AVC: Reduzir os riscos de um derrame é uma rotina para sempre

No auge de sua carreira, a diretora de comunicação e assuntos corporativos de uma multinacional Marilene Lopes perdeu um de seus principais instrumentos de trabalho: o domínio da linguagem falada e escrita. Ela acordou uma manhã com o braço direito paralisado e com limitações na fala e raciocínio. "A única coisa que posso dizer é que, a partir daquele momento, me senti a pessoa mais solitária do mundo. Eu não sabia o que tinha, mas imaginava que deveria ser algo muito grave", comenta. Marilene tinha sofrido um AVC – acidente vascular cerebral.

O nome AVC é bem apropriado. É reconhecido como um acidente por ser um acontecimento inesperado e que envolve sofrimento. É vascular, pois diz respeito aos vasos sangüíneos, e cerebral porque ataca as artérias que irrigam o cérebro. O neurocirurgião Luis Alencar Borba, do Hospital Pilar, explica que o tipo mais comum de AVC é causado quando uma obstrução interrompe repentinamente o fluxo sangüíneo, impedindo que o oxigênio e os nutrientes essenciais cheguem até o cérebro, causando a morte de tecidos cerebrais. ?É o chamado AVC isquêmico?, diz.

O outro tipo de AVC é o hemorrágico, e acontece quando um vaso sangüíneo que supre o cérebro se rompe, causando perda de sangue no interior ou em torno do cérebro, dando origem a coágulos. ?Em ambos os casos as células nervosas morrem rapidamente?, enfatiza Borba, salientando que, quando isso acontece, a parte do corpo controlada por essas células nervosas não funciona adequadamente, comprometendo muitas vezes de forma permanente sua função.

Outro AVC

Em seu livro, Antes que seja tarde, Marilene Lopes retrata a surpresa e a dor que sentiu ao ver sua carreira ser interrompida drasticamente e conta como reaprendeu a viver depois do AVC. O neurocirurgião Luis Alencar Borba explica que alguns tratamentos funcionam melhor se aplicados nas primeiras três horas após o início dos sintomas, ?mas infelizmente a maioria dos pacientes chega ao hospital muito tarde?, constata.

A dona de casa Nilva Vitório conta que nunca vai esquecer o dia 2 de fevereiro de 1995, o dia em que sofreu um AVC isquêmico e ficou quase sem movimentos. ?Não conseguia fazer nada sozinha?, lembra. Hoje, depois de passar por diversas fases de reabilitação, consegue manter atividades praticamente normais. Jorge El Kadum Noujain, vice?presidente da Academia Brasileira de Neurologia e coordenador de uma campanha nacional de prevenção do AVC, apoiada pelo Laboratório Sanofi-aventis, explica que o grau e a rapidez com que será alcançada a reabilitação dependem da gravidade do acidente.

Noujain, no entanto, alerta que, além de seguir um programa de reabilitação, é muito importante que sejam tomadas todas as medidas preventivas para diminuir o risco de um novo evento. ?Após um AVC, a chance de sofrer outro aumenta em até nove vezes?, frisa. De acordo com o médico, esse risco não diminui espontaneamente, mas mudanças efetivas no estilo de vida são essenciais. ?Criar um compromisso com a prevenção e permanecer fiel a ela é de suma importância?, afirma Rubens Gagliardi, professor adjunto de neurologia da Santa Casa de São Paulo.

A neurologista Ana Lucila Moreira Carsten, do Instituto de Neurologia de Curitiba, esclarece que doenças já existentes, como hipertensão, diabetes, tabagismo, obesidade e problemas cardíacos, são consideradas importantes fatores de risco ao AVC. Quando a pessoa apresenta mais de dois fatores de risco, é necessário consultar um neurologista com freqüência. ?Essa investigação pode avaliar se existem placas de gordura obstruindo as artérias que levam o sangue ao cérebro. Essa obstrução muitas vezes pode ser tratada antes de acontecer o AVC?, afirma.

*Nosso jornalista participou do lançamento da campanha a convite do laboratório.

A vida depois do derrame

Infelizmente, as seqüelas são conseqüências comuns aos derrames, em parte pelo atendimento de emergência não ter sido realizado a tempo. Dependendo da gravidade do AVC e da região atingida no cérebro, as seqüelas variam. O paciente pode ter dificuldades para falar, se locomover, dificuldades para deglutir e depressão, entre outras.

Conforme Sérgio Lianza, chefe da reabilitação da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, técnicas avançadas conseguem reduzir significativamente as seqüelas decorrentes de um AVC e o tempo de internação dos pacientes. ?A reabilitação ajuda o paciente a recuperar a sua vida útil e produtiva, em cerca de 80% dos casos?, enfatiza.

Com a ajuda de uma equipe de profissionais, entre eles, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e a participação da família, o paciente deve iniciar o processo de reabilitação assim que possível. ?O objetivo é ajudá-los a se manter capacitado, desempenhando desde tarefas simples, como tomar banho e se vestir, e outras mais complexas, como dirigir, por exemplo?, frisa Lianza.

Legenda foto: Os médicos Rubens Gagliardi, Jorge Noujain e Sérgio Lianza, no lançamento da campanha nacional de prevenção do AVC.

Número que servem de alerta

* 70% dos que sobrevivem a um AVC não retornam ao trabalho.

* 50% morrem no primeiro ano após o acidente.

* 30% necessitam de auxílio para caminhar.

* 20% ficam com seqüelas graves e incapacitantes.

* As chances de ocorrer um segundo evento aumentam em 9 vezes.

Sinais de alerta

Além da predisposição genética (casos da doença na família), existem alguns fatores de risco que podem levar ao AVC:

* Ter mais de 45 anos.

* Estar obeso.

* Tabagismo.

* Hipertensão arterial.

* Diabetes.

* Altos índices de colesterol.

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