Guilherme começou a freqüentar a escolinha cedo. Para ele, isso não fazia a menor diferença. O menino não ficava alegre em ir encontrar os amiguinhos nem se recusava a ir, chorando nos braços dos pais. Na escola, não atendia quando era chamado nem brincava com as outras crianças. Por outro lado, parecia entender o significado das palavras e era carinhoso com as tias. Os pais e os professores começaram a perceber que ele era diferente. Depois de consultas a vários profissionais de saúde, ele foi diagnosticado como autista. Hoje, aos seis anos de idade, está aprendendo a ler e a escrever, mas ainda não se comunica adequadamente.
Falta de resposta ao contato com outros seres humanos, deficiências no desenvolvimento da linguagem e respostas anormais perante estímulos do meio ambiente são as características do autismo, um distúrbio cuja ocorrência, segundo a Associação Americana de Autismo, é de vinte casos para cada 10 mil nascimentos. Há maior incidência na população masculina.
Dentre as características que apresentam, os autistas evitam olhar nos olhos e não gostam de abraços, preferindo ficar sozinhos. Resistem às mudanças e repetem continuamente certos atos e rituais. Não sentem dor e não têm noção de perigo. O neurologista Sérgio Antoniuk afirma que o autismo é decorrente de alguma disfunção neurológica que pode ser desencadeada por fatores emocionais. ?Muitas vezes as causas não são encontradas, em outras estão associadas a lesões neurológicas causadas por fatores pré-natais, como, por exemplo, rubéola, toxoplasmose ou síndromes genéticas?, admite.
Sem cura
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É necessária a utilização contínua de remédios para controle do comportamento e das convulsões, conforme o caso. Os medicamentos são caros (entre R$ 200,00 e R$ 500,00 por mês). Os tratamentos podem custar mais de R$ 5 mil por mês. |
Só há uma certeza quanto ao prognóstico: os sintomas geralmente persistem ao longo da vida toda. As crianças autistas não são afetadas da mesma maneira: 15% conseguem ter vida considerada normal pela sociedade. Para o psiquiatra Gustavo Dória, quanto mais precocemente o autismo é diagnosticado mais possibilidades para definir um tratamento adequado. ?Em alguns casos, já no primeiro ano de vida conseguimos perceber a incidência da doença. Algumas vezes no sorriso, outras no olhar da criança?, explica. O atraso no desenvolvimento verbal e não verbal são os sintomas principais.
Não se pode falar em cura para o distúrbio. ?O autista pode ser tratado e desenvolver suas habilidades de uma forma até intensiva, mas sempre existirão dificuldades, principalmente nas áreas de comunicação e interação social?, diz o psiquiatra. Muitos centros especializados dispõem de tratamentos pedagógicos que, além de fortalecer o potencial de cada criança, apresentam um atendimento familiar para auxiliar no entendimento da doença e a melhor forma de conviver com ela.
Integração e cidadania
Segundo Sérgio Antoniuk, os exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética não diagnosticam a doença. ?Podem evidenciar sinais indiretos de comprometimento cerebral, como atrofias ou lesões que possam ter causado o distúrbio?, diz. Ele lembra, ainda, que o autismo apresenta vários graus. Desde uma criança que não consegue se expressar até aquelas que acompanham normalmente as atividades escolares. ?O uso de medicamentos ajuda no controle de alguns sintomas, entre eles a hiperatividade, agressividade, distúrbios do sono e convulsões?, explica.
A possibilidade de o indivíduo autista desenvolver comunicação verbal, integração social, alfabetização e outras habilidades dependerá da intensidade e adaptação ao tratamento. Por isso, as associações de apoio ao autista entendem que superar a barreira que isola o indivíduo autista do ?nosso mundo? não é um trabalho impossível. Apesar de manter suas dificuldades, o autista, dependendo do grau de comprometimento, pode aprender padrões ?normais? de comportamento, exercitar sua cidadania, adquirir conhecimento e integrar-se de maneira satisfatória à sociedade.
Características comuns da criança autista
* Tem dificuldade em estabelecer contato com os olhos.
* Mesmo não sendo, pode parecer surda.
* Pode começar a desenvolver a linguagem, mas repentinamente a interrompe.
* Age como se não tomasse conhecimento do que acontece com os outros.
* Por vezes, ataca e fere outras pessoas, mesmo que não existam motivos para isso.
* Rejeita as tentativas de comunicação das outras pessoas.
* Não explora o ambiente, restringindo-se a espaços reduzidos.
* Apresenta certos gestos repetitivos e imotivados, como balançar as mãos ou balançar-se.
* Mostra-se insensível aos ferimentos, podendo inclusive ferir-se intencionalmente.
