A data de 15 de setembro é lembrada como o ?Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas?. A campanha, que este ano movimenta nove cidades brasileiras e mais de 20 países, foi criada para alertar a população mundial sobre a possibilidade de diagnóstico precoce do câncer no sistema linfático, que pode ter mais de 30 tipos. A iniciativa é de uma organização mundial sem fins lucrativos, representada no Brasil pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia – Abrale.
Para o representante comercial, W. R. S., tudo começou com uma febre diária. Logo veio uma intensa sudorese noturna. Eram seis trocas de camisetas e lençóis para controlar o suor abundante. Ele buscou ajuda médica. Como o representante perdia peso com facilidade, a suspeita ficou evidente e o médico localizou um gânglio no lado esquerdo do abdome, facilmente palpável. O tratamento culminou com um transplante de medula óssea. Hoje, o paciente já está curado do linfoma, um tipo de câncer que pode ser tratado e curado mesmo na fase avançada.
De acordo com os especialistas, o linfoma se desenvolve nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático, responsável, entre outras coisas, pela defesa natural do organismo contra diversos tipos de infecções. Segundo o oncologista e hematologista Bernardo Garicochea, o sintoma mais encontrado entre as vítimas do distúrbio é um aumento indolor dos gânglios no pescoço, peito, axilas, abdome ou virilha. Outros sintomas incluem febre; suor, principalmente à noite; perda de peso e coceira. ?Por isso é muito importante estimular a procura por um especialista aos primeiros sintomas da doença?, avisa o médico.
Tipos de linfomas
Segundo Carlos Chiattone, presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (SBHH) e membro do comitê científico da Abrale, os linfomas se dividem em três grupos. O primeiro, extremamente agressivo, se parece muito com as leucemias agudas, mas é altamente curável, se tratado intensivamente. O segundo grupo, chamado de ?agressivo? é o mais freqüente, correspondendo a cerca de 30% de todos os linfomas. ?Esse tipo evolui rápido e tem 50% de chance de cura, mas deve ser diagnosticado o quanto antes?, enfatiza Chiattone. O terceiro grupo é dos linfomas indolentes que são incuráveis. E, infelizmente, não é pequeno o número de pessoas com esse tipo. ?Ele progride lentamente e a expectativa de vida desses pacientes é entre oito e dez anos. Nesse caso, não precisa necessariamente de tratamento, pois o paciente só irá sofrer os efeitos colaterais e não terá cura?, esclarece.
O presidente da SBHH comenta que esse tipo de linfoma é comum em pessoas idosas e, por isso, em alguns casos a progressão do câncer é tão lenta que o paciente pode morrer por outra causa, como de infarto, por exemplo. Os linfomas são subdivididos em duas categorias principais: linfoma de Hodgkin – atinge, principalmente, adolescentes ou adultos jovens e se espalha a partir de um gânglio linfático para outros vizinhos, por meio dos vasos linfáticos e o linfoma não-Hodgkin, que ataca, principalmente, adultos e, geralmente, se espalha pelo sistema linfático de forma anormal. Neste último caso, o gânglio linfático afetado pode espalhar a doença para outras regiões do corpo, através do sangue.
Exames sensíveis
Nos últimos 20 anos, a incidência deste tipo de câncer teve aumento entre 3% a 4% ao ano, causado também pela expectativa de vida da população, já que trata-se de um tipo de câncer comum em pessoas idosas. ?Em alguns linfomas, os gânglios podem aparecer e desaparecer sem qualquer tratamento?, explica o hematologista. Na maioria das vezes, os gânglios surgem no pescoço e, o que em muitos casos não são linfomas. Chiattone descreve sobre as maneiras de se diagnosticar um linfoma. ?Hoje, existem exames sensíveis que conseguem diagnóstico mais rápido da doença, incluindo os exames de sangue e os diagnósticos por imagem?, enfatiza.
Temos bilhões de linfócitos no nosso corpo. São produzidos na medula óssea e se dirigem ao sistema linfático, que é formado principalmente por gânglios espalhados como patrulhas de vigilância por todo o organismo. São eles que criam os anticorpos para nos defender quando da invasão de algum microorganismo desconhecido.
Os especialistas esclarecem que um diagnóstico de linfoma é motivo de preocupação, mas não de desespero. Os linfomas têm tratamento e uma proporção considerável dos pacientes fica curada da doença. Outros, mesmo sem uma cura definitiva, vivem uma vida plena durante muitos anos.
Tratamento
Há várias modalidades de tratamento. "Os linfomas estão entre os tipos de câncer que melhor respondem ao tratamento com quimioterapia ou radioterapia", assegura o oncologista Bernardo Garicochea. Nos casos mais graves, pode ser necessário o transplante de medula óssea. Existem hoje em dia múltiplas formas de tratamento de linfomas, que se baseiam essencialmente no uso de medicamentos em regra conhecidos por quimioterapia, associados ou não a radioterapia e mais modernamente, medicamentos específicos de células tumorais, entre eles, os anticorpos monoclonais. Ao contrário do que é ainda observado com freqüência pela população, muitos linfomas podem ser curados ou controlados de forma eficaz, proporcionando sobrevida cada vez maior. Contudo, em alguns casos, os linfomas ainda podem se tornar fatais, exigindo para sua cura o recurso do transplante de medula óssea.
Principais cuidados
Ao identificar alguns desses sinais, é importante que se procure orientação médica para o correto diagnóstico do linfoma.
* Aumento progressivo e indolor do abdome e dos gânglios.
* Febre persistente sem evidência de infecção.
* Suor noturno abundante.
* Perda de peso relevante.
* Coceiras pelo corpo.
* Cansaço sem motivo aparente.