Em algumas pessoas, a arritmia cardíaca acontece de maneira silenciosa, sem causar sintomas. Em outras, o distúrbio é percebido pela falta de ar, desmaios, tonturas, dor no peito e por palpitações, aquela sensação de que o coração está ?disparado?. É claro que, muitas vezes, esses sintomas podem ser reações normais do organismo, afinal poucos passam incólumes a uma forte emoção. O ?pulo do gato? está em reconhecer as diferenças entre um e outro, já que uma arritmia cardíaca é a principal causa ligada à morte súbita. Para tentar conscientizar sobre a importância da prevenção e de como socorrer a vítima nesse momento, a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) promove, no dia 12 de novembro, em todo o Brasil, a campanha Coração na Batida Certa. Serão montados stands com telões, distribuição de folhetos explicativos e palestras informativas com demonstração de uso de desfibriladores.
Pessoas com doenças cardiovasculares, como infarto e doenças do músculo cardíaco, são afetadas com mais freqüência pela arritmia. No entanto, indivíduos saudáveis correm riscos. ?Inclusive atletas?, alerta Martino Martinelli, presidente da Sobrac. É o caso de José Geraldo de Castro, 57 anos de idade, o Zé Geraldo da vitoriosa seleção brasileira de basquete dos anos 1970s. Depois de alguns ?sustos?, ele sobrevive, desde 2004, com a ajuda de uma marcapasso. ?Só me lembro de ter feito uma avaliação médica completa às vésperas da Olimpíada de Munique, em 1972?, lembra inconformado. Um exame, aos 47 anos indicou que o atleta, que jogou basquete competitivo dos 13 aos 38 anos, tinha um distúrbio elétrico no lado esquerdo do coração e precisava implantar o aparelho, sob o risco de sofrer morte súbita.
Em junho deste ano, Zé Geraldo se descuidou e foi disputar uma partida de basquete sênior. Teve uma fibrilação e apagou com dois minutos de jogo. Socorrido por companheiros, chegou ao hospital com o coração batendo 400 vezes por minuto, foi atendido rapidamente e se recuperou. ?Hoje sou um sobrevivente?, frisa, reconhecendo que, hoje, no seu esporte, a preparação física e as avaliações médicas andam juntas. ?No meu tempo, o jogo era mais técnico, mais lento, talvez, por isso, nunca senti nada. Pelo menos não perdíamos pra Argentina?, brinca.
Conscientização sempre
Estima-se que, no Brasil, ocorram mais de 300 mil mortes com origem cardiovascular por ano, representando 28% da mortalidade total do País. De acordo José Carlos Silva de Andrade, chefe do setor de estimulação cardíaca da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, algumas arritmias podem ser benignas, no entanto, só a avaliação de um cardiologista ou eletrofisiologista é que pode confirmar esta afirmação. ?Todas as arritmias têm tratamento, algumas têm cura?, enfatiza o especialista. O cardiologista gaúcho Leandro Zimerman, especialista em eletrofisiologia clínica invasiva, explica que as contrações ritimadas do coração dependem de um sistema que distribui uma corrente elétrica para todo o músculo cardíaco. Assim, qualquer alteração que aconteça no sistema elétrico, prejudica o ritmo dos batimentos, podendo ocasionar uma arritmia cardíaca.
?Quem não tem doença, não tem risco?, afirma Zimerman. A investigação do distúrbio passa por exames periódicos completos, pois as alterações responsáveis pela incidência de arritmias podem ser congênitas ou adquiridas durante a vida, como conseqüência, por exemplo, de um infarto no coração. Além disso, algumas pessoas podem apresentar arritmias devido a fatores externos, como estresse, álcool, cigarros ou drogas. A prevenção se mostra como a melhor opção, já que dados internacionais mostram que 2/3 da redução da mortalidade em doenças cardiovasculares é resultado da educação, prevenção, novos medicamentos, produtos e intervenções. ?Por isso, consideramos que campanhas educativas e de conscientização como essa precisam ser feitas constantemente?, diz o coordenador da campanha no Paraná, José Carlos Moura Jorge, da Clínica de Arritmia Cardíaca e Síncope, da Santa Casa de Misericórdia, de Curitiba.
Fora de freqüência
As arritmias cardíacas são alterações na freqüência e/ou no ritmo da batida do coração. O coração "na batida certa" é aquele que trabalha em um ritmo normal. Em geral, os casos mais graves ocorrem em pessoas que possuem doenças do coração, como infarto ou "coração inchado" (doença de Chagas). A morte súbita é uma das possíveis conseqüências das arritmias cardíacas malignas, pois elas podem evoluir para uma alteração crítica do ritmo cardíaco como a fibrilação arterial, chegando a uma parada cardiorrespiratória fatal.
Por outro lado, as arritmias mais leves não interferem nas atividades do dia-a-dia, passando despercebidas em muitos casos. Algumas vezes, o coração bate com mais lentidão (menos de 60 vezes por minuto). Conhecido por bradicardia, este tipo de arritmia pode ser tratada com a utilização de uma marcapasso. Quando o coração bate mais rápido (mais de 100 vezes por minuto) se caracteriza a taquicardia, normalmente provocada por uma atividade física intensa, estresse emocional ou presença de anemia, entre outras doenças.
Depois de feito o diagnóstico por um cardiologista ou um clínico, o paciente deve ser encaminhado a um especialista, que pode escolher o melhor dentre os quatro tratamentos disponíveis atualmente: pelo uso de medicamentos, ablação (uma espécie de cateterismo), implantação de marcapasso ou implantação de um desfibrilador interno. "Esses tratamentos ajudam a pessoa a viver mais e melhor", salienta José Carlos Silva de Andrade, lembrando que pode ser necessária a associação deles. Os tratamentos para arritmias cardíacas podem ser feitos por convênios médicos ou pelo SUS.
Atividades em Curitiba
Das 10 às 18h, haverá postos de distribuição de folhetos e de informação na Praça Rui Barbosa, na Boca Maldita e no Shopping Estação.
* Os médicos mostrarão como funciona o desfibrilador externo automático (DEA), que pode ser utilizado por leigo para reanimar o paciente em caso de parada cardíaca, nos seguintes horários e locais:
10h30 – Santa Casa de Misericórdia
11h30 – PUCPR – Auditório John Henry Newman
14h – Ibmec – Shopping Estação
16h – Santa Casa de Misericórdia
19h – Ibmec – Shopping Estação
Mais informações no site: www.leccuritiba.com.br
Campanha Coração na Batida Certa
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Martino Martinelli: "No Brasil ainda não existe um estudo com dados clínicos e estatísticos sobre arritmias cardíacas e morte súbita. Esta será uma oportunidade para coletar informações relevantese fazer um levantamento dos principais indicadores dessas ocorrências no País". |
O Dia Nacional de Prevenção das Arritmias Cardíacas e Morte Súbita, cujo slogan é "Seu coração pode não estar no mesmo ritmo que você" é parte de um projeto de conscientização e educação coordenado pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac). A campanha marcada para o dia 12 de novembro mobilizará os principais centros de referência médica, que realizarão, dentre outras atividades, aulas educacionais sobre o tema. Além disso, disponibilizarão quiosques com distribuição de folhetos informativos à população e exibirão um vídeo da campanha durante as ações. "No Brasil ainda não existe um estudo com dados clínicos e estatísticos sobre arritmias cardíacas e morte súbita. Esta será uma oportunidade para coletar informações relevantes e fazer um levantamento dos principais indicadores dessas ocorrências no País", afirma Martino Martinelli, presidente da Sobrac.
A campanha também vai captar recursos para disponibilizar desfibriladores em ambientes extra-hospitalares, como vias públicas, aeroportos, shopping centers e estádios esportivos. O desfibrilador é um aparelho que emite descarga elétrica em caso de parada cardíaca e pode fazer o coração voltar a bater no ritmo adequado para bombear o sangue. "Pessoas que apresentarem parada cardíaca e morte súbita somente terão chance significativa de sobreviver e se recuperar se tiverem acesso a um serviço de urgência equipado com desfibrilador ou a um desfibrilador elétrico automático (DEA)", explica Martinelli.
