Nos primeiros anos de vida dos filhos é comum escutar dos pais a reclamação de que os pequenos não se alimentam bem.
São aquelas crianças, geralmente entre um e cinco anos, que começam a apresentar menor interesse pela comida e frequentes oscilações na preferência e aceitação dos alimentos.
Para reconhece-los, os especialistas em nutrição costumam identifica-los como “comedores seletivos”.
Essas crianças têm um comportamento alimentar que pode variar de excluir determinados grupos de alimentos, como verduras, legumes ou peixe, por exemplo; a pular refeições; ou, simplesmente, comer muito pouco.
Na maioria das vezes, a criança aceita somente um modo de apresentação e preparo dos alimentos ou gasta muito tempo para se alimentar – as crianças que não comem bem levam em média 23 minutos para completar a refeição, enquanto o tempo gasto pelas outras crianças é de aproximadamente 19 minutos.
De acordo com os especialistas, 50% das crianças podem ser identificadas como “comedores seletivos”. Entretanto, para os pais, não é simples lidar com esse problema. Cabe à nutricionista ou ao médico, na maioria das vezes o pediatra, ajudar a identificar tal comportamento.
O importante é buscar a orientação profissional. De acordo com os médicos, diversos motivos impulsionam a criança a assumir essa postura diante da comida. Entre as influências comuns nessa fase da vida, estão a desaceleração do crescimento a partir de um ano, que tem como consequência a diminuição do apetite; a capacidade gástrica limitada, isto é, crianças pequenas têm estômagos pequenos; e a troca da dentição, que pode causar desconforto na hora de mastigar.
Orientações nutricionais
Por outro lado, influências externas também podem determinar um comportamento repulsivo pelos alimentos – os hábitos da própria família têm enorme peso nas decisões da criança.
Além disso, o momento da refeição acaba sendo usado como uma maneira de chamar a atenção, de mostrar capacidade de decidir por si e até mesmo negociar com os pais.
“A refeição é um campo de batalha natural para a criança, a primeira oportunidade de experimentar independência”, analisa o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Se o grau de dificuldade alimentar da criança chega a interferir substancialmente em sua socialização e desenvolvimento, é necessária uma intervenção. Por outro lado, a criança com essas características não desenvolve doenças orgânicas e sim carências nutricionais – como deficiência de ferro, cálcio e vitaminas do complexo B.
“Tudo depende da percepção dos pais. Reações negativas como chorar, cuspir ou até vomitar diante de novos alimentos, lapsos de atenção e concentração, variações de peso e apatia são sinais de alerta para os pais”, explica Fisberg.
O tratamento oferecido deve incluir orientações nutricionais, comportamentais e psicológicas, não só para a criança, mas também para os pais e irmãos. “As divergências na hora da comida causam ruídos no relacionamento entre pais e filhos e podem até interferir na relação do casal”, pondera o pediatra. Seguir algumas dicas e apostar em complementos ou suplementos nutricionais podem melhorar o aporte nutricional dos pequenos e acalmar os ânimos à mesa.
Mortalidade infantil
Segundo estudo publicado em uma revista científica de nutrição clínica dos Estados Unidos, se todas as crianças tivessem uma dieta adequada, cerca de 2,5 milhões de vidas poderiam ser salvas por ano.
Isso porque doenças que normalmente não são fatais, como a diarréia, podem matar crianças que não se alimentam como deveriam. De acordo com o estudo, a morte de um milhão de crianças por pneumonia, 800 mil por diarréia, 500 mil por malária, e 250 mil por sarampo poderia ser evitada.
Cientistas estimam que 52,5% de tod,as as mortes infantis podem ser atribuídas a uma alimentação deficiente. Cerca de 45% das mortes por sarampo e mais de 60% das mortes por diarréia estariam relacionadas ao baixo peso e à má nutrição.
Os pesquisadores analisaram dados de dez estudos sobre a mortalidade infantil no mundo, e fórmulas complexas foram usadas para estimar o efeito do peso na probabilidade de mortes.
Sem se estressar
* Evitar distração durante a refeição
* Adotar uma atitude neutra diante das rejeições e do mau comportamento à mesa
* Criar uma alimentação que incentive o apetite (vale apostar em pratos bem coloridos, com comidas enfeitadas)
* Limitar a duração das refeições
* Oferecer alimentos adequados a cada idade
* Introduzir novos alimentos sistematicamente
* Incentivar alimentação independente
* Oferecer frutas, verduras e legumes em todas as refeições
* Diminuir a preparação das “comidas favoritas”
* Sentar a criança à mesa com os outros membros da família
* Respeitar períodos de pouco apetite e preferências alimentares
* Oferecer pequenas quantidades de comida para não desencorajar a criança a comer