Todo medicamento em grande quantidade é veneno. Todo veneno em pequena quantidade é um medicamento. Para a farmacêutica Vânia Regina de Sá, essa frase tem muito de verdadeira. Ela serve para chamar a atenção para os perigos da automedicação, uma prática comum entre os brasileiros, que ainda acreditam que o uso indiscriminado de medicamento não faz mal à saúde. ?Não existe remédio inocente. Inocente é a pessoa pensar desse jeito?, avalia, em consonância com a maioria dos especialistas na área.

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O uso indiscriminado de medicamentos também é motivo de preocupação para as autoridades de vários países. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o percentual de internações hospitalares provocadas por reações adversas a medicamentos ultrapassa 10%. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), os medicamentos ocupam o primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicações em seres humanos. Somente em 2002, segundo o sistema, os medicamentos provocaram 26,9% do total de intoxicações registradas no País.

Vânia Sá explica que a reação do medicamento em cada pessoa é diferente e tomar um medicamento que deu resultado com uma pessoa não é o mais indicado, pois pode provocar efeitos colaterais. Ao fazer uso de um medicamento sem orientação médica, o paciente, às vezes, consegue eliminar algum sintoma, mas não a causa da doença. ?Isso pode se tornar um risco, pois pode mascarar alguma doença mais grave?, esclarece a farmacêutica.

Efeitos colaterais

O consumo indiscriminado de medicamentos oferece outros perigos, pois em geral, esses produtos são capazes de provocar efeitos colaterais.  ?Quando o paciente recebe atendimento médico ou assistência farmacêutica, é informado sobre os riscos?, explica Dirceu Raposo de Mello, diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. As interações medicamentosas (combinação de medicamentos) trazem ainda mais danos para o organismo. ?Um remédio pode anular o outro ou potencializar um efeito colateral?, exemplifica.

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Para Mello, o consumo indiscriminado de medicamentos tem ligação direta com a prescrição e a venda irregulares. ?Parcela significativa dos pacientes não utiliza o medicamento corretamente?, reconhece. Uma das medidas do Ministério da Saúde que ajuda no combate à automedicação é o fracionamento, permitido desde 2005. O paciente leva para casa apenas a quantidade necessária para seu tratamento. Segundo a Anvisa, a venda fracionada reduz os riscos de intoxicação. Com a sobra de medicamentos, muitas pessoas acabam intoxicadas pela ingestão de um produto vencido ou inadequado.

Reações adversas

Os médicos alertam que, sem o conhecimento das causas da doença, a administração por conta própria de remédios corre o risco de causar, até mesmo, a morte do paciente. Um exemplo que pode ser citado é a dengue. O paciente infectado não deve tomar nenhum remédio que contenha ácido acetilsalicílico, pois corre o risco de morrer. Além disso, uma pessoa que toma antiinflamatórios pode apresentar uma série de reações com probabilidades de serem fatais.

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Vânia Sá acrescenta que isso não significa que todo medicamento tenha que ser prescrito, mas o melhor é evitar maiores problemas. A pessoa que tem uma dor de cabeça, por exemplo, e habitualmente toma um analgésico, apresentará problemas se insistir por muito tempo na automedicação, que é feita até mesmo ao sentir qualquer outro tipo de dor. ?Se a medicação for feita uma vez por ano, tudo bem. Mas se torna problema quando o remédio é tomado freqüentemente, para qualquer tipo de dor?, observa.

Propaganda de remédio é monitorada

Segundo as autoridades em saúde, a propaganda causa grande motivação no uso irracional e prejudicial de medicamentos. De acordo com dados do Projeto de Monitoração de Propaganda da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, cerca de 90% desses comerciais apresentam algum tipo de irregularidade. A situação é mais alarmante na publicidade direcionada a médicos e farmacêuticos. Quinze por cento de 1,5 mil propagandas de medicamentos de venda sob prescrição analisadas pela Anvisa não apresentavam cuidados e advertências, 14% não alertavam sobre as contra-indicações e mais de 10% continham afirmações sem comprovação de estudos científicos.

Uma das ações da Anvisa para melhorar a qualidade das propagandas de medicamentos é o Projeto de Monitoração de Propaganda, resultado de um convênio da agência com 19 universidades de todo o País cujo objetivo é monitorar diferentes veículos de comunicação. Até o fim do ano, a Anvisa pretende lançar uma série de filmes sobre o uso e aquisição de medicamentos e riscos da automedicação.

Cuidados com o uso de medicamentos

* Quando você achar que tem algum problema de saúde, procure um médico.

* Evite recomendações de vizinhos, amigos, parentes ou mesmo de balconistas de farmácias ou drogarias.

* Não confunda o balconista da farmácia com o farmacêutico.

* Na consulta, informe ao médico se você já utiliza algum medicamento e se faz uso freqüente de bebidas alcoólicas.

* No momento de adquirir medicamentos de venda livre – produtos considerados de baixo risco para tratar males menores e recorrentes, como dor de cabeça – procure orientações do farmacêutico.