Para a bancária Maria Helena Batista Cruz, mãe de Camila, a creche não foi uma boa experiência. ?Eu coloquei a minha filha na creche antes de ela completar dois anos. Ela adorava, mas toda hora ficava doente. Não agüentava mais me chamarem para buscá-la com febre, aí resolvi tirá-la?, conta. A menina, hoje com sete anos, só voltou para a ?escolinha? quando estava com três anos e meio de idade. O pediatra Francisco Ferreira afirma que essa realmente é a grande desvantagem das creches. Quanto mais cedo um bebê é deixado em uma, maior a probabilidade de contrair ou desenvolver doenças. Essa afirmativa pode ser constatada nos consultórios dos pediatras ou nos setores de emergência dos hospitais.
Tudo isso porque ao entrarem nas creches com poucos meses de vida e com poucas defesas orgânicas, as crianças ficam expostas aos vírus e bactérias naturais desse ambiente e costumam desenvolver doenças, muitas delas de alguma gravidade. ?Apesar disso, muitas passam vários anos sem ter nada?, lembra o médico. A maior parte dos especialistas, em princípio, é favorável que se coloque a criança numa creche, local onde ela brinca mais. Mas se for o caso de ela apresentar muitas infecções, a ponto de comprometer inclusive o ganho de peso, ?aí a gente recomenda que ela permaneça em casa?, esclarece Ferreira.
Amamentação ajuda
No entender do pediatra Gilberto Pascolat, desde que a mãe tenha condições de cuidar, quanto mais tarde ela deixar seu filho na creche, melhor. ?Principalmente em ambientes fechados, as crianças ficam mais suscetíveis às doenças devido a sua baixa imunidade?, comenta. Para aumentar essa imunidade, o especialista observa que a mãe deve amamentar pelo menos até os seis meses de idade, já que o único alimento que o bebê precisa receber nesse período é o leite materno. Conforme Pascolat, a introdução precoce de outros alimentos aumenta a chance de a criança ter diarréia, infecções respiratórias, em especial a pneumonia, otite média e outros tipos de alergias.
Segundo a pediatra Maria Clara Barbosa, com o fim do período de licença-maternidade e ?atormentada? pelas pressões para que contribua com o orçamento doméstico, os aspectos psicológicos acabam comprometendo o organismo feminino. Dos seis meses aos dois anos de idade, aproximadamente, a criança passa por uma fase conhecida por ansiedade da separação. ?É o processo de individuação, em que ela começa a se reconhecer como pessoa e a identificar os outros?, explica a médica, salientando que, nessa fase, a criança deve ser afastada gradativamente, mas por pouco tempo, da mãe. Segundo a pediatra, quando entra na creche muito cedo, a criança pode ter uma ansiedade da separação mais prolongada e difícil.
Os pais, até hoje, ainda sofrem com o mito da socialização precoce, ou seja, a crença de que a criança que entra na creche cedo tenderia a ser menos mimada e mais social. Para Maria Clara, isso é uma grande bobagem. ?Mesmo uma criança maior, de até dois anos, ainda interage pouco com os outros?, ressalta. Conforme a especialista, depois dessa idade, a creche realmente é interessante pelos estímulos que propicia à socialização. Antes disso, enfatiza a especialista, a criança não precisa de creche, e sim da atenção de uma pessoa que cuide dela e lhe dê carinho.
A creche ideal
* Verifique o número de pessoas que trabalham como babás (atendentes) em relação ao número de bebês que freqüentam o local.
* O bebê precisa de uma pessoa lhe dando atenção quase exclusiva.
* Procure conhecer o perfil das pessoas que vão lidar com seu bebê: veja se elas se mostram pacientes, atenciosas e se gostam de crianças.
* Examine as condições de higiene e instalações da creche.
* Lembre-se que as crianças não podem passar o dia inteiro em um ambiente fechado.
* Escolha uma creche próxima de sua casa.
Licença -maternidade de seis meses
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, defende o aumento da licença- maternidade de 4 para 6 meses, como já acontece em algumas repartições públicas do país, para todas as trabalhadoras. Isso permite o prolongamento da amamentação no seio e que a mãe fique mais tempo com o bebê.
Atualmente há uma redução na qualidade do trabalho da mãe que volta ao trabalho. A nova lei visa incentivar a alimentação da criança feita exclusivamente por leite materno até os seis meses de vida, e até dois anos, compartilhada com outros alimentos. Hoje, a média nacional de amamentação exclusiva é de apenas 38,8 dias, e nove meses de amamentação total.