Buscar uma farmácia para comprar remédio com o objetivo de combater os sintomas ou mesmo as causas de uma doença é uma prática bastante rotineira, principalmente, no Brasil.
Só que quem tem esse costume precisa se preocupar para que a sua saúde não seja mais prejudicada ainda.
Existe uma máxima no meio científico que diz que todo medicamento em grande quantidade é veneno, e que todo veneno em pequena quantidade é um medicamento.
Para a farmacêutica Vânia Regina de Sá, essa frase é muito verdadeira. Ela serve para chamar a atenção para os perigos da automedicação.
“Não existe remédio inocente, ao contrário, quem pensa que automedicação não é prejudicial à saúde é que é inocente”, garante.
“Estudos que investigam o cenário da comercialização de medicamentos no Brasil sugerem que as motivações para a busca de tratamento nas farmácias, as práticas e as atitudes dos trabalhadores são muito semelhantes em, praticamente, todas as regiões brasileiras”, afirmam os pesquisadores da Universidade de Brasília em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.
De acordo com os pesquisadores, a automedicação e a indicação de medicamentos que envolvem risco à saúde, cuja venda pressupõe a apresentação de receita, tornou-se uma prática comum, mesmo em caso de doenças que necessitam de exames clínicos e laboratoriais para o seu diagnóstico. “Até no caso de doenças graves, como câncer e aids, por exemplo”, citam.
Orientação médica
O uso indiscriminado de medicamentos também é motivo de preocupação para as autoridades de vários países. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o percentual de internações hospitalares provocadas por reações adversas a medicamentos ultrapassa 10%.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), os medicamentos ocupam o primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicações em seres humanos.
Vânia Sá explica que a reação do medicamento em cada pessoa é diferente e tomar um medicamento que deu resultado com uma pessoa não é o mais indicado, pois pode provocar efeitos colaterais.
Ao fazer uso de um medicamento sem orientação médica, o paciente, às vezes, consegue eliminar algum sintoma, mas não a causa da doença. “Isso pode se tornar um risco, pois pode mascarar alguma doença mais grave”, esclarece a farmacêutica.
O afastamento do farmacêutico da prática de orientação aos serviços de saúde aliado ao excesso de investimentos em publicidade, direcionada a vendedores e consumidores, criou um terreno fértil, no Brasil, para o uso desnecessário de remédios.
Diversas são as ações de incentivo ao uso e negociação nos próprios locais de trabalho, como brindes e prêmios aos responsáveis pelas maiores vendas no varejo. A falta de controle legal sobre a comercialização também ajuda a piorar a situação.
Minimizar os riscos
“A publicidade influencia cada vez mais os hábitos de prescrição e consumo e cria demandas, definindo as condições e doenças que precisam de tratamento, promovendo a idéia de que os medicamentos representam a melhor opção em oposição a terapias não medicamentosas, enfatizando a sua eficácia e minimizando os seus riscos”, esclarecem os pesquisadores no artigo.
Eles acrescentam que há estimativas de que um terço dos rendimentos da indústria farmacêutica é aplicado em publicidade, o dobro do que é empregado em pesquisa.
Os médicos alertam que, sem o conhecimento das causas da doença, a administração por conta própria de remédios corre o risco de causar, até mesmo, a morte do paciente.
Um exemplo que pode ser citado é a dengue. O pa,ciente infectado não deve tomar nenhum remédio que contenha ácido acetilsalicílico, pois corre o risco de morrer.
Vânia Sá acrescenta que isso não significa que todo medicamento tenha que ser prescrito, mas o melhor é evitar maiores problemas. A pessoa que tem uma dor de cabeça, por exemplo, e habitualmente toma um analgésico, apresentará problemas se insistir por muito tempo na automedicação, que é feita até mesmo ao sentir qualquer outro tipo de dor. “A medicação se torna problema quando o remédio é tomado freqUentemente, para qualquer tipo de dor”, completa.
Remédio sob prescrição
* Aos primeiros sinais de dor ou desconforto, sem causa definida, procure um médico.
* Evite recomendações de vizinhos, amigos, parentes ou mesmo de balconistas de farmácias ou drogarias.
* Na consulta, informe ao médico se você já utiliza algum medicamento.
* Só procure as orientações do farmacêutico no momento de adquirir medicamentos de venda livre – produtos considerados de baixo risco para tratar males menores e recorrentes.