Tosse seca, peito chiando e respiração acelerada: estes são os principais sintomas da bronquiolite, uma infecção respiratória aguda causada, invariavelmente, pelo vírus sincicial respiratório (VSR).
A doença, também conhecida como “mal dos berçários”, é de caráter sazonal e se manifesta mais fortemente durante a temporada que vai do começo do outono até o final do inverno. Estima-se que o mal seja responsável por cerca de 70% das internações de crianças menores de dois anos de idade, com sintomas de doenças respiratórias.
Dados não oficiais apontam que 99% das crianças já terão sido infectadas pelo VSR pelo menos uma vez e 36% delas terão apresentado pelo menos duas infecções por esse vírus pouco conhecido pela maioria das pessoas, principalmente quando comparado às viroses “da moda”, como o H1N1 – causador da gripe A e o vírus da dengue.
Para bebês prematuros ou com cardiopatias congênitas, por exemplo, o contágio se torna grave e muitas vezes fatal. No entanto, para crianças saudáveis, os sintomas muitas vezes não passam de um resfriado forte.
Hoje, estima-se que do total de partos realizados no Brasil, de 6,5 a 9 por cento são realizados antes do período gestacional considerado normal (a partir de 37 semanas) – índices que crescem a cada ano, devido ao aumento de gestações tardias e avanços na medicina que garantem a sobrevida de mais bebês com menos semanas de gestação.
Saúde pública
“Para o bebê prematuro, a infecção por VSR é grave e é caso de saúde pública”, alerta Renato Kfouri, pediatra e diretor da Sociedade Brasileira de Imunização. O especialista avalia que do total dos bebês infectados pelo VSR, 30% terão sequelas importantes no longo prazo.
Por isso, ele lembra que hepatite, influenza, doenças pneumocócicas invasivas, coqueluche e afecções causadas pelo vírus sincicial respiratório são passíveis de prevenção. “No entanto, cabe às autoridades e aos pediatras neonatologistas orientarem a família”, reconhece.
O VSR circula no mundo, sempre coincidindo com as estações de outono e inverno, apesar de não estar relacionado a baixas temperaturas (em regiões de clima tropical, como no Nordeste brasileiro, por exemplo, circula na estação de chuvas).
Em crianças prematuras o vírus pode dobrar o tempo de necessidade de permanência no hospital e em UTIs neonatais por problemas respiratórios, além de ser responsável por constantes reinternações (10 vezes mais do que em bebês nascidos a termo).
Bronquiolite e pneumonia são as manifestações mais comuns. A doença também é conhecida por deixar como sequela um chiado recorrente, que pode acompanhar a criança até aproximadamente os 10 anos de idade.
Tratamento de suporte
O VSR é facilmente transmitido de pessoa para pessoa, por contato com secreções respiratórias. “Por isso, quando surge um caso em uma UTI neonatal corre-se o risco de uma multiplicação de casos”,alerta a infectologista Rosana Ritchmann.
A única medida profilática disponível no Brasil é a aplicação (intramuscular) do anticorpo monoclonal humanizado palivizumabe, que tem ação neutralizante e inibitória desse vírus.
“A primeira dose deve ser ministrada no início da estação do VSR e repetida mensalmente, até o final desse período. No ano seguinte, se ainda houver indicação, a profilaxia deve ser repetida”, afirma Renato Kfouri.
A vacina é ministrada somente em hospitais e, no Brasil, é indicado para bebês com menos de 35 semanas de idade gestacional. “Quanto menor o número de semanas, maior o risco”, adverte Rosana Ritchmann.
O diagnóstico pode ser feito por teste rápido de sangue. Geralmente, a doença começa com febre, coriza, tosse, espirros e chiados no peito. Em casos mais graves, a criança manifesta “falta de ar” e diminuição dos níveis de oxigênio no sangue.
Dificuldades para beber, ou comer, e vô,;mitos são também sinais da infecção por VSR. Não existe tratamento específico para a infecção. “Habitualmente é realizado o tratamento de suporte, como manter a criança hidratada, remover as secreções e ministrar oxigênio, para melhorar a respiração”, completa a especialista.
Vacinação gratuita
Bebês prematuros têm direito a cobertura vacinal (mesmo de vacinas fora do calendário) pelo Ministério da Saúde. Em alguns casos, como da meningite pneumocócica, crianças podem ter acesso gratuito a dose desde que nascidas com menos de 35 semanas.
As crianças podem receber gratuitamente as doses nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Além da vacina para meningite pneumocócica e pneumonia, os bebês também têm direito a receber gratuitamente vacinas contra hepatite B, Salk (vacina acelular contra a pólio), vacina tríplice (difteria, coqueluche e tétano).
De acordo com a pediatra Eliane Mara Cesário Maluf, a desinformação é o principal problema a ser enfrentado, pois mais crianças poderiam ser protegidas com essas vacinas gratuitas.
Sobre bebês prematuros
* Dos mais de dois milhões de bebês nascidos em 2008, 6,65% foram prematuros (Datasus).
* Prematuros têm 10 vezes mais risco de hospitalização por doença relacionada ao VSR.
* Cerca de 30 mil crianças/ano nascem no Brasil com peso abaixo de 1,5 kg.
* O VSR é responsável pela maioria das hospitalizações por bronquiolitel.
* O vírus afeta crianças de todas as classes sócias em qualquer região.
Longe do vírus
* Manter a criança bem alimentada e hidratada
* Lavar as mãos com frequência e sempre antes de pegar o bebê (o vírus permanece vivo nas mãos por mais de uma hora)
* Higienizar os objetos do bebê depois de manuseados – em superfícies não porosas, o vírus sobrevive por mais de 24 horas
* Evitar contato dos bebês com crianças ou adultos com sintomas de gripe
* Manter distância de aglomerações
* Não deixar a criança em contato com fumantes e ambientes poluídos
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