Neste momento, cerca de 60 mil pessoas aguardam uma doação, em uma fila que parece não ter fim.

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Nos últimos anos, muitos avanços ocorreram na área de transplantes no Brasil, como o crescimento de 40% no número de doações.

Entretanto, o país ainda tem um grande desafio pela frente, uma vez que o número de doadores é significativamente menor do que a necessidade de órgãos para transplante.

Essa situação merece atenção da sociedade e, por isso, a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) acaba de lançar uma campanha que tem o objetivo de incentivar a doação por meio da conscientização da população sobre a importância da doação de órgãos e os processos para viabilizá-la.

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A iniciativa pode ser resumida em três palavras-chave: desmistificação, informação e conscientização. O tema “Estenda a mão para essa causa” é baseado no conceito de que a doação de órgãos pode prolongar a linha da vida de muitos pacientes.

Segundo Valter Duro Garcia, presidente da ABTO, muitos desconhecem a triste realidade de milhares de brasileiros cuja única salvação é o transplante. Por essa razão, esses pacientes ficam aguardando um doador que pode nem sequer aparecer.

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O drama da espera adoece um grande círculo de familiares e de amigos e, infelizmente, ninguém está livre dessa possibilidade. “Queremos que as pessoas pensem e debatam sobre a doação, para aumentarmos a corrente de solidariedade em prol dessa causa”, declara o presidente.

Para se tornar doador, não é preciso deixar nada por escrito. Uma comunicação verbal é suficiente, já que apenas a família pode autorizar a remoção dos órgãos após a morte.

O dobro de doações

Tomando por exemplo o transplante renal, há mais de duas mil pessoas na fila aguardando o órgão no Paraná. A técnica da Central, Schirley Nascimento, explica que o grande problema é a espera. Para ela, apesar do número de transplantes estar crescendo ano a ano, ainda não é suficiente justamente porque as filas não diminuem na mesma proporção.

No caso do transplante de córnea, por exemplo – órgão que não é tão difícil de ser conseguido – são realizados 90 transplantes por mês no Paraná, mas entram na fila outras 120 pessoas. “Seria necessário, então, o dobro de órgãos para resolver o problema”, lamenta.

Na opinião de Schirley, a população ainda tem a cultura do não doar e a solução é a educação. “Algumas pessoas têm medo. Há até cidades cujos hospitais não têm conhecimento sobre o que é a doação de órgãos”, disse.

Segundo ela, ainda há muitos problemas a serem resolvidos na fila, como as pessoas que vêm de outros estados – alguns estão até deixando de liberar pacientes – e a falta de eficiência da triagem. “Temos muitos pacientes que desaparecem e quando vamos buscar contato já faleceram, principalmente quando se trata de rim e córnea”, lamentou.

Doação sem dúvidas

* As manifestações de vontade de ser doador após a morte que constavam no RG e na CNH perderam validade. Em muitos casos, por desinformação, as pessoas forneciam respostas negativas, sem ao menos terem refletido sobre um assunto que é de extrema importância.

* No Brasil, são considerados de rotina transplantes de órgãos (rins, coração, fígado, pulmão e pâncreas), tecidos (córneas, válvulas cardíacas, ossos e pele), células (medula óssea) e sangue.

* Em vida, é possível doar rim, parte do fígado, do pulmão, do pâncreas e medula óssea. Após o óbito, com o consentimento da família, podem ser removidos: córneas, coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas, pele, ossos e v&aac,ute;lvulas cardíacas.

* Doenças sexualmente transmissíveis, com exceção do HIV, não contraindicam a doação de órgãos, mas podem contraindicar a doação de tecidos e de sangue.

* O tempo exato de espera para o transplante difere de estado para estado. O renal demora mais de três anos. A lista de espera por um pulmão é renovada anualmente, uma vez que a maioria morre sem conseguir um doador. A indicação para um transplante é feita com muito critério, de acordo com a legislação vigente.

* Para viabilizar a doação de órgãos, é preciso ter confirmada a morte encefálica (perda total e irreversível das funções do encéfalo), mas o paciente deve ter o coração batendo com o auxílio de aparelhos. Tal óbito é ocasionado, na maioria das vezes, por trauma craniano (acidentes de trânsito, queda de altura ou arma de fogo), derrame cerebral ou tumor cerebral.

* Anualmente, 12 mil brasileiros apresentam morte cerebral e 50% deles poderiam ser doadores; porém, no ano passado, apenas 1.317 se tornaram doares efetivos.

* Um único doador tem a possibilidade de salvar ou melhorar a qualidade de vida de mais de 20 pessoas. Hoje, 80% dos transplantes são realizados com sucesso.

* O Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo. O Sistema Único de Saúde (SUS) arca com despesas da maioria dos transplantes realizados no país.

Fonte: Guia “Orientações sobre doação de órgãos” – Grupo Estado.