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Hanseníase é doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que afeta principalmente a pele e o Sistema Nervoso periférico. Esta enfermidade afeta a população de 91 países. Atrás apenas da Índia, o Brasil possui cerca de 78 mil casos registrados e outros 41 mil surgem a cada ano (Organização Mundial da Saúde – OMS, 2001). São 4,5 casos por 10 mil habitantes, o que torna a doença um problema de saúde pública, de acordo com a OMS.

Os sintomas incluem o surgimento de lesões de pele com perda de sensação de dor nas áreas afetadas e lesões permanentes dos nervos que evoluem para graves deformidades, tais como a perda de dedos, pés, mãos, orelhas e nariz. A hanseníase é uma doença 100% curável. O tratamento é inteiramente eficaz. Quem é afetado pela doença deve: 1.º – Procurar o posto de saúde. O remédio é distribuído gratuitamente para toda a população mundial. 2.º – Não deixar que o estigma da doença afete a vontade e a necessidade de procurar o médico. 3.º – Seguir a risca a orientação médica.

Um dos mais intrigantes aspectos na pesquisa sobre hanseníase é que, apesar de a doença ser totalmente curável, cerca de 700 mil casos surgem no mundo a cada ano. Como o ser humano é o único reservatório natural conhecido para o bacilo da hanseníase, a origem deste novos casos é desconhecida. Um dos aspectos do trabalho que estamos desenvolvendo no Canadá é a descoberta de que existe um gene que determina o grau de suscetibilidade do ser humano à infeção e outro grupo de genes que controlam a progressão clínica da doença.

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A localização do gene que torna a pessoa suscetível à lepra vai ajudar principalmente populações de países mais pobres. Esta descoberta permite criar a hipótese de que as pessoas portadoras da variação genética possam estar sujeitas à infecção, mas não ao desenvolvimento clínico da doença. Essas pessoas poderiam atuar como “carreadores sadios” da bactéria e quando em contato com pessoas portadoras de outras variações genéticas que as tornam suscetíveis aos desenvolvimento das formas clínicas mais graves da doença mediariam a transmissão e determinariam o surgimento de novo caso. Nosso trabalho permite ainda a identificação, por meio de testes genéticos relativamente simples e baratos, destes “carreadores sadios”, abrindo-se uma possibilidade inédita para o controle da transmissão da doença, cujos mecanismos ainda são desconhecidos.

A título de tratamento, por enquanto não há necessidade de mudar o que vem sendo feito. O que acontecerá no futuro é a possibilidade de se desenhar uma vacina, para tornar resistentes as pessoas suscetíveis à doença.

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Conseguimos afinar as possibilidades a um local específico do genoma. Sabemos onde reside a questão com precisão de dados. O gene está cercado. Em outras palavras, encontramos e identificamos o fugitivo. Falta prendê-lo e exigir que confesse a fuga. Isso pode acontecer nos próximos meses ou até levar 10 anos. Pessoalmente, acredito que será possível identificar esse defeito genético em pouco tempo.

Sempre tive interesse em trabalhar e pesquisar doenças infecto-contagiosas. O Brasil precisa muito desta modalidade de pesquisa. A sensação de encontrar o gene é indescritível. Sente-se como alguém que encontrou uma mina de ouro numa montanha infinita. É trabalho metódico, caro e gratificante. Tenho a intenção de retornar à PUC PR até o final deste ano e aplicar os conhecimentos adquiridos em favor da população.

Marcelo Távora Mira é professor de pós-graduação em Ciência da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes.