A Sociedade Brasileira de Cardiologia/Funcor realiza neste final de semana (23 e 24 de outubro) a segunda fase da Campanha de Prevenção da Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP), em São Paulo. O objetivo é confirmar o diagnóstico das pessoas que participaram da primeira fase, por meio de exames mais detalhados, e comprovar a tese de que boa parte dos portadores da doença não apresenta sintomas, o que pode dificultar seu diagnóstico. Segundo a coordenadora da campanha, Dra. Marcia Makdisse, ?quanto mais cedo for o diagnóstico e o tratamento da DAOP, menor a chance de o paciente apresentar complicações cardiovasculares fatais, como o infarto e o derrame cerebral?.
Durante a primeira etapa da campanha, que aconteceu no metrô Tatuapé e no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, em julho deste ano, os participantes responderam a um questionário que ajudou a definir se a pessoa tinha probabilidade de apresentar a doença ou não. Na ocasião, foram preenchidos quase 500 questionários e distribuídos cerca de 2 mil folhetos informativos. “Para a segunda etapa, estamos chamando as pessoas cujo questionário apontou que as dores têm grande chance de estar relacionadas à falta de circulação nas pernas (e não a problemas musculares ou reumáticos) para medirmos o Índice Tornozelo Braquial, o exame que realmente vai dar o diagnóstico preciso da doença. Além disso, sortearemos pacientes cujo questionário deu negativo, pois acredita-se que boa parte dos portadores da doença não apresenta sintomas”, afirma Dra. Marcia Makdisse, que é também coordenadora do Ambulatório de Cardiogeriatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Nesta segunda fase, além da medição do Índice Tornozelo-Braquial, será feito o teste de caminhada de 4 m, para avaliar a função dos membros inferiores. Haverá, também, uma nutricionista para dar orientação aos voluntários.
A doença
De origem aterosclerótica, a Doença Arterial Obstrutiva Periférica tem incidência maior em pacientes com idade acima de 50 anos. Segundo o médico cardiologista do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Dr. Jairo Lins Borges, fumantes, diabéticos, hipertensos, idosos, assim como pessoas com as taxas de colesterol fora dos padrões aceitáveis, também têm alto risco de apresentar a doença. ?Ou seja, pacientes com alto risco cardiovascular?, define.
O médico alerta que 60% dos pacientes que têm a DAOP apresentam outras complicações cardiovasculares, com um elevado risco de sofrer infarto ou até parada cardíaca. ?A medida preventiva mais eficaz é um exame barato, que é o Índice Tornozelo-Braquial, que nada mais é do que medir e comparar a pressão arterial dos braços e das pernas?, explica. O Dr. Jairo Borges lembra que a DAOP muitas vezes é confundida com reumatismo. No entanto, a doença provoca dores, desconforto ou formigamento na barriga da perna, durante caminhadas, que desaparecem com a suspensão do esforço. ?Os sintomas voltam a ocorrer se a pessoa tentar reiniciar a atividade física?, completa.
Quando não diagnosticada e tratada precocemente, a DAOP pode levar à amputação do membro afetado, além de aumentar o risco de morte cardiovascular em até 50%, em cinco anos. O tratamento, portanto, é fundamental. A Dra. Marcia Makdisse afirma que ?com tratamento adequado, adoção de hábitos saudáveis, aliados ao controle dos demais fatores de risco cardiovasculares e ao uso de medicamentos já bem estabelecidos, nós podemos reduzir em até 47% o risco de o portador da doença arterial periférica ter um infarto, um derrame ou ter morte de origem cardíaca, nos próximos cinco anos?.
Estudo
Os resultados obtidos durante a primeira e a segunda fase da campanha serão tema de artigo científico. ?Devemos chamar a atenção da comunidade médica e do governo sobre a necessidade de se realizar mais campanhas como esta, bem como de instituir a medição do Índice Tornozelo-Braquial como rotina na prática clínica não só de angiologistas e cirurgiões vasculares, mas também de cardiologistas, clínicos-gerais, geriatras, endocrinologistas e demais médicos que buscam uma avaliação mais precisa do risco cardiovascular?, afirma a coordenadora da campanha.