A estimativa do Instituto Nacional do Câncer – Inca é de que ocorram este ano, no Brasil, quase 50 mil casos de câncer de mama. De acordo com especialistas do instituto, a importância deste número se agrava, visto que, em 65% dos casos, a detecção da doença se dá na sua fase mais avançada. Ainda assim, nem esses expressivos números e tampouco os esforços dos especialistas em divulgar a importância da prevenção e, principalmente, da realização regular da mamografia estão sendo efetivos na conscientização das brasileiras.
Além da mamografia, a mulher deve realizar o auto-exame das mamas, método pelo qual ela própria faz um exame visual e de apalpação na mama em frente a um espelho. Este exame deve ser feito aproximadamente sete dias após cada menstruação ou, se a mulher não menstrua mais, pelo menos uma vez por mês em qualquer época. Além disso, a cada seis meses, ela deve se submeter a um exame de rotina com o ginecologista, que se tiver alguma dúvida ou suspeita, deverá encaminhá-la ao mastologista, que é um médico especializado em doenças das mamas.
Qualquer suspeita deverá ser verificada. Se um dos exames anteriores for suspeito, será preciso efetuar uma biópsia para confirmar ou não o diagnóstico. Este exame consiste numa pequena cirurgia destinada a retirar um pedaço do nódulo suspeito, ou mesmo o nódulo inteiro, para que este seja analisado.
Sem mutilações
Caso haja necessidade de cirurgia para o tratamento do câncer de mama, esta pode ser conservadora, quando se retira apenas uma parte dela, ou radical, quando se retira toda a mama. De acordo com o médico Cícero de Andrade Urban, especialista em mastologia do Hospital Nossa Senhora das Graças, o tipo de cirurgia varia de caso a caso. Ele lembra que até alguns anos atrás, a cirurgia que se fazia era mutilante. A preocupação dos médicos era retirar o tumor da forma mais radical possível, já que essa era a única alternativa para tratar a doença.
Hoje, conforme o mastologista, os tratamentos cirúrgicos, clínicos e radioterápicos estão mais evoluídos. "Além disso, do ponto de vista cirúrgico nos preocupamos também com os aspectos estéticos e com a qualidade de vida da paciente", ressalta. O médico salienta que, na medida em que a conscientização sobre a necessidade de exames mais freqüentes possibilita a localização de lesões microscópicas, não se justifica a retirada da mama inteira. "Quando isso não é possível, indicamos a reconstrução da mama na mesma cirurgia", frisa.
Outro avanço, citado por Urban, é uma técnica chamada gânglio sentinela, que consiste em injetar contraste colorido ou radioativo na área do tumor para localizar o gânglio em que se acumulou. Em seguida, este gânglio é examinado para detectar células malignas em seu interior. "No caso de resultado negativo, a cirurgia é finalizada", explica, salientando que esta técnica foi um dos maiores avanços no tratamento do câncer de mama dos últimos anos, pois com ela, "a paciente, na maioria das vezes, sai da cirurgia com a mama e a axila preservadas."
Humanização
As técnicas de cirurgia plástica na área da oncologia são conhecidas por oncoplástica e cerca de 90% das mulheres optam por esse tipo de procedimento, já que os resultados são altamente satisfatórios. "Em termos de qualidade de vida, de aceitação da doença e do próprio preparo psicológico para continuar o tratamento por quimioterapia, hormonioterapia ou radioterapia, o trauma é bem menor", garante Cícero Urban.
Hoje, no entender do especialista, a palavra-chave para o médico não é o tratar nem atender o paciente, mas sim cuidar. Ele entende que o médico deve ter muita sensibilidade para tratar as mulheres com câncer de mama, pois elas chegam inseguranças e amedrontadas pelo estigma da doença. "Por isso a preocupação com a humanização do atendimento, principalmente, em uma área tão delicada como essa", completa.
Na família, o abrigo
Apesar de haver tratamento e cura para muitos casos, desde que se tome conhecimento do diagnóstico precocemente, o paciente com câncer sofre alteração da auto-imagem e da auto-estima. Por isso, para passar por essa fase difícil com o máximo de qualidade de vida possível, ele precisa contar com apoio psicológico profissional e com a ajuda dos seus familiares.
"Reações como negação da doença, revolta, insegurança e medo são comuns nessas circunstâncias", diz a psicóloga Rosana Trindade. A família experimenta sentimentos de impotência, falta de controle e teme pelo sofrimento do paciente. No seu entender, muitas vezes, temendo piorar a situação ou buscando proteção, a família evita falar sobre a doença, instituindo o que os especialistas chamam de conspiração do silêncio.
A psicóloga acredita ser fundamental que as pessoas que convivem com o paciente oncológico tenham flexibilidade para adaptar sua rotina de vida e oferecer as melhores condições possíveis de tratamento ao doente. "Sempre que possível, é importante que familiares e amigos mais próximos incentivem o doente a continuar suas rotinas de trabalho e de lazer, estimulando a adesão ao tratamento", constata. Para a especialista, a doença deve ser enfrentada de forma direta e objetiva, com a participação ativa da pessoa nas decisões relacionadas ao seu tratamento e à sua vida como um todo. "É fundamental conhecer a pessoa e não o doente que está em tratamento", salienta Rosana. É necessário entender o seu papel na família e o significado que atribuem à doença para realizarmos uma intervenção eficaz.