Autonomia comprometida por problemas com a visão

Perceber as cores, ver os objetos com nitidez, ler um livro. Atitudes cotidianas e simples para quem enxerga bem, mas os idosos que foram perdendo a visão essas atividades podem significar um grande esforço.

Apesar de, no Brasil, pessoas com 60 anos de idade ou mais responderem por até 90% do rendimento mensal de mais da metade das famílias, segundo o último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), muitas delas vivem sem a plenitude da sua qualidade de vida, devido aos problemas de saúde ocular.

A catarata, por exemplo, doença que torna o cristalino opaco em decorrência do envelhecimento compromete a visão de mais da metade dos idosos com idade entre 60 e 78 anos, no entanto só dois em cada 10 brasileiros nesta faixa etária já passaram por uma cirurgia, a única forma de eliminar o problema e evitar a perda total da visão. O mais alarmante é que 70% deles apresentam um ou mais fatores de risco para a saúde ocular: histórico familiar, medicação contínua e hipertensão.

Prevenção primária

Estas são constatações de um estudo inédito feito com 223 pacientes pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, com o objetivo de apontar orientações que reduzam a cegueira no País.

O médico afirma que o maior desafio da saúde ocular na terceira idade é a falta de prevenção primária. Isso porque, só 36% fazem exame de vista anualmente e os fatores de risco a que estão expostos podem causar complicações oculares que sem assistência médica provocam a perda da visão, alerta.

Conforme Tatiana Flores Ferreira, oftalmologista do Hospital Nossa Senhora das Graças, dois em cada três casos de cegueira poderiam ser evitados se houvesse a descoberta do problema em seu estágio inicial.

“O diagnóstico e a utilização imediata das modernas técnicas de tratamento existentes podem evitar complicações, que acarretam danos definitivos à visão”, garante.

No estudo consta que das doenças familiares mais freqüentes mencionadas pelos participantes, o diabetes e o glaucoma foram citados por 16% e 7% respectivamente. Esses índices são ainda maiores do que a prevalência geral na população que é de 12% e 2%.

“É porque a incidência cresce quanto maior a idade”, explica Queiroz Neto. Para diminuir esse quadro, quem tem diabéticos ou portadores de glaucoma na família deve fazer exame de vista anualmente a partir dos 40 anos. Também deve manter o controle de glicemia no caso de diabetes. De acordo com Tatiana Ferreira, isso se deve a herança genética que predispõe a estas doenças, metade dos brasileiros.

A estimativa é de que o aumento do açúcar no sangue e a redução da insulina fazem com que entre 30% e 45% dos diabéticos tenham algum grau de retinopatia diabética – crescimento de vasos na retina e hemorragia – que é tratada com laser.

Hipertensão

Por sua vez, o glaucoma não apresenta sintomas e a redução do campo visual só é percebida quando mais de 40% dos prolongamentos do nervo óptico já foram inutilizados. Pacientes com altos graus de miopia, diabéticos e quem já sofreu traumas oculares também fazem parte do grupo de risco. De acordo com os especialistas, a única forma de evitar a perda irreversível da visão é o uso ininterrupto de colírios antiglaucomatosos.

Já o uso prolongado de corticóides, conforme Queiroz Neto, pode causar catarata e glaucoma. Por isso, ele diz que é necessário fazer exames de vista a cada seis meses, já que em estágio inicial tanto o glaucoma como a catarata são assintomáticos.

Outro fator de risco, inclusive de maior incidência é a hipertensão arterial (pressão alta), citada por 32% dos participantes do estudo. A doença pode causar sérias complicações na retina. “Inclusive nos casos de aumento súbito da pressão arterial podem ocorrer hemorragia dentro do olho e descolamento da retina”, comenta o especialista.

Já foi comprovado que os brasileiros não controlam a pressão arterial e muit,os têm o habito de abusar do uso de sal nas refeições, atrapalhando o controle. Quem convive por anos com a hipertensão pode apresentar estreitamento dos vasos retinianos causado pelo comprometimento da circulação ocular.

Além da moderação no consumo de sal, as principais dicas para controlar a pressão arterial é controlar o peso, praticar atividades físicas, evitar alimentos gordurosos e aumentar o consumo de potássio encontrado, por exemplo, na banana.

Refração atinge mais da metade dos idosos

O estudo do médico Queiroz Neto mostrou que 64% das pessoas com faixa etária de 60 a 78 anos têm vícios de refração, quando não se consegue formar sobre a retina a imagem nítida dos objetos. A miopia (dificuldade de enxergar de longe) atinge 39%.

Outros 17% têm astigmatismo (falta de foco para perto e longe) e 8% hipermetropia (dificuldade de enxergar de perto). Os vícios de refração associados afetam 23% e a presbiopia (popular vista cansada 96%). Significa que praticamente quase a totalidade das pessoas com mais de 50 anos depende de óculos no dia-a-dia.

A pesquisa também indicou que quase a metade dos idosos acredita que a vida é melhor sem o uso de óculos. Outros 22% estão decididos a abandonar as armações e 17% ainda pensam que a idade é um impedimento para se livrar das lentes oftálmicas.

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