“Saímos por seis meses e até hoje, meu namorado não sabe que tenho incontinência urinária. Não falei para ele por vergonha. (C.A.O., 23 anos, portadora de bexiga hiperativa há 8 anos). Muito mais do que uma vontade incomum de ir ao banheiro, o distúrbio compromete a saúde e os comportamentos social e emocional dos seus portadores. Cerca de 20% da população brasileira sofre com a síndrome, sendo que as mulheres são as mais atingidas. A doença leva à queda na auto estima e à vergonha de sair de casa, o que força muitas pessoas a um isolamento social involuntário.
De acordo com o doutor em urologia, José Carlos Truzzi, a síndrome da bexiga hiperativa figura entre os principais problemas urinários apresentados por pessoas de ambos os sexos. Manifesta-se por uma vontade inadiável em urinar, aumento no número de micções durante o dia e a noite e, em muitas vezes, é acompanhada por perda involuntária de urina, chamada de incontinência urinária.
A respeito da elevada prevalência, somente um quarto dessa população busca atendimento especializado. As razões são diversas, entre elas, acreditar na normalidade da situação, apesar do comprometimento marcante da qualidade de vida, associar a situação urinária a outras vivenciadas por parentes, crer na inexistência de um tratamento efetivo ou, simplesmente, vergonha.
Diminuição da libido
O receio de expor a outra pessoa uma situação tão íntima quanto a incapacidade de conter a urina é algo usual. Em jovens, esse fato é ainda mais constrangedor e faz com que esse grupo etário evite abordar o assunto mesmo em consultas médicas. “Essa postura acarreta um distanciamento não apenas da possibilidade de um diagnóstico correto e tratamento efetivo, mas de pessoas próximas ao seu convívio”, reconhece o especialista.
Os números chegam a ser surpreendentes: metade dos portadores de bexiga hiperativa evita manter atividades sexuais. Um estudo publicado pelo Journal of Sexual Medicine, um dos mais importantes do segmento, avaliou o impacto da bexiga hiperativa na saúde sexual de mulheres. O estudo apontou que, enquanto 91% das participantes sem a disfunção vesical mantinham relações sexuais mais do que uma a três vezes por mês, apenas 50% das portadoras de bexiga hiperativa mantinham essa atividade. Tal fato foi mais notório entre as mulheres com bexiga hiperativa e incontinência urinária. “Neste grupo a diminuição da libido foi diretamente associada à coexistência da hiperatividade vesical”, observa o urologista.
O impacto da bexiga hiperativa na vida sexual envolve vários aspectos, tais como a diminuição do desejo sexual, o receio de perdas durante as relações, o constrangimento pelo odor de urina nas roupas, as feridas desencadeadas pela umidade local constante.
Círculo vicioso
Não apenas mulheres sofrem de transtornos na esfera sexual. Entre os homens portadores do distúrbio, a atividade sexual cai a um terço e a disfunção erétil ocorre uma vez e meia a mais quando comparados a homens com a função vesical preservada. Conforme Truzzi, a disfunção erétil nesse grupo de pacientes se assemelha à observada em outras doenças classicamente envolvidas com essa fisiopatologia, como o diabetes mellitus e a hipertensão arterial.
A redução no prazer obtido durante a relação sexual e da satisfação da vida sexual levam essas pessoas a refutarem o relacionamento. Esse isolamento acarreta um círculo vicioso que as conduz ao distanciamento e a evitar cada vez mais a abordagem do tema, além de uma maior descrença na possibilidade de tratamento. “Essas condições contribuem para uma resposta negativa às terapêuticas propostas e a uma maior probabilidade de abandono do tratamento, com consequente aumento no risco de complicações mais graves”, avalia José Carlos Truzzi.
O retardo no diagnóstico e tratamento acarreta um desgaste na vida sexual, muitas vezes com danos irreparáveis no relacionamento de um casal. Não apenas o controle miccional ou a proteção ao trato urinário superior, em risco pela atividade, aumentada da bexiga merecem a atenção. “O reconhecimento deste efeito paralelo provocado pela bexiga hiperativa é crítico na sua abordagem e restabelecimento da qualidade de vida daqueles acometidos pela síndrome da bexiga hiperativa”, completa o urologista.
Opções de tratamento
O primeiro passo para o tratamento é descobrir qual é o tipo de incontinência. No caso da hiperatividade, os cuidados iniciam-se com algumas mudanças de hábitos, como a ingestão de líquidos e exercícios para a musculatura da pelve, associados ao uso de medicamentos. Dependendo da situação, pode-se recorrer à toxina butulínica ou, até mesmo, a procedimentos cirúrgicos.
As incontinências acarretadas por esforço também iniciam o tratamento com exercícios, mas, nesse caso, sem a associação de remédios. Vale lembrar que todos os tratamentos são passíveis de falha, mas os resultados, de modo geral, alcançam entre 80% e 90% de cura. “Se houver falha, o tratamento pode ser feito novamente pela mesma técnica, ou não”, assegura o urologista José Carlos Truzzi.
Mudança de comportamento
* Eliminar ou reduzir a ingestão de alimentos ou de bebidas irritam a bexiga, como chá, café e bebidas com cafeína em geral, álcool, cítricos (bebidas e frutas), tomate, alimentos muito condimentados ou ácidos.
* Manter a regularidade do funcionamento do intestino.
* Evitar a obesidade, pois o sobrepeso provoca aumento da pressão sobre a bexiga, o que contribui para o surgimento de problemas urinários.
* Parar de fumar, pois o fumo é irritante para a bexiga, favorecendo problemas de controle urinário.
* Beber de 6 a 8 copos de água por dia
* Tentar controlar a urgência aumentando o intervalo entre as micções gradualmente.
* Fazer fisioterapia para reabilitação do assoalho pélvico, que ajuda a diminuir as contrações involuntárias da bexiga.
* Procurar ajuda médica para iniciar um tratamento.