas é causado por outros problemas.
A gagueira aparece como um problema que vem contar que algo não está bem na vida dessa criança ou desse adulto. Podem ser problemas na relação com os familiares, na escola e consigo mesmo. Essa pessoa poderia ter apresentado outros problemas em vez da gagueira. Poderia sofrer de úlcera, gripes freqüentes, dores de cabeça, tornar-se muito triste ou agressiva, desmaiar; enfim, que servissem como uma válvula de escape para o problema que não consegue resolver e até nem sabe que existe.
É por isso que o remédio pode até ajudar, mas não resolve. Quando a pessoa tem dor de cabeça, pode, até, melhorar com uma aspirina. Mas, se não resolver o seu problema de nervosismo que está causando essa dor, pela vida toda, terá que tomar remédios, correndo o risco de que percam o efeito, de tanto usá-los.
No caso da gagueira, acreditamos que o certo é buscar o sentido dessa manifestação que acontece na fala e que pode ser diferente para cada pessoa. Se você quiser saber mais sobre a gagueira, procure um fonoaudiólogo, que é o profissional competente para atender as pessoas com problemas de comunicação. A clínica de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná atende pelo telefone (41) 330-1590.
Leomara Bürgel Guarneri é professora e diretora adjunta do curso de Fonoaudiologia-Clínica de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.