Uma pesquisa recente, realizada na Universidade Estadual de São Paulo, apontou que, frente a notícia de uma gravidez inoportuna, muitas adolescentes contam que se sentiram felizes com a notícia, apesar da empolgação não passar de um contraditório “fiquei feliz, fazer o que, né?”.
A maior parte das entrevistadas não relatou mudança em suas vidas após a gravidez, algumas demonstraram, inclusive, que não tinham qualquer plano de vida, o que se expressou na afirmação preocupante de que “eu não mudei nada na minha vida, eu não tinha plano nenhum”.
Estima-se que essas jovens meninas sejam responsáveis por 20% dos partos no país.
E o que é pior: na maioria das vezes, esse tipo de acontecimento está relacionado à falta de informação e à não-conscientização das adolescentes.
Darci Bonetto, da Sociedade Paranaense de Pediatria, explica que muitos fatores interferem para o aumento desses índices. Entre os principais, destaca as questões econômicas, carência afetiva e a falta de um projeto de vida.
Segundo a pediatra, apesar de atingir distintas faixas da sociedade é a classe mais pobre que apresenta as maiores taxas de gravidez na adolescência. “Geralmente, por questões financeiras, essas meninas não têm acesso aos métodos contraceptivos e, por muitas vezes estarem fora da escola, ficam mais expostas aos relacionamentos sexuais antes mesmo conhecer o seu próprio corpo”, admite.
“Sua vida sua voz”
Neste sábado, dia 26 de setembro, mais de 70 países da Europa, América Latina e Ásia participam do dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência 2009, que este ano tem o tema Sua vida sua voz. A data é promovida por organizações não governamentais e sociedades médicas internacionais com apoio mundial da Bayer Schering Pharma.
Marcos Ribeiro, professor e consultor em educação sexual e prevenção de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), lembra que os pais exercem um papel importante na formação dos filhos, por isso é interessante que o tema sexualidade seja introduzido nas conversas familiares desde a infância, para que ao chegar à adolescência, o jovem já esteja mais consciente.
“Antes da primeira relação sexual é importante que tanto o garoto como a garota reflitam se estão realmente com vontade ou se estão sofrendo algum tipo de pressão para concluir o ato”, observa o especialista.
A relação sexual, muitas vezes, ocorre sem que ambos tenham muito conhecimento, com pouco preparo e cheia de expectativas, tanto para os meninos quanto para as meninas. Por ser um momento especial, deve ser pensado para que nenhum dos dois se arrependa depois ou no dia seguinte se culpa e sinta medo das consequências.
Pesado demais
Eles precisam ter plena consciência dos riscos que envolvem uma relação sexual desprotegida, isto é, sem a camisinha, essencial para a prevenção de uma gravidez inoportuna e proteção contra as DSTs.
“É preciso ficar atento, pois nem sempre a conversa com os amigos traz as informações corretas”, realça Ribeiro.
Por isso, a leitura de livros, a pesquisa em sites especializados, o bate papo na escola, a conversa com os familiares ou com alguém de confiança é muito importante para o aprendizado e para uma melhor compreensão do tema.
O especialista diz que é preciso conversar claramente. O tema precisa fazer parte da conversa dos namorados ou mesmo dos “ficantes”.
Falando sobre isso, os jovens passam a entender o que o outro pensa e como se comporta seu namorado ou namorada. Assim, se a garota pensa que a relação sexual só irá acontecer se for com camisinha, durante a conversa ela pode saber se o garoto também possui uma atitude de prevenção correta.
É comum os pais acharem que o assunto é “pesado de,mais” ou que ainda é cedo para conversar com seus filhos, mas a informação é importante para afastar alguns fantasmas e tirar dúvidas que surgem na cabeça dos jovens.
Outro importante fator, citado por Darci Bonetto, que contribui para a precocidade nas gestações é que a idade da primeira menstruação (menarca) vem se antecipando ao longo dos últimos anos.
Assim, a mudança corporal também se dá mais cedo. “Some-se a isso o explícito incentivo da mídia (revistas, internet e TV) voltado para a sexualidade e teremos um quadro alarmante”, assegura.
A ginecologista Selma Freire alerta que a adolescência é o período em que o útero ainda está em formação e o organismo não está preparado. “É uma gravidez de risco, pois o bebê pode nascer prematuro, com complicações durante a gestação, principalmente de infecções perinatais”, reconhece a médica.
Segundo ela, até o acompanhamento pré-natal, tão importante para garantir uma gestação e um parto sem problemas, é prejudicado na gravidez precoce. “Muitas meninas demoram para comunicar à família e não fazem o pré-natal ou se fazem é de forma insatisfatória”. O recomendável é acima de seis consultas durante o período.
Números que assustam
Dentre os temas ligados à sexualidade, existem dois que têm preocupado especialmente os educadores e os estudiosos da área: a aids e a gravidez precoce.
Quanto ao HIV, a preocupação se justifica, mas a gravidade da gestação inoportuna ainda não foi claramente entendida pela sociedade brasileira. Os números são assustadores: por ano, são mais de 600 mil partos de adolescentes.
O que é pior: estima-se que são feitos algo em torno de 500 mil abortos, todos clandestinos e ilegais, uma vez que nossa legislação os proíbe. Com isso, podemos estimar que mais de um milhão de adolescentes engravide por ano no País.
Conforme dados da Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o país onde mais se pratica aborto (10% dos abortos mundiais). São mais de 13 mil abortos por dia. Praticados por parteiras e curiosas, ou por médicos em lugares sem a mínima condição de higiene, são muitos os casos em que a mulher sofre seqüelas graves.
Informações desencontradas
Principais causas da gravidez inoportuna:
* Ausência de diálogo com os pais sobre vida sexual
* Início precoce das atividades sexuais, por influência da mídia e do grupo de amigos
* Confusão entre amor e sexualidade por parte de ambos os parceiros
* Falta de informações sobre reprodução
* Falta de informações sobre métodos anticoncepcionais
* Resistência ao uso de preservativos
* Necessidade de auto-afirmação
* Rebeldia contra a família
* Falta de perspectivas pessoais e profissionais
* Ilusão de que por ser muito jovem ainda não é possível a gravidez