O edentulismo (ausência total de dentes) não tem relação alguma com a idade nem é conseqüência do envelhecimento como muitas pessoas acreditam. Uma pesquisa realizada pelo professor Marco Aurélio Peres, e equipe, da Universidade Federal de Santa Catarina estimou a prevalência de perdas dentárias em adultos de 35 a 44 anos, investigando associações deste agravo com condições demográficas, socioeconômicas e com utilização de serviços odontológicos. O estudo envolvendo adultos com idade entre 35 e 44 anos, apontou que 9% deles, principalmente mulheres, residentes na zona rural, pobres e com menor escolaridade sofrem do problema.
De acordo com a cirurgiã- dentista Kátia Maria Martins Veloso, é curioso observar que, todas as vezes que se relaciona dentição com a idade, a maioria da população associa imediatamente a velhice com a falta de dentes. Tal fato se propagou de tal maneira que se torna difícil desmistificá-lo. Conforme a especialista, a perda de dentes se relaciona com a precariedade da saúde bucal, traumatismos, doenças como a cárie e a doença periodontal, dentre outros fatores. ?Portanto, indivíduos livres desses fatores conservarão por mais tempo seus dentes naturais independente da sua faixa etária?, constata.
Danos psicológicos
O estudo da universidade catarinense confirmou que o edentulismo é um dos piores agravos à saúde bucal. As perdas dentárias constituem-se em uma marca da desigualdade social. Ao diminuir a capacidade mastigatória, a falta de dentes também dificulta e limita o consumo de diversos alimentos. ?Como conseqüência direta, a pessoa passa a ter problemas de fonação que causam danos estéticos que, por sua vez, podem originar alterações psicológicas e contribuir para a redução da qualidade de vida das mesmas?, adverte.
Como causas da perda dentária foram explicitadas a falta de conhecimento dos meios para a manutenção dos dentes, a dificuldade de acesso aos serviços de atenção à saúde bucal, a falta de recursos financeiros para o tratamento necessário, algumas experiências vivenciadas e, até, o medo da dor. A maior parte dos entrevistados apontou como principal causa da perda dentária a falta de informação sobre cuidados com a boca e a dificuldade de acesso a serviços de saúde bucal.
Flúor na infância
Os traumatismos dentários e as doenças periodontais também contribuem para essas perdas, porém, em menor grau. O índice de dentes cariados, perdidos ou obturados encontrados na pesquisa também foi elevado (20,44%). Usuários do serviço público e aqueles que consultaram dentista há mais tempo também apresentaram maior prevalência de edentulismo. Apesar do importante declínio da cárie dentária e, conseqüentemente, de perdas dentárias dela decorrentes em crianças, registrado nas últimas duas décadas no Brasil, este fenômeno não é verificado entre os adultos. ?Isso é previsível, pois a população investigada neste estudo não foi exposta aos benefícios do flúor em todo o curso da vida?, reconhecem os especialistas.
De acordo com os pesquisadores, o estudo demonstra a necessidade de uma reorientação do serviço público odontológico, visando à prevenção e novas perdas dentárias na população adulta através de políticas públicas de saúde e prevenção voltadas especificamente para esta população. ?Existe, ainda, a real necessidade de reabilitar os danos já instalados da maneira mais equânime possível com a implantação de serviços de próteses. Também se tornam imperativas políticas de inclusão social, visto que os brasileiros têm na boca um retrato claro das desigualdades existentes no conjunto da sociedade brasileira?, ressaltam os pesquisadores.
Desdentados
A Pesquisa Mundial de Saúde, projeto desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 71 países, mostra que 14,4% dos brasileiros já perderam todos os dentes. Levando em conta que o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) estima em 179 milhões a população atual no País, isso significa que aproximadamente 26 milhões de brasileiros já não têm mais nenhum dente natural.
Raio-X
Dados de uma pesquisa coordenada pela OMS, em 2006, sobre o perfil da saúde bucal dos brasileiros, mostra os índices da população sem dentição completa.
IDADE %
18 a 34 anos 2,3%
35 a 49 anos 8,2%
50 anos ou mais 37,8%
Total – perderam todos os dentes 14,4%
