AVC exige uma corrida contra o tempo

O Brasil assistiu ao vivo pela TV, durante o jogo de Flamengo e Vasco da Gama, neste domingo, o técnico cruzmaltino, Ricardo Gomes, sofrer um AVC (acidente vascular cerebral) no banco de reservas do Estádio Engenhão.

O treinador foi rapidamente atendido e levado para o hospital, onde passou por uma cirurgia para drenar o coágulo do lado direito do cérebro. Ricardo Gomes tem apenas 47 anos de idade.

A juventude, o fato de ser esportista e de sofrer um AVC de repente levanta a questão: é possível prevenir um AVC? Existem sinais que podem ser percebidos antes?

Quais são os fatores que aumentam os riscos da pessoa sofrer um acidente vascular cerebral? Segundo informações do ex-superintendente do São Paulo Futebol Clube, o médico Marco Aurélio Cunha, Gomes então treinador do São Paulo, sofreu uma vasculite, que é um acidente vascular cerebral de baixa intensidade.

Sequelas

Poucas doenças são tão inimigas do tempo quanto o acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame. Cada minuto possui imenso valor no tratamento da lesão que é, hoje, uma das principais causas de mortes no Brasil e no mundo.

É provável que esse índice seja tão alto pelo mesmo motivo: o tempo e sua impiedosa passagem. Para uma vítima do AVC, cada minuto perdido, sem atendimento especializado é, entre outros fatores, o medidor da intensidade com que as sequelas irão afetá-lo. Com efeito, esse é o principal divisor que possibilita a sobrevivência.

De acordo com estudos brasileiros, a falta de informação e conscientização das pessoas sobre o AVC é gritante: 90% da população não sabe o que é, nem como agir diante de um possível evento dessa natureza.

Segundo a neurologista Viviane Zétola, do Hospital Santa Cruz, de Curitiba, para que esses números regridam é necessário orientar a população para reconhecer os sinais e sintomas da lesão. “Também é preciso disponibilizar rotas e caminhos alternativos a hospitais preparados para o atendimento desses graves casos”, acrescenta.

Essa mobilização é muito importante, afinal, chegar prontamente a um centro especializado, significa um considerável aumento na expectativa de vida, diminuição das sequelas nos pacientes e, consequentemente, um menor número de pessoas com incapacidade física, comprometimento cognitivo e demências cerebrais.

Seis horas

A especialista explica que o acidente vascular cerebral caracteriza-se por uma lesão irreversível, causada pela interrupção do fluxo de sangue decorrente do entupimento ou rompimento de vasos sanguíneos cerebrais.

Independente do tipo de lesão e do tempo que se leva para tratá-la, o AVC provoca a morte dos neurônios e células cerebrais, que são responsáveis pelas funções motoras, sensitivas, de equilíbrio, de fala e de visão, entre outras.

“O que torna as sequelas mais graves ou leves é a extensão e a complexidade do bloqueio e, claro, o tempo para recuperar o fluxo sanguíneo”, esclarece a neurologista.

Dados recentes da Academia Americana de Neurologia revelam que a maioria das pessoas que sofre um AVC demora, em média, 12 horas para chegar ao hospital. Para uma lesão como essa tal demora representa muitas perdas.

No Brasil, apenas 30% dos pacientes são levados a um hospital em até seis horas após a ocorrência da lesão, o que inviabiliza que os neurologistas adotem as diretrizes de tratamento com trombolíticos (medicamentos que dissolvem os trombos ou coágulos). “Esses medicamentos só surtem efeito quando utilizados em até quatro horas e meia após o início dos sintomas”, alerta Viviane, Zétola.

Estrutura hospitalar

Ricardo Gomes teve um pronto-atendimento, o que é vital para o sucesso terapêutico e redução de sequelas. Além disso, a médica afirma ser importante o acesso a uma estrutura hospitalar que possibilite exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética.

Também deve possuir uma unidade de atendimento especializado, como UTI neurológica ou UTI vascular. Apesar do caráter súbito da lesão, a boa notícia é que o AVC possui prevenção.

“É importante as pessoas saberem que a maioria dos fatores de risco, que predispõem ao aparecimento da doença podem ser detectados, controlados e até evitados”, afirma a médica.

Dentre os distúrbios que precisam de controle estão a hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, consumo de álcool e drogas, estresse e colesterol elevado, entre outros.

“A ocorrência de um infarto ou outros eventos transitórios, serve de alerta”, assegura a especialista. Caso eventos desse tipo ocorram  a pessoa deve procurar o auxílio de um neurologista para que seja feita uma investigação o mais breve possível.

Entenda o AVC

O acidente vascular cerebral (AVC) decorre da insuficiência no fluxo sanguíneo em uma determinada área do cérebro. Essa falta ou restrição no fornecimento de sangue pode provocar lesão ou morte celular, além de danos nas funções neurológicas.

Quando originado por obstrução de vasos sanguíneos é classificado como isquêmico, quando é resultado por uma ruptura do vaso, como no caso do treinador Ricardo Gomes, caracteriza-se como hemorrágico.

O isquêmico é responsável por 80% dos casos. Esse entupimento dos vasos cerebrais pode ocorrer devido a uma trombose (formação de placas em uma artéria principal do cérebro) ou embolia (quando uma placa de gordura segue pela rede sanguínea chegando aos vasos cerebrais).

O hemorrágico é o rompimento dos vasos sanguíneos que se dá, na maioria das vezes, no interior do cérebro. Como consequência há o aumento da pressão intracraniana, que pode agravar a lesão. É o subtipo mais grave e tem altos índices de mortalidade.

Sintomas mais frequentes

* Fraqueza ou dormência súbita na face, nos braços ou nas pernas, geralmente afetando apenas um dos lados do corpo

* Dificuldade súbita na fala

* Falta de compreensão nos diálogos

* Perdas momentâneas da visão

* Dificuldade em caminhar

* Perda súbita de equilíbrio ou de coordenação

* Dor de cabeça súbita, intensa e sem nenhuma causa aparente

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