Conhecer o cão não é sinônimo de segurança! Esta é uma das conclusões de um estudo realizado no Hospital do Trabalhador da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, pela disciplina de Cirurgia Plástica e Reparadora do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. Esse estudo veio preencher uma lacuna na literatura epidemiológica brasileira, por tratar-se de tema muito comum e de grande importância e que carece de dados epidemiológicos em nosso meio.
Nos Estados Unidos, onde esses estudos são mais freqüentes, dados atestam que ocorrem aproximadamente 20 mordeduras caninas fatais por ano. São lesões comumente observadas em pronto-socorros, porém muitas vezes subestimadas. Em Curitiba, o número de doses de vacina anti-rábica disponibilizadas à população cresce a cada ano. De acordo com o Departamento de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde, estima-se que Curitiba apresente universo de 240 mil cães, sendo que, deste total, 96 mil estejam soltos nas ruas.
No Brasil, a maioria das vítimas não procura atendimento médico; aliado a isso, a mordedura canina não é lesão de notificação obrigatória, o que dificulta a estimativa da sua incidência. Gilvani Azor de Oliveira Cruz, professor adjunto e coordenador da disciplina de Cirurgia Plástica e Reparadora da UFPR e um dos coordenadores do estudo, constata que, de acordo com os dados, a raiva (doença letal), apesar de estar controlada em Curitiba há quase 20 anos, não pode ser considerada doença erradicada, afinal o número de vacinas aplicadas cresce a cada ano. ?Esta preocupação é pertinente visto que o número de pessoas atacadas por cães na cidade aumenta a cada ano?, explica.
Sem vacina e auxílio médico
Além dos que não procuram o serviço médico e, conseqüentemente, não tomam a vacina, nos últimos anos ocorreram aumentos significativos de vítimas: de pouco mais de 7 mil casos em 1998 para quase 10 mil em 2003.
No grupo estudado, observou-se que as crianças foram as mais atingidas, sendo o membro superior, membro inferior e face, respectivamente, os mais afetados. De acordo com o médico, a maior incidência de mordeduras em face nas crianças pode ser explicada pela menor estatura das mesmas se comparadas com o grande porte dos cães que usualmente atacam e também por elas apresentarem reflexo de defesa mais lento.
Além disso, ficou comprovado que ser conhecido do cão ou, mesmo, possuí-lo não significa menor perigo de ataque. Os dados comprovam que 41% dos ataques foram contra o próprio dono. E ainda, grande parte (68%) das mordidas ocorreu em domicílios, na sua maioria a casa da vítima. Entretanto, uma parcela considerável das ocorrências se deu nas ruas e serve de alerta para o grande número de cães que acessam as vias públicas. Por este motivo, no entender de Gilvani Cruz, faz-se necessária a realização de campanhas para a conscientização e prevenção desse importante problema de saúde pública.
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