Bioética (IV)

Na mensagem anterior, foi enfatizada a qualidade de vida.

Mas o que é a vida?

Eis uma das mais antigas perguntas, sem uma resposta que satisfaça. Os animais de todas as espécies: aves, peixes, répteis, mamíferos, entre os quais o ser humano, situado no vértice da escala biológica; os organismos mais simples, até os monocelulares, assim como os vegetais, terrestres e aquáticos, todos diferenciados da matéria inanimada, porque têm vida.

Esbarra-se novamente na falta de uma definição apropriada de vida. Por isso, uma série considerável de tentativas, pelos mais reconhecidos estudiosos, todas sem o êxito almejado.

Encontra-se resumidamente o conceito de que a vida é característica de determinados fenômenos de se reproduzirem ou de se regularem por si.

Desde a Antigüidade, os fenômenos da vida têm sido caracterizados conforme a espontaneidade pela qual os seres vivos se movem, aparentemente independentes de fatores externos.

Para Platão, a alma e a vida se identificavam; ele atribuía à alma a capacidade de mover-se por si.

Aristóteles entendia por vida a nutrição, o crescimento e a destruição, originadas por si mesmos. Era o conceito de que os seres vivos nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e morrem.

Descartes e Hobbes levantaram o conceito mecânico da vida. Comparavam o ser humano e os organismos vivos em geral a uma bem montada máquina. Negavam a identidade entre a alma e a vida. Mas não conseguiram mudar o conceito de vida.

Eis a disputa entre mecanicismo e vitalismo!

O mecanicismo afirmava que a vida dependia de uma determinada organização físico-química da matéria corpórea.

O vitalismo considerava que esta organização não era suficiente e que a vida dependeria de um princípio de natureza espiritual.

Leibniz foi contra o mecanicismo e o vitalismo. Considerava que ambos se contradizem ao grande princípio da Física, segundo o qual “um corpo não se move senão impelido por um corpo vizinho e em movimento”. Considerava que a única teoria da vida, de acordo com aquele princípio, fosse a da harmonia estabelecida de antemão, de que a vida consiste na concordância da ação das substâncias, estabelecida por Deus.

Thomas Mann, em seu romance A Montanha Mágica, oferece uma definição literária de vida, os seguintes termos: “Que era a vida? Ninguém sabia. Sem dúvida ela era consciente de si, tão logo se fazia vida, mas não sabia o que era matéria e não era espírito – mas algo entre os dois -, um fenômeno transmitido pela matéria, como o arco-íris numa cascata, ou como uma chama. E por que não era material? era senciente (isto é, que tem sensação), a ponto de chegar ao desejo e à repulsa, à imprudência da matéria sensibilizada de si mesma, à forma incontinente do ser”.

Como se vê, até hoje a Ciência não conseguiu uma definição adequada de vida. Muitas opiniões evidenciam a falta do almejado conceito de vida. Cabe aqui uma comparação de ordem prática, do dia-a-dia: A eletricidade. O que é? Não existe uma definição adequada. Mas a sua ação, os seus efeitos, são visíveis e bem conhecidos.

Em Medicina, particularmente em Terapêutica, costuma-se usar a expressão aparentemente paradoxal, de que “a abundância traduz penúria”. Ou seja, a produção de muitos medicamentos para uma doença, significa que nenhum deles oferece a eficácia necessária. Fosse eficaz, bastaria um!

Para quem dispensa atenção e fé nos conceitos bíblicos, é aceito o que registra a Bíblia (Livro dos Livros). Encontra-se no Livro dos Gênesis, na descrição da Criação (Gn 2,7): “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo”.

Daí porque, no mesmo Livro do Gênesis registra: “Deus disse: Façamos o homem à Nossa imagem e à Nossa semelhança, para que domine a natureza e tudo o que ela contém”.

Com a imaginação e os olhos de fé, pode-se contemplar e reconhecer que a vida humana, concebida à imagem e à semelhança de Deus, É O SOPRO DIVINO, o que diferencia o ser humano de todos os outros seres vivos. Por isso, nesta série de mensagens relativas à Bioética, importa uma visão de conjunto, envolvendo tudo quanto diz respeito à natureza e todos os seres que nela pontificam, tendo o ser humano e o seu bem-estar como alvo principal.

Ary de Christan

é membro titular, fundador da AcademiaParanaense de Medicina.

Bioética (III) – Bioética e qualidade de vida

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo