A cirurgia bariátrica, aquela que reduz o estômago e o peso de pacientes com obesidade mórbida, só é recomendada depois do paciente passar por avaliações de uma equipe multidisciplinar.
O Brasil já é o segundo país que mais realiza as operações, cerca de 800 por mês, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. A obesidade, chamada de epidemia do século, atinge aproximadamente 15% da população brasileira.
Reduzir o tamanho do estômago para emagrecer é uma prática que está se tornando comum entre pacientes com obesidade mórbida. Em outros tempos, os médicos rejeitavam discutir a possibilidade desse tipo de cirurgia, mas, de alguns anos para cá, a técnica, amplamente difundida em todo o mundo, ganhou muitos adeptos no país. No Hospital de Clínicas da UFPR, em Curitiba, a fila de espera para esse tipo de operação cresce a cada dia. Fora da saúde pública, não existe nenhum levantamento que indique o número dessas cirurgias no Brasil.
A cirurgia da obesidade mórbida, ou cirurgia bariátrica, operação que reduz a capacidade do estômago do paciente e o obriga a comer menos, é recomendada quando a obesidade faz com que doenças orgânicas ocorram, ou sejam significativamente agravadas, pelo excesso de gordura corporal, trazendo sérios inconvenientes sociais e psíquicos aos pacientes. Também é indicada para pessoas com excesso de peso moderado, mas que tenham outras doenças associadas à obesidade. “Por isso, nem todas as pessoas obesas são candidatas à cirurgia”, atesta o gastroenterologista e especialista em cirurgia bariátrica, Paulo Afonso Nunes Nassif. O médico esclarece que os pacientes, indicados à cirurgia, devem ser avaliados por uma equipe multidisciplinar, que baseada em parâmetros científicos, podem determinar a realização do procedimento.
Foi o que aconteceu com o empresário Estevão Javorski. Ele foi submetido a uma cirurgia de redução do estômago que provocou uma mudança radical na sua vida. Há cerca de um ano o empresário pesava mais de 130 quilos. Seguindo à risca todas as recomendações pós-operatórias, Estevão já perdeu 74 quilos e se diz outra pessoa. “Estou usando calças número 46, é bom demais”, comemora.
A cirurgia bariátrica se vale de várias operações para atingir seus objetivos. No Brasil, a mais realizada é a que, por laparotomia ou laparoscopia, possibilita a redução do estômago, associada a um bypass. Algumas intervenções fazem com que o esvaziamento gástrico seja dificultado por um anel, com a função de impedir que o paciente ingira grandes volumes de comida”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, Fernando Luiz Barroso.
Acompanhamento nutricional
A saciedade precoce é um dos mecanismos utilizados em cirurgias para a obesidade. O paciente que optou por fazer a cirurgia de redução do estômago precisa passar por um rígido trabalho de reeducação alimentar. Antes da cirurgia ele deve passar a praticar exercícios físicos e ter um acompanhamento nutricional e psicológico. O cirurgião bariátrico Alcides José Branco Filho adverte que, como qualquer outra operação, a cirurgia de estômago requer cuidados específicos antes e depois de ser efetuada. “Quando essas recomendações, médicas e nutricionais, são devidamente seguidas, os resultados são excelentes para a saúde física e mental do paciente”, afirma.
Já o acompanhamento psicológico busca entender o modo como cada pessoa se relaciona com a comida e trazer à consciência o lugar ocupado pelo alimento na vida de cada um. “Quando um paciente resolve fazer a cirurgia, ele não quer mais questionar os motivos que o levaram à decisão. Ele quer resolver logo o seu problema”, reconhece a psicóloga Simone Marchesini. No processo pós-cirúrgico o foco terapêutico passa a ser a nova imagem e as repercussões do emagrecimento sobre a personalidade do indivíduo. “Ele não muda só o corpo, ele muda a relação com seus valores, com a família e com a sociedade”, ressalta a terapeuta.